09 maio 2019

«O retrato» - Áurea Justo

Naquela tarde pediste-me para ir ter contigo
Fiquei feliz pelo pedido e logo acedi,
Quando saí para a rua, chovia torrencialmente
Enfiei o capuz e para ti corri.

Do outro lado da rua encontrei a tua porta e bati
Prontamente foi aberta e imediatamente te vi
O nosso olhar cruzou-se por momentos e vislumbrei
Um brilho fugaz, contudo assaz.

Sorriste dissimuladamente, preparavas algo
Olhei ao meu redor e de repente vi,
Lá estava um ramo de flores amarelas e vermelhas,
Vermelhas e amarelas era o seu tom, sorriram- me com malícia.

Delicadamente pediste para eu me despir
Eu acedi.
Querias fotografar-me em estado nu, só com as flores,
As flores no meu colo e sorri visualizando a imagem sedutora
A sessão fotográfica deu início
Um relâmpago cruzou os céus
Rasgando-o de cima a baixo carregado de dor...Estremeci...

E assim nessa tarde rabugenta...o retrato...se emocionou...

In Contos Do Invisível

Áurea Justo
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