03 março 2015

... Até ti

Tacteio o caminho às escuras, no ponto de partida para um caminho feito incógnita cheia de pontos de interrogação. Avanço com os pés bem assentes no chão, cauteloso. Um passo atrás e dois adiante, como dizem melhor. Desconfiado, receoso pelos inúmeros esconderijos possíveis no meio da escuridão, da ignorância acerca da pretensão de quem surja nos cruzamentos.
A hesitação em todos os momentos abalados na coerência pela força da evidência que o raciocínio inventou, os olhos como bode expiatório inocente por pouco ou nada conseguirem ver assim. Às cegas naquele troço do caminho até um ponto indeterminado, um sonho acordado que se confunde com uma miragem no espaço desconhecido, no tempo desprovido de luz.
A penumbra de uma madrugada prestes a expulsar pelo sol que insiste nascer a cada dia que passa, em passo acelerado e sem vontade abrandar. Deixar o tempo passar e acender um cigarro com o isqueiro que explode num clarão. Sombras desenhadas naquele chão mais tangível, iluminado e por instantes visível enquanto solo firme para pisar. Monstros e fantasmas, assombrações alucinadas pelo efeito devastador de uma qualquer obsessão. Desenhadas as sombras naquele chão, ilustrados os medos patéticos de equívocos hipotéticos que podem até nem existir naquele dia tão prestes a surgir sem pressas. Podem ser fruto de uma relação incestuosa entre a cabeça temerosa e o coração bravio.
Uma vela de curto pavio que se transforma no rastilho para uma explosão de emoções quando o vento que a apaga provém de respirações ofegantes de clandestinos amantes na tela da imaginação.
Em cada descoberta o impacto de uma revelação, mais um troço percorrido a direito rumo a um destino incerto, a travessia do deserto humedecida pelo desejo à solta no som da folhagem agitada no oásis a surgir no horizonte cada vez menos distante na realidade como na percepção.
A surpresa e o encanto quando o sol começa a nascer e o dia não tarda em romper os laços com a madrugada que lhe compete expulsar. A luz que permite desvendar mistérios, os pontos de referência agora visíveis à distância num futuro não planeado à partida para aquela estrada que percorro agora quase a correr…

«serei sempre a sombra antiga das aves» - Susana Duarte

dormirei na ponta dos dedos das noites,
onde as aves caminham por entre névoas
e, soltas as asas da paixão, sucumbem
serenas ao brilho das estrelas. dormirei
por sobre as palavras ciciadas pelos dedos,
e por entre as plúmulas leves dos sonhos.

serei sempre a sombra antiga das aves.

é por isso que me escondo nas palavras
sussurradas por aves antigas, e durmo
nas sombras aladas de velhas cantigas.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Mulher africana a aguardar o duche

Estatueta em bronze assinada por P. Leroux.
Junta-se a outras peças únicas deste autor, na minha colecção.

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02 março 2015

TOOT - roupa interior - «a melhor posição»

«Amarra-me» - João

"Apetece-me deitar-te sobre a cama. Desta vez, sobre a cama, uma cama qualquer. Apetece-me prender-te, amarrar-te os tornozelos, e deles à cama, de barriga para baixo e esse rabo, esse rabo para cima, para mim,

(e tu ias trincar o lábio)

e as tuas pernas abertas, numa submissão forçada por cordas mas consentida. Apetece-me prender o teu cabelo, para poder segurá-lo, puxá-lo enquanto falo ao teu ouvido,

(e tu a gemer)

e prender os teus pulsos, os teus braços acima da cabeça – e só não tos coloco atrás das costas, desta vez, porque me quero colar a ti – que seguro com a minha mão, para te limitar os movimentos, e ao deitar-me sobre ti, aproximo os meus lábios do teu ouvido e pergunto-te se confias em mim

(sim, confio em ti)

e pergunto o que queres que te faça, enquanto te seguro o cabelo com firmeza, naquele limiar que dispensa descrição

(quero sentir-te dentro de mim, entra, entra por favor)

e pergunto se me amas

(sou tão tua, amo-te tanto)

e eu entro em ti, sem esforço, sem resistência, e

(acelera, acelera)

e tu vens-te, uma vez, mais vezes, e eu venho-me em ti, dentro de ti,

(é tão isto)

e aqueço-te com o meu corpo, beijo-te o rosto, os lábios, o pescoço, e

(amarra-me de novo)"


João
Geografia das Curvas

«conversa 2117» - bagaço amarelo

(ao telefone)

