07 janeiro 2015

a funda são mora na filosofia [VII]



Nota prévia: não sou feminista. E se me encontrarem num daqueles dias em que estou integralmente vestida de preto e com botas de biqueira de aço facilmente vos digo que não sou gótica. Assim como digo aos meus alunos do 1º ciclo: eu não sou professora. Sou Joana, Joana Rita – foram estes os nomes escolhidos pela minha mãe e pelo meu irmão para me registarem.

O motivo para nunca ter abraçado o feminismo relaciona-se com o facto de considerar que as mulheres são diferentes dos homens – e de me regozijar com essa diferença. Diferença que deve ser, a meu ver, preservada pela eternidade fora. O mais fantástico disto tudo é que – espantem-se! – há mulheres muito diferentes entre si; ainda que tenham em comum o facto de terem trompa de falópio e seios, há muito que as diferencia. Umas gostam de usar batom vermelho, outras preferem nunca se maquilhar. Há mulheres que escolhem ser mães e ficam em casa, outras nem querem ouvir falar em ter filhos. E os homens? Conheço homens que têm mais produtos de beleza no armário do wc do que eu; outros nem sequer usam um hidratante quando fazem uma tatuagem por receio de perderem a masculinidade.

A sociedade passou anos e anos e anos a tentar normalizar tudo para que fosse mais fácil, não sei, existir? Sim, dá-nos jeito que haja tamanhos de roupa normalizados – mas todos sabemos como um fato à medida é que nos enche... as medidas! E o gosto! Tudo foi normalizado, codificado, categorizado, arrumado em gavetas, etiquetado. De vez em quando a natureza prega-nos partidas e quebra essa normalidade. Mais um exemplo: as doenças raras, com sintomas díspares de pessoa para pessoa e que tornam difícil de “etiquetar” e de investigar. Outro exemplo da saúde: confrontada com um problema que provoca a produção de insulina em excesso, o endocrinologista diz “sabe como é, não há assim tanta gente com este problema que justifique investigar e arranjar soluções. Aprenda a viver com isto.”

Resultado: vive-se uma espécie de ditadura da igualdade perante a qual dizer: “desculpe, mas eu acho que somos mesmo todos diferentes” é sinónimo de dizer “eu sou a favor da desigualdade”. E não é.

Defender a diferença é fundamental para mantermos a riqueza daquilo que nos torna seres humanos, cada um de nós único e irrepetível.

Calma, calma. Não ignoro que as mulheres tenham sido – e sejam ainda – discriminadas em várias áreas da sociedade, só pelo facto de serem mulheres. O rótulo “mulher” revelou-se um obstáculo para que muitas pessoas (humanas) pudessem ascender a cargos de direcção ou gestão, por exemplo. O que sinto é que ser mulher também não pode ser uma garantia de qualidade para o que quer que seja – e o contrário para os homens.

Quando leio sobre aquilo que se faz em nome do feminismo, gosto de pensar que estas batalhas que se travam têm um alcance maior: a defesa dos direitos das pessoas humanas (sim, esta é uma expressão que eu uso amiúde e com convicção). Contem comigo.