04 junho 2016

«A ubiquidade do amor» - por Rui Felício

Cristalina, límpida, refletia os raios solares e com eles dardejava e chamava a atenção do seu amado.
Distraído, ali ao lado, ele nem parecia reparar. Era um calhau, uma pedra, e nem lhe passava pela cabeça que ela, uma poça de água da chuva recente que tinha caído, se tivesse apaixonado por ele.
«Amor transparente»
Mola em plástico formada por casal abraçado
EUA, 1995
Colecção de arte erótica «a funda São»
Mas a verdade é que a água estava loucamente enfeitiçada pela máscula pedra ali tão perto, quase ao seu alcance.
Tamanha foi a sedução, que o frígido calhau acabou por reparar nela e sentiu o calor derreter-lhe a pouco e pouco a postura rígida.. Também ele sentiu o fascínio do amor, por estranho que nos possa parecer.
Deixou-se escorregar lentamente e aos poucos envolveu-se nas carícias da poça de água.
No fogo do amor que os incendiou, fundiram-se num só. Já não era possível distinguir a água do calhau.
Aquela pedra de gelo tinha-se derretido completamente...

Rui Felício
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