27 novembro 2006
Morreu Mário Cesariny
Informa o Zé:
"Mário Cesariny de Vasconcelos, nascido em Lisboa, em 1923, deixou-nos ontem, dia 26 de Novembro e partiu para o mundo surrealista onde viveu desde os seus vinte anos. Poeta e pintor, deixou-nos coisas lindas de ler e de ver.T enho a felicidade de ter dele «O Tarot», que alinda uma divisão da casa. Para o nosso espírito, fica um excerto de «You are welcome to Elsinore»:
E há palavras e nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo
nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever de falar.
Mário Cesariny"
Poema completo aqui. Mais poemas de Mário Cesariny aqui.
A LolaViola relembra - e muitíssimo bem - o poema de José Carlos Ary dos Santos «Em louvor e simplificação de Mário Cesariny de Vasconcelos»:
"Por quê Mário?
Por quê Cesariny?
Por quê - ó meu Deus de Vasconcelos?
Não sabes que um polícia de costumes é o agente interino
da moral dos vitelos?
Alarga Mário a larga pássara do canto
e verás que à ilharga da imagem
o deus da vadiagem
fará de ti um santo.
Meu santo minha santa
Filomena tirada dos altares
quando a alma dos outros é pequena
melhor é ir a ares.
Areja Mário a pluma que sobeja
ao teu surrealismo
antes o ar de Londres que o de Beja
antes a bruma do que o sinapismo
Fornica meu poeta
sem a arnica
dos padrecas da terra.
Antes em Telavive que o tal estar
aqui
de cu pró ar
a ver quem nos enterra.
A fundo Mário se quiseres
baratinar os chuis.
Nem vinho já sabemos nem mulheres
mas os colhões de teres
os três olhos azuis.
José Carlos Ary dos Santos"
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