02 dezembro 2005

Romeu e Julieta



Acto único.Cena única
Personagens: Julieta, Romeu e o burro
Local: Uma varanda no Alentejo

Na varanda debruçada
A noite escura e fria
Julieta o horizonte perscrutava
Seu amado aguardava
O coração em agonia
E com voz aflita soluçante
Questionava estrelas e céu:
- Ai mê Deus que tá tão escuro
Tou tã ralada, tã aflita
Digam-me por favori
Adôndi anda o mê amori
Adôndi está o mê Romeu?

Como que respondendo ao suspiro
Ao apelo, ao chamamento
Ao longe ouvem-se uns cascos
Romeu surge no caminho
Devagar, devagarinho
Montado no seu jumento.

- Ai Romeu, omê de Deus,
Adôndi andaste tu metido?
Eu práqui ralada, aflita, já pensando no piori
Que tinhas caído do burro
Que tavas todo partido
Que tinhas ido contra um chaparro
E que já tinhas morrido.

Romeu, Romeu?
Nã m’arrespondes? Nã me ouves? Tu tás surdo?
Pára a mula, olha o muro
Ainda partes os cornos
Os teus e os da porra do burro.

Romeu acorda sobressaltado
Com os gritos de sua donzela
In extremis trava o burro
Por pouco não vai contra o muro
Que circunda a janela.

- Ai melhêri a culpa é tua
Vinha sonhando contigo
Com tês bêjos, tês abraços
E o burro tã devagar anda
E me deu um tal cansaço
Qu’ adormeci um cadito.

- Ai Romeu, Romeu…
Se nã fosse o tê jêtinho
Quando nas beiças me bêjas
Nã te esperava nunca mais
Nã te queria pra namorado
E ajuntava era o mê monte
C’u monte do moço do lado.
Tou aqui enregelada
Qu’a janela toda aberta
Desce do burro. Despacha-te!
Que nã temos a nõte toda
Vamos é dari uma queca.

(Desce o pano lentamente enquanto devagar devagarinho Romeu sobe à varanda e com Julieta entra nos aposentos. Fecham-se as portadas…)

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