A ideia é esta: Marina Abramovic explora neste trabalho/ instalação a forma como a sexualidade foi definida pela tradição pagã balcânica.
Marina Abramovic - Balkan Erotic Epic - from HaufenMag on Vimeo.
31 dezembro 2013
A FODA COMO ELA É (VII) - Formação Profissional: Escolas de Putedo
Ginásio do Instituto de Formação Profissional do Amor, projecto de Tomás Taveira |
Por esta altura, já todos se puseram de acordo sobre o assunto, entretanto despido das vestes garridas da controvérsia. Os préstimos ancestrais das mercenárias, mercenários, bi-trans-mercenários - puta de confusão! - do amor, deviam ser legalizados, profissionalizados e tributados, como acontece em países de civilização mais fina. Mas em momentos de cavaqueira, o "ora veja" amiúde fica-se pela tributação, dada a irresistível tendência lusitana para a torpe inveja. Avancemos um pouco no exercício conjectural.
Está, então, a prostituição regulamentada por decreto-lei, publicado em Diário da República, e quem a exerce passa factura, paga IRS e o cardápio inclui preços com IVA. O negócio organiza-se e complica-se, nascem empresas de serviços generalistas e especializados, com entrega ao domicílio, departamentos de recursos humanos, linhas de apoio ao cliente, livro de reclamações e toda a parafernália. Naturalmente, aumenta a exigência sobre as competências das horizontais, no exercício de seu mister. A saída da clandestinidade desvia parte da atenção do cliente, da situação para a qualidade do serviço. E já não chegam as dicas de calejadas, nem os work-chupe das madames para se manterem as páginas imaculadas de reclamações. Impõe-se formação sistematizada, com teoria e prática, oficialmente certificada pelo ministério competente. Não é só escachar o chispe, arregaçar prepúcios a eito, enfim passar o rato reclinada numa poltrona, tasquinhando tremoços de uma selha em plástico ao alcance da mão, enquanto o outro se alivia. A profissional de categoria conjuga na mesma pessoa a hábil, delicada gueisha com a mais devassa Messalina. Um comentário desacertado pode inutilizar um broche de valor histórico. Pelo contrário, sempre que puta de talento sabe predispor, o êxtase de seu amigo é completo. Ficai certos de que levará dali mais do que uma insistente comichão no escroto, em jeito de recordação.
Diz-se ser a mais velha das ocupações, mas será também a que sofre os piores efeitos da falta de profissionalismo. É por estas que critico putanheiro que esfregue as mãos de contente à ideia da legalização. Não estão a ver bem o filme: sem uma Escola Técnica de Putedo, encartada pelo Estado, seria o mesmo que transformar esquinas em casas de banho públicas. Muito higiénico, mas nada erótico.
«Verbo» - Susana Duarte
um dia, saberei conjugar todos os verbos
-mesmo os verbos de ser arriba
escarpada
sobranceira-
e, ao conjugá-los, saberei onde estás:
manhã orvalhada de todas as palavras
de antes, desfloradas em neblinas
onde gotas de geada quebram folhas
suaves, lentas folhas
de chuva antiga
que me acende (caminhos?)
conjugo o verbo-palavra mitigada
pelo bater de asas suave
da leve
ondulação das águas
e, ao dizer da eloquência
dos sons, procuro ainda.
procuro o abrigo das asas
rectrizes de todos os uivos,
voos lentos dos meus braços curvos.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
-mesmo os verbos de ser arriba
escarpada
sobranceira-
e, ao conjugá-los, saberei onde estás:
manhã orvalhada de todas as palavras
de antes, desfloradas em neblinas
onde gotas de geada quebram folhas
suaves, lentas folhas
de chuva antiga
que me acende (caminhos?)
conjugo o verbo-palavra mitigada
pelo bater de asas suave
da leve
ondulação das águas
e, ao dizer da eloquência
dos sons, procuro ainda.
procuro o abrigo das asas
rectrizes de todos os uivos,
voos lentos dos meus braços curvos.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Casal asiático
Peça trabalhada em madeira com mecanismo articulado.
