Aqui há dias estive um bocado na
palheta com uma passarinha que por acaso estava num dia difícil e
por isso deixámo-nos entreter assim.
Percebi nesse diálogo que as
passarinhas também podem ser feministas, o que só lhes fica bem,
mas como sempre acontece nas convicções mais firmes por vezes
exagera-se na dose e a causa murcha.
Não terá sido o caso, pois a
passarinha em apreço não tolera a flacidez nas certezas.
Dizia ela que se sente muitas vezes
discriminada por tabela, por causa da coisa agarrada a ela que afirma
ser uma vítima de um sistema profundamente machista e que,
alegadamente, priva as fêmeas de direitos que nos são reconhecidos.
A nós pénis, bem entendido.
Confesso que nunca me apercebi desse
fenómeno, embora ela tenha chamado a minha atenção para uma outra
discriminação que até acontece entre as pilas (algumas ainda
trazem agarrados coisos sem alma de coisas), nomeadamente as pilas
pretas. Eu reagi de imediato, invocando a clara preferência de
milhões de passarinhas por uma pila escura, mas ela contrapôs com o
argumento de que residia aí o preconceito: pila preta tem que ser um
pilão. E isso deixa logo à partida as pilas pretas mais pequenas
num embaraço que nem consigo imaginar (fácil de perceberem
porquê...).
Num momento mais acalorado da nossa
troca de impressões ela até recorreu ao vernáculo de taberna para
chamar a minha atenção para o facto de as coisas e os coisos se
mandarem para o caralho, ponto, e em contrapartida mandarem-se sempre
para a cona de alguém, seja da prima, da tia ou da mãe, mas
invariavelmente para uma cona específica, apenas aquela, enquanto para o
caralho pode ser qualquer um a vestir a pele de destinatário daquela
encomenda.
Claro que eu tentei logo puxar a brasa
ao meu sardão e argumentei, nessa altura já completamente fora de
mim – estes desafios intelectuais arrebitam-me imenso, que isso só
provava o apreço dedicado às passarinhas ao ponto de as associar
sempre a uma cona da família, enquanto o caralho surge como um
estranho, uma incógnita sem qualquer particularidade que a defina.
Pode até ser para o caralho que te foda, um grau mais elevado do
insulto, que mantém-se na mesma a indefinição, a identidade e
paradeiro desconhecidos e por isso com boa hipótese de nunca se
encontrar esse caralho em concreto e extraviar-se uma retumbante
asneirada.
Mas a passarinha nem vacilou, apesar de
eu ter chamado a atenção dela até para o calibre dos piropos
dedicados às fêmeas da genitália, que lindo papo de cona, por
exemplo, enquanto a nós o melhor que se pode ouvir é que somos
grandes. Nem inteligentes nem bonitos, apenas grandes ou em
alternativa o drama de um silêncio ou a tragédia de uma gargalhada.
Nem assim ficou convencida, o que até
me serviu de pretexto para combinar na hora o segundo round daquele
estimulante combate de ideias.
Se possível para um dia mais propício
para aprofundá-las...