30 dezembro 2005

Fantasias de Ano Novo

- Conta-me uma estória. - Pediu ela enquanto recuperava o fôlego depois dos corpos se terem saciado em aventuras muito para além da pele e dos orgasmos.

- Tu conheces a estória. – Disse ele enquanto passeava os dedos pelo ventre dela que ondulava devagar, depois de ter sido todas as mulheres que lhe apetecera ser.

Conheço, pensou ela, demorando as carícias que adoçavam a pele dele, por cima do vermelho como estradas finas de unhas…

Conheço o teu imaginário, que é o meu.
Seríamos corpos e fantasias.

Ela é a minha amiga como amante, tu és o meu amante como amigo.
E sei que sonhas com a outra de mim, com a sua pele na minha, quatro mãos de unhas pintadas entrelaçadas, dois corpos redondos e mornos, unidos em aromas iguais, duas bocas de mulher coladas num espelho paralelo.

Duas de mim. Três de nós. O número perfeito.


O Charlie disse assim, lá no outro lado:
Um pequeno toque suave na superfície fez estremecer toda a imagem.
Nos círculos concêntricos que se entrecruzavam depois de se reflectirem nas margens dos teus peitos.
Quase incrédula levantaste o olhar para mim.
Vi-te a angústia de seres arrancada a um momento que querias só teu.
Não me atrevi sequer a mexer-me mais.
Tranquilamente deixei que o tempo alargasse os círculos até não serem mais que um leve dançar da imagem que os teus olhos voltaram a procurar.
À minha frente estavas tu entregue àquela outra submersa em ti.

Respirei fundo. Uma, duas vezes. Três vezes.

Fechaste os olhos.
Suavemente, sem levantar uma única gota.
Todo dedos e corpo, linguas e sal, seivas e sol, viagem em gota indissociável do seu meio.
Mergulhei em ti e no teu sonho, numa viagem de outra luz e transparência.
Uterinos na mãe água, diluidos na grande placenta donde vem toda a vida.

Afundei-me no teu corpo até sermos um só.
Esse outro de mim que tem tanto de ti como tu de homem tens em mulher...

charlie 30.12.05 - 9:04 am
Feliz Ano Novo a Todos

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