Origem: Ásia?
A partir de agora na minha colecção.
Casal asiático from São Rosas on Vimeo.
Origem: Ásia?
A partir de agora na minha colecção.
Casal asiático from São Rosas on Vimeo.
30 dezembro 2013
«respostas a perguntas inexistentes (262)» - bagaço amarelo
- Quantos?
- Cabem todos numa só mão.
- Então fecha-a e guarda-os.
Regresso a um baloiço velho, já velho quando eu era criança, onde os dias baloiçavam numa tontura desigual. Era a Helena, que ia sempre mais alto do que eu e depois punha-se em pé. Chegava a ficar na horizontal, quando atingia a altura máxima atrás ou à frente e eu, com medo, a dizer-lhe que não me apetecia baloiçar. Quando o fiz, caí, e ela saltou lá de cima para me secar as lágrimas. Deu-me a mão para me ajudar a levantar e eu fechei-a, para guardar a sensação do toque dela.
Regresso a uma incerteza que nada sôfrega no meu copo de uísque.
- Lembras-te de mim?
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Para atravessar…» de Sofia de Mello B. e Andresen
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sofia de Mello B. e Andresen
(Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004)
foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sofia de Mello B. e Andresen
(Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004)
foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
29 dezembro 2013
Target
A sua presença impunha-se pelo corte de cabelo, o pólo Sacoor ou Giovanni Galli, o vinco das calças e um perfume da Boss, com o ar triunfante de quem vai pelo menos três vezes por semana ao ginásio e faz as comprinhas todas na centralidade do Corte Inglês.
Era fácil notá-lo assim alto e espadaúdo naquela vernissage de um artista plástico em ascensão de alguma forma acentuado pela voz de cama com que pronunciava com licença e obrigado ao pegar nos mini-croquetes ou tostinhas com patê, antes de os deglutir.
Entre um sumo de laranja e um moscatel de Setúbal geladinho consegui averiguar que aquele segmento percebia tanto de pintura quanto eu entendo de costura ou bordados embora a amizade mantida desde a infância com o autor o obrigassem a comparecer ali e além do mais, a sua voz continuava macia como pêlo de gato e assustadoramente quente como chocolate derretido.
Deixei-o debitar um rol de frases feitas sobre o sol, a praia, melhores sítios de férias até que alguns erros de pronúncia me perfuraram os tímpanos. Não estava no meu plano levar o corrector ortográfico para a cama mas sou obrigada a reconhecer que mesmo na pressa de apalpar a carninha toda a um gajo, colar a pele dele à minha e absorvê-lo como água de um cantil, não sujeito os meus ouviditos a fífias.
Fugi a pretexto de um amigo acabadinho de chegar porque, definitivamente Senhor Doutor, ele não era o meu target.
Era fácil notá-lo assim alto e espadaúdo naquela vernissage de um artista plástico em ascensão de alguma forma acentuado pela voz de cama com que pronunciava com licença e obrigado ao pegar nos mini-croquetes ou tostinhas com patê, antes de os deglutir.
Entre um sumo de laranja e um moscatel de Setúbal geladinho consegui averiguar que aquele segmento percebia tanto de pintura quanto eu entendo de costura ou bordados embora a amizade mantida desde a infância com o autor o obrigassem a comparecer ali e além do mais, a sua voz continuava macia como pêlo de gato e assustadoramente quente como chocolate derretido.
Deixei-o debitar um rol de frases feitas sobre o sol, a praia, melhores sítios de férias até que alguns erros de pronúncia me perfuraram os tímpanos. Não estava no meu plano levar o corrector ortográfico para a cama mas sou obrigada a reconhecer que mesmo na pressa de apalpar a carninha toda a um gajo, colar a pele dele à minha e absorvê-lo como água de um cantil, não sujeito os meus ouviditos a fífias.
