16 julho 2018

SKYN - «Protege a tua intimidade»

Trilogia de contos (1/3) - «A amante do Celestino» - Quito Pereira

O Celestino nasceu no Porto, lá para os lados da Areosa. Era empreiteiro da construção civil e bem - sucedido na vida. Tinha uma vivenda na Avenida da Boavista, com um relvado cheio de candeeiros, que abria de noite e que mais parecia a gare de um aeroporto. Também um lago, onde a estátua de um anjinho com uma bilha às costas, debitava água para um lago, onde nadavam pacificamente alguns peixes coloridos.
A mulher do Celestino era a Ivone, que por muitos anos vendeu peixe no Mercado do Bolhão. Era frontal e quando furiosa, desatinava na sua veia portista e até o São Pedro fechava as Portas do Céu, para não ter que ouvir a lírica da zaragata. Um dia, chegou-lhe aos ouvidos que o Celestino tinha uma amante e foi o fim. Lá em casa, atirou com uma jarra de flores contra um quadro de Gioconda adquirido numa feira em Santo Tirso, deu dois pontapés na mesa estilo Luís XV que comprou numa promoção num armazém de Rio Tinto e, de dedo em riste, fuzilou-o com o seu sotaque nortenho:
- Meu grande sonso, ando eu aqui feita escrava a trabalhar, para tu andares por aí com uma pindérica … ah mas isto não fica assim, que eu quando a bir, eu bou-me a ela e enfio -lhe com um chicharro de quilo e meio nas trombas …
O Celestino, apanhado de surpresa, não vacilou e ripostou:
- Ó mulher, tu és mesmo burra, então um homem com o meu estatuto, com um Mercedes topo de gama, a construir seis prédios na avenida principal de Matosinhos, não havia de ter uma amante, tu não percebes mesmo nada das regras da etiqueta, olha que o nosso vizinho Felisberto, que é homem de grandes negócios aqui no Porto, também tem uma amante …
A Ivone amansou, a matutar nos argumentos do Celestino, mas com a sua curiosidade feminina, não descansou enquanto não soube quem era a concorrente. E um dia, viu-a ao longe, mirou-a, remirou- a, mas sem se aproximar regressou a casa.
Numa tarde de verão, quando a Ivone descia uma rua da Invicta, deu de caras com o vizinho Felisberto de braço dado com a amante. Fez que não o viu, mas olhou bem e com espírito crítico a companheira do Felisberto e à noite, quando o Celestino chegou a casa, deu-lhe um beijo apaixonado e exclamou entusiasmada:
- Celestino, estás de parabéns, olha que a nossa amante é muito mais gira que a do Felisberto!

Quito Pereira
Blog Encontro de Gerações

Cão em praia de nudistas


Franck L. (nascido em 1944)

15 julho 2018

«Talvez a morte seja apenas um vidro entre nós» - bagaço amarelo


"Quero estar sempre perto de ti", disse ela. Depois tocou-me com a ponta dos dedos. Nesse preciso momento, do outro lado da rua, uma criança caiu enquanto corria e começou a chorar, um homem pequeno e magro discutia em árabe ao telemóvel e um automóvel estacionou a uns cinco metros de distância de mim.
Apeteceu-me correr para a criança e abraçá-la. Ficar perto dela enquanto a dor da queda lhe permanecesse latejante na carne e na alma, mas o pai antecipou-se.
Fiquei a pensar no que raio será isso de estar perto de alguém. E se a S. estivesse perto de mim a vida toda mas com um vidro a separar-nos? Continuaríamos perto, mas os nossos dedos não se poderiam tocar de novo. Estaríamos suficientemente perto?
O homem pequeno e magro está a discutir com alguém que está longe, mas pela intensidade da voz percebo que é uma discussão olhos nos olhos entre duas pessoas que não se podem ver. Não sei árabe, mas por qualquer motivo adivinho que falam de Amor, talvez entre dois corpos que se apaixonaram no passado e agora não sabem como enfrentar uma vida onde o Amor se esvaiu como se evapora a água da chuva: devagar e sem que ninguém dê conta.
Toco de novo a S. com a ponta dos dedos. O forte calor que se faz sentir em Inglaterra faz-nos suar pelo simples facto de estarmos na rua. O suor é, apesar da vontade de estarmos juntos, a maior prova de que estamos vivos. É sempre a carne que demonstra vida. Não a alma.
A M. partiu, disseram-me. Morreu, para estar mais perto da verdade. Estou triste e mergulhado em mim. Talvez seja apenas isso, penso: deixou de poder suar em dias de Verão como este.
A S. pergunta-me se estou bem. Que sim, respondo.
A criança já deixou de chorar e está ao colo do pai. O homem que discutia em árabe ao telefone calou-se e desapareceu na primeira curva da rua. Uma mulher sai do carro e caminha na minha direcção. Entendo apenas à segunda que me está a perguntar se o museu da Indústria fica perto. Que sim, respondo. Indico-lhe a direcção.
Talvez a morte seja apenas um vidro entre nós. Continuamos perto mas sem nos tocarmos na ponta dos dedos. Se for assim, fica bem!

À MAV. Até sempre!


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Contigo até ao inferno

Eu e a minha consciência, juntas até ao inferno.
Por imposições sociais, escondo alegrias, escondo desejos e desgostos. Também frustrações.
Haja um sítio onde se fale de bom sexo!

