21 março 2013
Estórias de um passado-presente (V)
Era chegado o dia em que eu já não tinha como arranjar subterfúgios para escapar. Tinha-me comprometido a estar ás 16h no apartamento, e além disso, tinha de começar a resolver a bola de neve que me levou lá e que se avolumava.
Passei a noite em claro, a ler tudo o que me aparecesse pela frente que pudesse preparar-me para o que seria aquele meu dia. De manhã preguicei entre roupa, cabelos, maquilhagem, e os atavios que achava necessários... Parecia que a minha indecisão em tudo o que eram pequenas escolhas era o reflexo mais óbvio da indecisão do propósito.
Pus pés ao caminho, e tentava não pensar. Tentava a todo o custo tornar-me uma folha em branco onde não se pudesse começar a escrever com algo a condicionar o rumo do texto.
Quando cheguei, fui apresentada à "fauna" local, que no dia anterior não estava por lá. Uma miuda bonitinha, cujo nome não recordo, e exageradamente simpática, com a qual não tive tempo de conversar por mais de dez imnutos seguidos porque estava num corropio de marcações e atendimentos. Uma tipa com o maior ar de janada da história, que se abandonava a não-sei-onde numa das espreguiçadeiras da sala de espera. E a madame...
Tentava articular perguntas que me parecessem coerentes com as minhas dúvidas. E lá me foram explicando o que queriam dizer cada vez que atendiam o telefone... E entretanto, uma hora volvida, a Madame achava que eu já estava suficientemente esclarecida e pronta para ser "largada" ás feras. Perguntou-me que nome queria que me chamassem, e eu - tonta - disse-lhe o meu. E ela pergunta-me qual era o meu nome de baptismo, ao que eu lhe respondo que tinha acabado de lho dizer. "Não pode ser, podes ter problemas... ninguém usa o nome verdadeiro!". Naquele momento, numa conjunção de acasos, começa a tocar na TV "Luís Represas - Mariana". Mariana era um nome com o qual eu vivia - no papel - desde há muito tempo. Fez-me sentido. E ficou...
A campainha toca... eram "clientes dos táxis". Três amigos, e duas meninas disponíveis. Lá me apresentei, a tremelicar e meia aparvalhada. Eram emigrantes no Reino Unido, e estavam de férias. Dois deles decidiram que partilhariam a mesma menina, e o outro calhou-me a mim.
Percebeu que eu estava terrívelmente desconfortável... Percebeu que estava assustada, e tentou acalmar-me. Foi simpático - acho -, e tentou dizer-me que se precisasse de ajuda para não continuar o procurasse. Ignorei tudo. Despiu-me, beijou-me o corpo, e seguiu... Recordo-lhe o rosto e as mãos ao ponto de o poder desenhar! Mas não me recordo de mais nada. Fiquei em choque, quando terminou, e acho que nem sequer o acompanhei à porta, despedi ou coisa que o valha. Fiquei ali, recém-nascida e sem saber o que estava sequer a sentir. Refugiei-me no cigarro, e desliguei a mente.
Sei que nessa noite saí de lá com a certeza que não voltava. Não para aquele sítio...
Mimi
blog «Sometimes It Happens...»