Fugi a pretexto de um amigo acabadinho de chegar porque, definitivamente Senhor Doutor, ele não era o meu target.
28 dezembro 2013
«Das trocas» - João
"O cérebro avalia o valor das coisas através de comparações. Isto é algo que está bem estabelecido, não constitui surpresa nem novidade, e portanto assumo que o meu, igual a todos os outros (a uns mais que outros, concedo), também funciona assim. Comparo para perceber o valor. E, se o faço assim, sinto-me na posse de tudo quanto preciso para refutar uma ideia que em tempos me venderam, com relação às mudanças vividas nos relacionamentos amorosos: a ideia de que uma mudança numa relação não pode ser uma troca. Dito de outro modo, quiseram em tempos dizer-me que nunca corre bem deixar uma pessoa para ficar com outra. Que é melhor deixar alguém, ficar sozinho, e só mais tarde conhecer outra pessoa que nos interesse.
Não concordo – como não concordei à época – com essa visão, porque me parece inevitável que a troca ocorra. A única diferença é ser uma troca de uma presença por outra presença, ou de uma presença por uma ausência. Mas é sempre uma troca. É inevitável. É a forma como funcionamos e raramente fazemos algo para ficar pior. Não estamos desenhados para procurar o sofrimento e o dano pessoal. Estamos orientados para procurar o melhor para nós e aquilo que nos cria maior felicidade, e portanto estamos sempre a avaliar o valor das coisas, com maior ou menor perspicácia conforme os instrumentos que tempos. Mas sempre a avaliar, a comparar, a procurar. Assim, dizer a alguém que é mau mudar a vida fazendo trocas de pessoas, é desafiar a forma como os nossos cérebros funcionam. As nossas opções são sempre trocas."
João
Geografia das Curvas
Não concordo – como não concordei à época – com essa visão, porque me parece inevitável que a troca ocorra. A única diferença é ser uma troca de uma presença por outra presença, ou de uma presença por uma ausência. Mas é sempre uma troca. É inevitável. É a forma como funcionamos e raramente fazemos algo para ficar pior. Não estamos desenhados para procurar o sofrimento e o dano pessoal. Estamos orientados para procurar o melhor para nós e aquilo que nos cria maior felicidade, e portanto estamos sempre a avaliar o valor das coisas, com maior ou menor perspicácia conforme os instrumentos que tempos. Mas sempre a avaliar, a comparar, a procurar. Assim, dizer a alguém que é mau mudar a vida fazendo trocas de pessoas, é desafiar a forma como os nossos cérebros funcionam. As nossas opções são sempre trocas."
João
Geografia das Curvas
27 dezembro 2013
Amores galácticos
Ela é uma mulher tão distante, tão inacessível, que já só consigo alimentar por ela um amor plutónico.
26 dezembro 2013
«conversa 2036» - bagaço amarelo
Eu - Qual?
Ela - Sexo.
Eu - Era mau?
Ela - Era curto.
Eu - Era curto?!
Ela - Curto em tempo, curto em tempo... já ouviste falar em ejaculação precoce?
Eu - Ah! Porque é que ele nunca foi ao médico?
Ela - Já ouviste falar em estúpido orgulho de macho?
Eu - Ah!
Ela - Chegou a convencer-me que, se bebesse três ou quatro uísques antes do sexo, a coisa podia durar mais, para eu também aproveitar.
Eu - E experimentaram?
Ela - Sim. Algumas vezes.
Eu - Deu resultado?
Ela - O único resultado que deu foi ele adormecer bêbedo em cima de mim algumas vezes.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Postalinho ciclista do Vietname
"Esta bicicleta comprei-a no Vietname, especialmente, para oferecer à São Rosas.
Beijinhos"
Alfredo Moreirinhas
Beijinhos"
Alfredo Moreirinhas
25 dezembro 2013
E depois admiram-se que o Pai Natal se atrase!
