Batendo como um coração sem rédeas
Senti o frio do areal e segui em caravanas
Atravessando os atalhos da seda
E outros lugares trívios nas rotas dos desertos
Senti o pó e o vento quente
Em trilhos nas ampulhetas das dunas
E segui sem medo das miragens
Em azimutes incertos de astros tremeluzentes
Remarcando os silêncios do cosmos na algidez das noites
Senti as horas alucinadas nas pulsações suspensas
Em tempestades de areia marcando o tempo
E segui itinerante em frente calejando os pés vagabundos
Na distância nómada de roteiros
Em horizontes perdidos nos olhos
Senti a voz em delírio
Antevendo versos bolinados no ar
E segui as imagens esparsas
Das miragens encantatórias do deserto
Multiplicando as palavras dos poemas
E os gestos do magma da escrita
Por todos os oásis que existem na pele
(Poema do livro “Ipsis Verbis”. Ed. “arandis”. Ilustrações de José Maria Oliveira)
Fernando Reis Luís
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa