13 novembro 2006

O sacana

por Charlie

Peguei no telefone e esperei um pouco.
Afinal, não podia mostrar excesso de emoção.
Ela não poderia suspeitar que estava louco para repetir a experiência. Sempre fora um sacana a romper o coração das mulheres. Quando as sentia conquistadas passava logo para a seguinte. Mas revia agora o teu corpo no meu sofá vermelho. Os teus lábios húmidos de desejo dos meus. E o teu corpo destilando humidades em aromas flutuando no calor tropical da sala hiper aquecida.
Olhei para o embrulho que tinha na mão. Era para a outra.
A nova.
Não me custara nada convencê-la a vir a casa. Logo que o seu marido saísse ela viria ter comigo. Mas nem ainda tinha sequer chegado e já estava farto dela. Fora tão fácil... Fechei a porta e olhei para o sofá vermelho. Cheirei-o. Tinha os aromas do corpo de ti. Nos meus olhos cresceram as imagens de meses a fio de conquista, de revezes e de reviravoltas. No fim tinha conseguido. Fora a maior satisfação da minha vida.
Um orgasmo intenso. A alma em turbilhão e um desejo enorme de repetir...
Mas eu não era assim. Tinha pouca experiência em ligações que ultrapassassem uma mera semana. Tudo se esgotava ao primeiro encontro, mas agora...
Peguei novamente no telefone.
-Está? Olá! Queres vir ter aqui a casa? Tenho uma prenda para ti. Como? Não sabes se podes vir. Queres que vá ter contigo? À tua casa? Está bem. -
Enquanto ia falando arranquei o bilhete com o nome da outra.
A campainha tocou.
Saí pelas traseiras.

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