03 agosto 2006

A linda linda fénix


Falava-me meiga e serenamente e eu, se calhasse ter fechado os olhos para a ouvir, quase poderia acreditar que estava a ouvir-me a mim mesma.
No seu jeito maduro, de sensualidade adormecida mas jamais resignada, falava-me dos anos que passou como se os tivesse vivido em jeito de bela adormecida. Não a das histórias das meninas, a da história das mulheres, das que se deixam adormecer para fugirem à dureza dos dias, à aridez das noites.
Eu visualizei essas áridas noites enquanto a ouvia. Vi-a deitada na cama, vestida de vermelho, corpo violentamente abandonado nos lençóis surdos, voltas e mais voltas a ver se chamava o sono, a tontura do álcool que a fazia perder-se em pequenos furacões, o gosto ressabiado do tabaco, a saliva grossa. Vi-a afastar a inquietação com fantasias e fugas, com prazer solitário, com medo.
O amor pode tomar muitas formas. Consegue facilmente amar-se uma mulher assim, uma mulher que da sua sensualidade faz renascer a mais bela fénix.

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