O Pai Natal sempre
demora meia horinha
a deixar as prendas
à minha vizinha
Depois nunca chega
e eu sei porque é:
fica a piça entalada
na minha chaminé"
Excerto de
«(ainda não) É Natal» da
Tuna Meliches
«Os sonhos de Freud» - Ana Markl
"Quando chega ao Natal, a especialidade de Freud são sonhos de abóbora. A abóbora deita-se no divã e escancara o subconsciente, revelando as suas mais íntimas pevides. Essa visão excita o psicanalista.
A abóbora tem um sonho recorrente: está muito sossegada na cozinha, eis senão quando chega uma fada madrinha e, através do toque de uma varinha mágica, transforma-a não em sopa, mas numa carroça puxada por ratos, que por sua vez se transformam em cavalos, e que transporta uma tipa qualquer com nome de travesti enfiada num sumptuoso vestido branco e sapatos de cristal.
Freud explica-lhe que se trata de um sonho erótico. A abóbora, contrariada, só não encolhe os ombros porque não os tem. “Onde raio está a pulsão sexual?”, pergunta. “Todos os Natais venho aqui ouvir a mesma coisa”, reclama. “Não sou nenhuma tarada, doutor”, declara. Enquanto discorre sobre o significado dos garanhões que a puxam e da rapariga que entra dentro de si, Freud avança intimidante em direcção à abóbora, como quem lhe vai arrancar um pedaço.
A abóbora acorda, aflita e suada. Respira fundo. Conclui, aliviada: “era só um sonho”. Olha em seu redor e percebe que está numa frigideira cheia de óleo a ferver: é só um sonho."
Ana Markl
Jornalista e guionista
Texto vencedor do 19º Campeonato de Escrita Criativa
A abóbora tem um sonho recorrente: está muito sossegada na cozinha, eis senão quando chega uma fada madrinha e, através do toque de uma varinha mágica, transforma-a não em sopa, mas numa carroça puxada por ratos, que por sua vez se transformam em cavalos, e que transporta uma tipa qualquer com nome de travesti enfiada num sumptuoso vestido branco e sapatos de cristal.
Freud explica-lhe que se trata de um sonho erótico. A abóbora, contrariada, só não encolhe os ombros porque não os tem. “Onde raio está a pulsão sexual?”, pergunta. “Todos os Natais venho aqui ouvir a mesma coisa”, reclama. “Não sou nenhuma tarada, doutor”, declara. Enquanto discorre sobre o significado dos garanhões que a puxam e da rapariga que entra dentro de si, Freud avança intimidante em direcção à abóbora, como quem lhe vai arrancar um pedaço.
A abóbora acorda, aflita e suada. Respira fundo. Conclui, aliviada: “era só um sonho”. Olha em seu redor e percebe que está numa frigideira cheia de óleo a ferver: é só um sonho."
Ana Markl
Jornalista e guionista
Texto vencedor do 19º Campeonato de Escrita Criativa
«Sonhos de Freud» - montagem de São Rosas |
24 dezembro 2013
Boas Frestas, são os votos de Triângulo Felpudo
Só para desejar um Feliz Natal a todos os leitores e companheiros de deboche d'A Funda São. Nelo, não te enchas de enrabanadas.
É tradição enviar isto a todos os contactos, sem excepção. Ainda não fui despedido, nem a avó teve uma síncope. Eis um vídeo natalício com mulas, anões e o caralho. Frestas Felizes!
23 dezembro 2013
«conversa 2053» - bagaço amarelo
Ela - Tens uns vasos no meio da tua casa...
Eu - Estou a experimentar uma coisa que vi na internet. Colocas umas velas a aquecer um vaso pequeno, virado ao contrário, com outro vaso maior por cima. Parece que aquece o ambiente...
Ela - E aquece mesmo?
Eu - Aquece, embora ainda não esteja satisfeito com os resultados obtidos.
