17 julho 2006

A Bela Livreira

breve crónica de um dia na Feira do Sexo,
by Valmont

Latex, vinil, silicone e polipropileno preenchiam o proclamadíssimo Salão Internacional Erótico de Lisboa reverberando nos empreendedores, chulos, voyeurs, repórteres digitais, cabrochas brasileiras e putanas espanholas um brilho fanqueiro de desejo prometido, de incomparável volúpia, de narcisismos dominadores, enfim de um pretenso glamour eroticocêntrico.

Enfastiado por tanto produto chinês, banha da cobra espanhola e pontapé no português, refugiei-me em local seguro, rodeado dos amigos de sempre, na minúscula ilha-stand da Editora Europa-América, que naquele locus infectus prometia algum descanso, bom senso e bom gosto consultando a fantástica colecção de Clássicos Eróticos.

Do lado de lá do improvisado balcão, uma donzela de ar reservado acolhia com candura no prudente gesto os visitantes, bastas vezes bestas alarves e ululantes.

Um obeso tatuado bramia a meu lado “Estes livros são só palavras, nem uma foto têm”, arremessando um exemplar do “Turco devasso” de novo para o escaparate. Ela sorriu e baixou-se para apanhar o livro, deixando antever uma curva do generoso seio. Devagar, recolocou o livro vilipendiado na prateleira, distante uns metros.

Então reparei que estava descalça, as sandálias altas e finas dormiam junto à banca. Aqueles passos gráceis e breves supunham uma gentileza e sensibilidade anacrónicas naquele antro.

Adentrei-me irresistivelmente naquele espaço, indagando isto e aquilo desta e da outra obra, e a formosa fêmea a tudo respondeu com diligência, doçura e simpatia, enquanto mirava de soslaio o strip no stand vizinho.

Acabei por escolher dois volumes, que mereceram a aprovação da semi diva, que murmurou com um sorriso cúmplice, ao dar-me o saco: “Terá mais gozo nestes dois livros, seus e em sua casa, do que com 10 daqueles videoclips ali do lado”, apontando com o queixo para as stripers do Cat’s.

Sorri, e disse: Pode crer, bela Leonor, pode crer….E abalei, animado com a única erecção da noite, dedicada à sensualíssima livreira, a única que não estava à venda, e que, provavelmente, mais teria para dar de si a quem escolhesse entregar-se.

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