Ao abraçá-la percebi isso mesmo. Pelo canto do olho vi uma série de abraços tão iguais e tão diferentes quanto o nosso. Por isso fechei os olhos por dois segundos, para que o meu pudesse ser só para mim. Quando a larguei, já só estávamos os três no mundo: eu, ela e a cidade.
E é sobre isso que eu quero escrever. Sobre a cidade.
Quando a deixei de novo no cais, ao fim da tarde, já o Sol se encontrava no outro extremo do horizonte. Provavelmente andara louco, lá em cima, à nossa procura nas ruas esguias da urbe. Fiquei a ver o barco desaparecer no rio de prata durante algum tempo e, quando finalmente me voltei, a cidade não era a mesma.
É que quando um lugar testemunha um abraço, passa a fazer parte desse momento para sempre. Se lá voltarmos, um dia mais tarde, esse lugar segreda-nos a recordação que temos dele. É como se esse abraço fosse um carimbo no tempo e no espaço em simultâneo.
Mais tarde, podemos pedir ao tempo se esqueça dele, mas nunca o podemos pedir a um lugar. No que diz respeito ao Amor, o espaço combate o tempo.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»