Ela - Mas porque é que estás a usar velas perfumadas para esta experiência?
Eu - Só tinha essas velas em casa quando me decidi a fazer isso.
Ela - Mas estas velas são caras, sabias?
Eu - Estou-me nas tintas. Não servem para nada. Tenho-as aí há que tempos. Foi alguém que mas deu num aniversário, num Natal, ou coisa parecida...
Ela - Pois foi, eu sei. Fui eu que tas ofereci...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Envelhecer» de Jorge de Sena
I
Nesta claridade silenciosa e pálida os vultos
deslizam como sombras no entanto nítidos e
contornados por um brilho que entontece o
olhar.
Há uma distância incomensurável entre nós. E
dir-se-ia que nenhum gesto é bastante para os
atingir. O tempo se fez distância.
Paralisado em transparência gélida eu não
mudei porém. Pelo contrário é como se
contido o ardor fosse maior.
E doloroso mais. Porque de antigamente o
não-ter e o perder ainda eram certeza de
atingir, senão de amor.
II
De amor eu nunca amei senão desejo visto ou
pressentido. Um corpo. Um rosto. Um gesto. E
nunca de paixão sujei o meu prazer ou o de
alguém. Por isso posso
mesmo as audácias recordar sem culpa.
Tudo o que fiz ou quis que me fizessem o
paguei comigo ou com dinheiro. E só
lamento as vezes que perdi
retido por algum respeito. Errei
por certo — mas foi nisso. O que me dói
não é tristeza de quem dissipou
no puro estéril quanto esperma pôde gastar
assim. O que me mata agora é este frio que
não está em mim.
Jorge de Sena
Jorge Cândido de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 — Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Nesta claridade silenciosa e pálida os vultos
deslizam como sombras no entanto nítidos e
contornados por um brilho que entontece o
olhar.
Há uma distância incomensurável entre nós. E
dir-se-ia que nenhum gesto é bastante para os
atingir. O tempo se fez distância.
Paralisado em transparência gélida eu não
mudei porém. Pelo contrário é como se
contido o ardor fosse maior.
E doloroso mais. Porque de antigamente o
não-ter e o perder ainda eram certeza de
atingir, senão de amor.
II
De amor eu nunca amei senão desejo visto ou
pressentido. Um corpo. Um rosto. Um gesto. E
nunca de paixão sujei o meu prazer ou o de
alguém. Por isso posso
mesmo as audácias recordar sem culpa.
Tudo o que fiz ou quis que me fizessem o
paguei comigo ou com dinheiro. E só
lamento as vezes que perdi
retido por algum respeito. Errei
por certo — mas foi nisso. O que me dói
não é tristeza de quem dissipou
no puro estéril quanto esperma pôde gastar
assim. O que me mata agora é este frio que
não está em mim.
Jorge de Sena
Jorge Cândido de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 — Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
22 dezembro 2013
Segunda-feira
Acordei tarde para não variar com o corpo a estender o sono até deglutir toda a nicotina nocturna. Saltei para o duche de poucos minutos que nestes dias os segundos andam sempre mais depressa. À minha espera lá tinha a blusa nova de decote em vê com fecho éclair de lado. Enfiei-a e tudo corria bem até puxar o fecho. O danado não subia acima da cintura. Fiz força para baixo, fiz força para cima mas o desgraçado dali não se mexia a fazer pirraça aos ponteiros do relógio. Num repente puxei a blusa para fora e vá de experimentar o fecho que corria na perfeição nos dois sentidos. Voltei a vesti-la e pimba, o gajo parava no mesmo sítio como se fosse ali paragem de autocarro ou lugar cativo de estacionamento. Ao contrário do poema de António Gedeão o que eu não queria ter era um fecho éclair. Expirei fundo, bufei como um gato ameaçado e peguei na patilha com toda a genica a medir forças com aquele energúmeno que me estava a atazanar a manhã. Certamente com pena de mim ele lá condescendeu subir um bocadinho mas por mais que eu teimasse, não ia até ao fim.