Ela - Se não sou eu a ligar-te nem te vejo. Nunca dizes nada...
Eu - Tenho estado doente.
Ela - Desculpas!
Eu - Não são desculpas. Tenho estado mesmo com muita febre e má disposição.
Ela - Muita febre?! Quanta?
Eu - Isso não sei.
Ela - Não sabes?!
Eu - Não.
Ela - Tiveste muita febre e não sabes quanta febre tiveste, é isso?
Eu - É. Como não tenho termómetro em casa, nunca tirei a febre.
Ela - Como é que é possível não teres um termómetro em casa?!
Eu - Não tenho. Não costumo ter febre, então nunca me lembro de comprar um...
Ela - Pois, os homens nunca se lembram das coisas essenciais, a não ser quando precisam delas.
Eu - Não gozes. Já me aconteceu ir jantar a tua casa e não teres um simples saca-rolhas para abrir uma garrafa de vinho.
Ela - Estás a querer comparar um saca-rolhas a um termómetro?
Eu - Estou. Um saca-rolhas é de uso diário, um termómetro nem por isso. É mais grave não ter saca-rolhas em casa.
Ela - É de uso diário para ti. Eu só bebo vinho ao fim de semana.
Eu - E eu só tenho febre uma vez por ano.
Ela - Aposto que vais chegar ao próximo ano sem termómetro.
Eu - É possível. Aposto que vais chegar ao próximo jantar sem saca-rolhas.
Ela - É possível.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Abaixo a tirania!

Crica para veres toda a história
A opressão


1 página

01 março 2015

Let's Rock the 50's


Let's Rock the 50's from Mephisto's Chronicles on Vimeo.

Luís Gaspar lê «Bojudo fradalhão de larga venta» de Bocage


Bojudo fradalhão de larga venta,
abismo imundo de tabaco esturro,
doutor na asneira, na ciência burro,
com barba hirsuta, que no peito assenta:

No púlpito um domingo se apresenta;
prega nas grades espantoso murro;
e acalmado do povo o grão sussurro
o dique das asneiras arrebenta.

Quatro putas mofavam de seus brados
não querendo que gritasse contra as modas
um pecador dos mais desaforados.

“Não (diz uma), tu padre não me engodas;
sempre me há-de lembrar por meus pecados
a noite, em que me deste nove fodas!”

Camilo Pessanha
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Ananga Ranga


Se a sua cara metade (ou barata ou de preço intermédio) passa as horas de trabalho a assediar qualquer colega que mexa ou a gastar muito as vistas no vizinho ou na vizinha, conforme a preferência, não está a precisar de um anti-vírico para a Gripe A mas de Ananga Ranga.

Para não haver equívocos, não se trata da banda lisboeta de jazz rock com o mesmo nome, mas de um manual erótico-sensual do indiano Kalyana Malla, escrito em 1172 ou em 1450, indicado na prevenção da separação de um casal, já que o autor era um acérrimo defensor da monogamia e do investimento em posições diversificadas para evitar a monotonia de anos a fio se manterem os mesmos parceiros.

O livro é também conhecido como Kama Shastra e se repararmos que a palavra Kama se refere à busca do prazer e ao Deus do Amor na mitologia indiana melhor compreendemos que enquanto o seu antecessor Kama Sutra trata de tudo ao molho e fé em deus o Kama Shastra é uma vulgata do anterior para manter a chama acesa em leitos conjugais. Em ambos se explana a divina ideia de que o prazer é um dos aspectos fundamentais para a salvação da alma.

Na impossibilidade de aqui reproduzir o livro e porque nestas matérias conta mais a prática do que a teoria, remeto para um sex-shop online também denominado Kama Shastra que fornece inspiração para a posição do dia com a pertinente indicação das calorias gastas por homens e mulheres na sua execução.


O povo sabe

Sei bem que quando desatam a chorar à minha frente estão a insinuar que me querem mamar no palhaço. É o apogeu do "quem não chora não mama".

Patife
@FF_Patife no Twitter

28 fevereiro 2015

MetaSex


MetaSex from Tutsy Navarathna on Vimeo.

«Subitamente ao acordar» - por Rui Felício


Está em minha casa desde há quinze dias...
Quando acordo e acendo a luz, ela ignora o frio, abre a caixa onde guarda as pinturas e os cremes e começa a maquilhar-se, a pentear-se. Parece que receia que eu a veja descomposta.
Ainda meio ensonado, vejo-a sorrir para mim, entreabrindo aquela boca bonita. Mesmo com este frio, veste-se com uma lingerie finíssima azul celeste, transparente, que me deixa entrever, por baixo, o corpo esbelto, bem desenhado.
Sentada em frente ao espelho da cómoda do quarto, passa o baton vermelho cereja nos lábios, com uma precisão milimétrica.
Com mestria, revira as pestanas e engrossa-as com rímel. Vou correndo o olhar pela pele lisa das suas costas, pela curva côncava da cintura, pelos longos cabelos louros encaracoladas caídos ao longo do corpo.
Ainda deitado na cama, observo-a a pintar as pálpebras com um pó esverdeado que lhe realça os lindos olhos azul marinho.
Lentamente, pega na escova e corre-a pelo cabelo sedoso, demoradamente. De vez em quando, suspira suavemente.
Volta a sorrir-me, deixa-me indeciso...
Mas não! Já estou atrasado.
Levanto-me, visto o roupão e dirijo-me para a casa de banho. Ouço-a desejar-me um bom dia, numa voz gutural que parece vir das suas entranhas.
Não lhe respondo.
E desligo o interruptor daquela linda boneca automática, a pilhas, que são activadas pela luz e que eu comprei para oferecer à minha neta quando ela cá vier.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Mulher a montar (ou a ser montada por) um burro