DiciOrdinário - quem leu a primeira edição, adorou

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1 página

14 julho 2018

«existe» - Susana Duarte

existe a mulher,
e existe o homem.

entre eles, a demora
e o abraço suspenso
onde os olhares
não se encontram.

existe a mulher,
e existe o homem.

da sua paixão,
sabem as paredes
que testemunharam
o encontro breve
das mãos.

existe uma mulher,
e existe um homem,
concretos e indefinidos,
incongruentes
como os beijos,
testemunhas
da sua própria morte,

sempre que a mulher,
e o homem,
se fazem algaço
nas praias de um tempo
que não existe.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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«I knew I loved you» - Mário Lima



"... E eu sei que tu sabes!..."

Mário Lima

«Xeque-mate» - por Rui Felício


Peças eróticas e tabuleiro de xadrez
exclusivo da colecção de arte erótica
«a funda São»



Correu pela álea deserta que atravessava em diagonal o imenso jardim.
Ela, de braços abertos, esperava-o lá ao fundo.
Na ânsia do desejo, abraçou-a e gritou:
Xeque-mate!

Antes de tombar, o Rei excomungou o Bispo por ter comido a Rainha...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

13 julho 2018

Postalinho do Caramulo (3/3)

"Na aldeia da Gralheira, na serra do Caramulo, esta fonte é esteticamente bonita vista de qualquer perspectiva."
Paulo M.





«Eu não sou esposa apaixonada para fingir orgasmo!» - Cláudia de Marchi

Eu sou acompanhante de luxo. Sou cortesã. Não me importa se você é milionário, herdeiro ou o que for. Eu trabalho nisso porque gosto e porque valorizo a minha independência emocional e financeira.
Não quero ter marido. Não quero ser sustentada, logo, pra mim de nada adianta ostentar qualquer frivolidade que seja. Quero os meus "honorários" e a minha liberdade após as horas combinadas. Mas, sobretudo, eu quero humor e bom trato durante este tempo.
A sua esposa pode fingir orgasmo para lhe agradar. A sua esposa pode fazer de conta que você é "gostoso" para lhe agradar. Talvez por amor, talvez por paixão, talvez por medo, talvez por falta de amor próprio mesmo. Eu só faço o que gosto e dou continuidade ao que gosto.
Você pode ser o advogado "bambambam", o juiz federal "modinha" ou o mega-empresário: não espere "faz de conta" de mim. Eu tenho um diário, eu tenho um site onde narro todas as minhas experiências. Se você acessar e se ver como incapaz de ser, no mínimo, bom, procure outra!
Se você quer só se satisfazer, não ouse me ligar, ou você vai pagar vinho caro e vai ser dispensado sem dó, porque eu não sou "namastê" para me dar por gratidão ou esmola para me dar por peninha.
Fica o recado!
(Agora com licença que tenho um pernoite com um cliente bom de pegada e inteligente...).

Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!

2003, Torre da Marinha - Ruim

Eu: Mãe, pai... aconteceu uma coisa.
Pai: Estás agarrado à droga? És rapatocha? Engravidaste alguma putéfia? Nesta casa, não sai um e entram três. Diz-me que és paneleiro, por favor. Antes isso.
Mãe: Zé, deixa o miúdo falar. O que é que se passa filho? Tens um namorado?
Eu: EU NÃO SOU HOMOSSEX... f#da-se. Não. Fui apanhado...
Pai: ... a levar no cu. Quem é que viu?
Eu: F#d... Ninguém levou no cu, porra. Fui apanhado pela mãe da minha namorada - repito - namorada.
Pai: Foste apanhado pela mãe da tua namorada a levar no cu?
Mãe: Zé, pára com isso. O moço está a falar a sério. Queres Halibut para pôr no rabo, filho?
Eu: Quantas drogas é que vocês os dois tomaram nos anos 80? Juro. Eu estou aqui a tentar contar algo sério que me aconteceu...
Pai: Tens razão. Teresa, deixa lá o nilas contar o que se passou. Diz, filho.
Eu: A mãe da minha namorada apanhou-nos na cama. Ela entrou em casa, não estávamos à espera. Vestiu-se, disse para eu ficar debaixo dos lençóis e foi à sala tentar distrair a mãe. Depois entrou a minha cunhada e o filho.
Só faltou o senhor da mercearia, o padeiro e o carteiro para aquilo se tornar num sketch. Eu estava aterrorizado. Ouvi passos a virem na minha direcção e agarrei-me com toda a força aos lençóis. Senti uma mão no meu tornozelo, um grito e uma enorme discussão. Ela depois voltou e disse que a mãe queria falar comigo.
Pai: E também queria levar com ele, certo? Ah, grande filho. AHAHAHAHA.
Eu: Não, pai. Disse que era uma casa de respeito e que não admitia aquele tipo de comportamento. Saí a correr cheio de vergonha.
Mãe: ...
Eu: Mãe?
Mãe: Não tenho palavras.
Eu: Mãe, só estou preocupado com ela.
Mãe: Estás a dizer que essa senhora não te deu nada para comer? Tens ali panados e há pão na despensa. Vai lá comer qualquer coisa. Não te quero ao pé dessa gente. Que falta de respeito.

#baseadoemfactosveridicos

Ruim
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