Conferi as horas e percebi que não me apetecia ir escolher outra roupa nem sequer procurar combinar as cores das calças com outra blusa e outros sapatos para já não falar da suprema chatice de despejar o conteúdo da mala para arrumar noutra. Pespeguei a mala no ombro do lado do fecho e ala moça que se faz tarde para o local de trabalho onde a primeira colega caridosa que encontrei com as duas mãos em riste o puxou todo para cima e me acabou com o problema.
E é nestas alturas Senhor Doutor que me parece que até pode fazer falta um homem em casa.
21 dezembro 2013
«Máquinas que enganam» - João
"Caminhos, amor. São caminhos. Olha as cascas que se soltam de mim. Já nem cabelo tenho, foi-se todo, e a barba que me cobre começa a ser branca. Olha os pés, que se picam nas pedras angulosas. São máquinas, amor. Torcem, contorcem, esticam e comprimem. São cabos, é aço, é arame farpado. Olha o meu relógio, doce. Os ponteiros são corações com arritmia. Como extrassístoles do tempo. Joelhos. Esfolados. Olha as minhas mãos. As minhas mãos amor. Segura-me a cabeça e deixa-me tombar devagarinho. Dá-me mimo. Endireita-me o mundo, coloca-me o Norte no Norte, acerta-me o compasso, esbofeteia-me até voltar à vida, abana-me. Arranha-me à procura de dôr, de sangue. Senta-te em mim e deixa cair os cabelos no peito, faz-me cócegas, respira junto a mim. Não desistas de mim. Não antes de todos os outros. Uma linha recta é só isso, não estou morto, são máquinas que enganam. Não deixes que te puxem para fora de mim. Deixa-te estar sentada ao meu colo. A aquecer-me. Esfrega-me as mãos amor. Aquece-mas. Beija-mas e encosta-as à tua face. Não deixes que me levem."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
20 dezembro 2013
O milhór broshe da minhia vida, um broshe eculójicu
... logu entrou-me açim uns
calores perque çe á coiza quéu tenhu medu é de ratus, e ishto pra nam falare em
ratas…ui ui ui ui. Mash cum dildu infiadu no trazeiru e a
bocâ sheia de carne, á lá coiza milhor pra uma melhér bisha paçar uma nôte beim
paçada?...
O milhor broshe da minha vida, melhéres, çe é cu
um broshe podi çer milhor du coutro, fôi na minhia nova discuberta da vida há
nôite.
Melhéres, Badajós!
Uma çidade çeim peruconseitos e açim, quinté paresse cajenta ta´numa daquelash çidades onde as melhéres bishas andóm há vontadi, comu per izemples Nova Iorqui, ou Londris ou na Califórmia. Hihihiiii melhéres, queu éi çó chegare há feronteira e cumesso logu a cantare “ efe iu come tu sam fransiqu, bi shudu uére a felóuer êne iór hér..” …Nam çei çé açim cu çe canta a muziqa mash nam fash mal melhéres, o cuma melhér pressiza ei de çe çentire felish e açim, e asdepios us Ispanhóis nam çam açim nada bonsh a línguash, çalvo çeija, melhéres, cu çobre línguash a jente vai conversar de çeguida, já, jazinho hihihhi.
Aí falámus tantu melhéres, ele nu çeu setaque istranjeiro i éu a crere imitare o çéu Ispanholi, e discobri quele hera eculojista….Uma çurpreza melhéres, perqueu disse-le quera tameim eculojista e coizo e diçe-le pormenores, mazele isplicou-me ca eculojia nam é a jente handare na rua a fasere de lojinha a vemder o pacoti, mash çim aqueli coizo na natureza e açim e a poluição e mais nam çei o quéim, ca converça ficôu um becado aburreçida, mas asdespois paçou logu quele comessou a aprofumdar pró broshe eculójico.