Cinzeiro em ferro fundido da minha colecção

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«Assalto de secador» - Adão Iturrusgarai


27 fevereiro 2015

A Google reverte a decisão de banir conteúdos sexuais do Blogger


Hoje, soube que o Blogger recuou na decisão de bloquear blogs com conteúdos de nudez e de sexo.
Nem se pode dizer que seja o retorno da sensatez, pois a censura aos blogs de conteúdos eróticos, por parte da Google, já há muito que não mostra estes blogs nos resultados de pesquisas. E isso irá continuar. Mas pelo menos deixei de ter que pensar numa alternativa para o blog «a funda São», que tem mais de 10 anos e de 16.000 posts publicados.

Entretanto, este «alarme» teve um lado muito positivo: saber que não estou sozinha deste lado do blog. As mensagens de apoio foram muitas. E o que me ri ou me fizeram pensar alguns dos vossos comentários. Por exemplo, estes, publicados neste post:

"A Censura é mesmo tristezinha. Já dizia a vizinha Mariquinhas Bufa qu'era de boas famílias mas tinha caído na desgraça por ter casado c'um calvinista: «eles querem desavergonhices só da porta p'ra dentro, que lá fora inté parece qu'acabaram de sair da pia do batismo!»"
João Barreto

"Uma das coisas mais perigosas destes grupelhos de pressão são as «associações» que constantemente fazem e usam para impingirem os seus ódios.
Por exemplo, que quem vê pornografia é pedófilo, é violador, é traficante de mulheres, etc. Argumentos que rotulo de Criminosos por não terem fundamento provado mas que são usados como Verdades indiscutíveis.
Não duvido por um segundo que um pedófilo, um violador ou um traficante veja pornografia. Pois claro que vê. Obviamente que o carácter anónimo da coisa lhe assenta que nem uma luva.
Inverter o sentido às coisas é que é criminoso.
A estes grupelhos não lhes interessa lembrarem-se que a grande maioria desses pedófilos, violadores, traficantes, etc, têm muitas vezes em comum sim mentalidades (e sexualidades) reprimidas ou extremamente condicionadas. Muitas das vezes ainda por "educação religiosa" castradora. Isto não lhes interessa contemplar, é "mito", é desinformação. Pois...
Muita pornografia devem ver então os padres, pois muitos têm sido os casos (a maioria abafados) de padres pedófilos.
Neste momento é a pornografia que gera pedófilos. Ainda há pouco tempo eram os gays que eram pedófilos por natureza...
O mais nojento de tudo isto é que, o grupelho que alega «que os jovens devem é ser preparados para a sexualidade em vez de verem pornografia» (coisa com que concordo DESDE que não seja alegada por esses cretinos) são o MESMO grupelho que constantemente tem vindo a boicotar a educação sexual nas escolas. É exactamente a mesma gentalha."
EmZe

Uma espécie de escuridão


GINGER & THE GHOST - ONE TYPE OF DARK (TA-KU REMIX) MUSIC VIDEO from Prorevolution Films on Vimeo.

É grave, doutor!


Um tuíte que diz "scarlett johansson in a bikini". E eu resisti a clicar no linque.
Amanhã vou marcar uma consulta de urgência.


Sharkinho
@sharkinho no Twitter

«Berlim» - João

"Sempre gostei de viajar pelo motivo mais óbvio, que é o prazer que dá conhecer lugares novos. Com a Raquel aprendi que o melhor de viajar não é conhecer esses lugares, mas sim poder partilhá-los com alguém que nos conhece as entranhas.
Dentro daquilo que são as minhas limitações económicas, tenho viajado o mais que posso e consigo. Nestes últimos dias, por exemplo, andei a saltitar por Berlim como se fosse uma criança num parque de diversões. Virava-me para ela e dizia "olha isto!" com o mesmo entusiasmo com que o dizia à minha mãe em criança sempre que ia ao Portugal dos Pequeninos. Levei uma lista com o nome de dezasseis coisas que eu queria mesmo ver naquela cidade. De nenhuma tinha a morada, as coordenadas ou uma referência qualquer. Foi a Raquel que se deu ao trabalho de descobrir onde ficavam todas e de me levar lá em transportes públicos. Numa cidade cuja zona urbana tem quarenta e seis por trinta e oito quilómetros, acreditem que não é fácil.
Às vezes paro num sítio qualquer, como parei num bar duma das grandes avenidas de Berlim, e fico a beber uma cerveja tão lenta quanto um caracol. Não percebo (e isto é a sério!) o que é que uma mulher como ela vê em mim. Encontro-me no papel do Monstro amado pela Bela, no sentido lato da expressão e do contexto, e considero-me um homem com sorte.
Só isso."

João
Geografia das Curvas

«Tomai e comei...»- Shut up, Cláudia!




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