Diçe-me eli açim: - Nelo, yo hago parte del Greenpeace y me gustan las cosas al natural.
Ai melhéres, Rispondi-le logu: -Carinhio, ió nó agu parti dela Grinpiça, peru mi suona goçtóça, eça cósa dé piça e açi, i çé tu hiéris déça cósa, ió tambieni quierio çieri.
E açim foi. Melhéres, nu apartemento dele bezentou os nóços curpinhus com aseite virjeim çalvo çeija e ai, logu aí a jenti lambeu-çe todas umas hás ôtras quei uma coiza cu dá uma tuza…. Xi……melhéres…
Mas nam! Nam avia porblemas. O méu home era ispiçtacular perque fôi bushcar uma coiza cas lambisgoitas aviam de uzar mais e açim, : um dildu!
Mash nam hera um dildu deças cu vossezes tam há pinçar.
Nam çenhor, o méu home hera eculójicu: a açim u dildu hera um belu pupino, ca medida çerta, lizinho e goshtozo.
E fôi açim u milhor broshe da minhia vida.
Ai melhéres: co o dildu infiadu no trazeiru e a bocâ sheia de carne, á lá coiza milhor pra uma melhér bisha paçar uma nôte beim paçada?
Olheim, melhéres, çe les diçer cu asdespois fômus cumere uma çalada çó de vardura e açim: alefasse, agriãus, rudelas de senoura, becadinhus de seboila e açim, tudu regadu co um belu aseite. Ai melhéres, ca vontade cu me deu fôi de faser-le ali mejmo um ôtro broshe, mejmo mejmo eim peleno ristórante e açim. Mazólheim. Fôi logu de seguida.
Neim shigámos ao apartemento, fôi mejmo nu carru dele, melhéres, e deshta vesh com iogurete tudu naturale e açim. Ai ai,, Cuma melhér neim çabe çé lête da piça, çé o lête du pacote, ai ai hhihihhi ehihihiiii, ai ai cu belu trucadilhu melhéres hihihi cu çou uma pueta hihihhi……
Melhéres, dispois deshta isperiênsia tôu au vóço dispor pra les oferecer um broshe eculójico. Çó fis duash veses, mash póço deser cu tôu já um verdadêru ispiçalishta.
Çe quizereim ispirimentare, melhéres? Mi liguim hihihihihi .
discobri quele hera eculojista da Grinpiça |
Uma çidade çeim peruconseitos e açim, quinté paresse cajenta ta´numa daquelash çidades onde as melhéres bishas andóm há vontadi, comu per izemples Nova Iorqui, ou Londris ou na Califórmia. Hihihiiii melhéres, queu éi çó chegare há feronteira e cumesso logu a cantare “ efe iu come tu sam fransiqu, bi shudu uére a felóuer êne iór hér..” …Nam çei çé açim cu çe canta a muziqa mash nam fash mal melhéres, o cuma melhér pressiza ei de çe çentire felish e açim, e asdepios us Ispanhóis nam çam açim nada bonsh a línguash, çalvo çeija, melhéres, cu çobre línguash a jente vai conversar de çeguida, já, jazinho hihihhi.
Beim… çobre o ingate, a coiza fôi cuase há intrada
do Bare Guei; riparei no mossôilo, lindu e altu e açim, us olhus muinto clarus,
quinté pençei cu fôsseim lentis de comtacto
e devu confeçar cu me çenti um becadinhu injevosa e açim perque asho caquelas lentis nu meu ôlhu éi cu
ficavóm beim. Hihihiiii já tou a vere vossezes harmadus em marotus, co eça coiza du ôlhu e açim
hihihiiiii mash tenhóm calma melhéres cu já la vamus.
Ai ai, mas fofos,
puzos olhus nas bolas do rapash,
livantei u olhare pra çima e us nóços olharis...., melhéres..., num mumento de
majia, crusaram-çe eim sheio e fôi logu
tiru e queca, ai… melhéres, digu queda,
mash nu fim, vai a dare no mejmo hihihihihi- ( aiai quéu çou terríveim). Aprezentei-me: - Melhéri, ió mi iamu Nelo, i ushtéi? Comu çe iama? Quiéries tumar iuna cópa ?Aí falámus tantu melhéres, ele nu çeu setaque istranjeiro i éu a crere imitare o çéu Ispanholi, e discobri quele hera eculojista….Uma çurpreza melhéres, perqueu disse-le quera tameim eculojista e coizo e diçe-le pormenores, mazele isplicou-me ca eculojia nam é a jente handare na rua a fasere de lojinha a vemder o pacoti, mash çim aqueli coizo na natureza e açim e a poluição e mais nam çei o quéim, ca converça ficôu um becado aburreçida, mas asdespois paçou logu quele comessou a aprofumdar pró broshe eculójico.
Diçe-me eli açim: - Nelo, yo hago parte del Greenpeace y me gustan las cosas al natural.
Ai melhéres, Rispondi-le logu: -Carinhio, ió nó agu parti dela Grinpiça, peru mi suona goçtóça, eça cósa dé piça e açi, i çé tu hiéris déça cósa, ió tambieni quierio çieri.
E açim foi. Melhéres, nu apartemento dele bezentou os nóços curpinhus com aseite virjeim çalvo çeija e ai, logu aí a jenti lambeu-çe todas umas hás ôtras quei uma coiza cu dá uma tuza…. Xi……melhéres…
Olheim fofos, melhéres, ai cum broshe a um home
todu bezuntadu e iscorregadiu e açim, aiaiai melhéres…. Cu coiza tam bôa… xi…
us tomatinhos todus brilhantes e a piça de ingual modu, e a minhia mãu a mecher
eim tudu com eshta arte cu Deush me déu… E fôi cuando ia a abucanhar a pessa,
digu a piça quele me disse: “Nelo, carinho, aguarda um ratito.”
Melhéres, logu logu entrou-me açim uns
calores perque çe á coiza quéu tenhu medu é de ratus, e ishto pra nam falare em
ratas…ui ui ui ui.Mas nam! Nam avia porblemas. O méu home era ispiçtacular perque fôi bushcar uma coiza cas lambisgoitas aviam de uzar mais e açim, : um dildu!
Mash nam hera um dildu deças cu vossezes tam há pinçar.
Nam çenhor, o méu home hera eculójicu: a açim u dildu hera um belu pupino, ca medida çerta, lizinho e goshtozo.
Shupa! Shupa Nelo, antis cu çe apague hihihi |
Ai melhéres: co o dildu infiadu no trazeiru e a bocâ sheia de carne, á lá coiza milhor pra uma melhér bisha paçar uma nôte beim paçada?
Olheim, melhéres, çe les diçer cu asdespois fômus cumere uma çalada çó de vardura e açim: alefasse, agriãus, rudelas de senoura, becadinhus de seboila e açim, tudu regadu co um belu aseite. Ai melhéres, ca vontade cu me deu fôi de faser-le ali mejmo um ôtro broshe, mejmo mejmo eim peleno ristórante e açim. Mazólheim. Fôi logu de seguida.
Neim shigámos ao apartemento, fôi mejmo nu carru dele, melhéres, e deshta vesh com iogurete tudu naturale e açim. Ai ai,, Cuma melhér neim çabe çé lête da piça, çé o lête du pacote, ai ai hhihihhi ehihihiiii, ai ai cu belu trucadilhu melhéres hihihi cu çou uma pueta hihihhi……
Melhéres, dispois deshta isperiênsia tôu au vóço dispor pra les oferecer um broshe eculójico. Çó fis duash veses, mash póço deser cu tôu já um verdadêru ispiçalishta.
Çe quizereim ispirimentare, melhéres? Mi liguim hihihihihi .
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