"Podes vir para o pé de mim, que eu não te mordo" - disse-lhe ela
com um ar sorridente e num tom quase desafiante.
"É precisamente por isso que não me aproximo mais" - retorquiu-lhe ele, encolhendo os ombros, mantendo-se à mesma distância.
Os pensamentos dele afastaram-se daquele espaço e daquele tempo e embrenharam-se noutros. A sua expressão tornou-se sombria, deixando subentender que o mundo onde o seu cérebro estava, para além de distante, não seria muito agradável, nem iluminado.
"É precisamente por isso que não me aproximo mais" - retorquiu-lhe ele, encolhendo os ombros, mantendo-se à mesma distância.
Os pensamentos dele afastaram-se daquele espaço e daquele tempo e embrenharam-se noutros. A sua expressão tornou-se sombria, deixando subentender que o mundo onde o seu cérebro estava, para além de distante, não seria muito agradável, nem iluminado.
Lembrava-se de estar num espaço e
num tempo onde o afastamento era nulo. Onde ambos estavam tão próximos
que só a pele os mantinha afastados. Onde o toque da boca dela e dos
respectivos dentes o tinham surpreendido. Onde as quase dolorosas
marcas, sempre por ela negadas, eram exibidas com orgulho.
Num tempo que parecia ao mesmo tempo tão eterno e tão fugaz. Um espaço e um tempo tão afastados de si, cujo afastamento parecia tender para o infinito. Quase tão depressa quanto o seu sentimento. Sentimento que agora se aproximava de zero, contrariando toda a matemática e a lógica. Ou talvez tivesse sido a lógica contrariada desde o início. Desde aquele sistemático contestar e protelar da relação. Relação secreta, escondida. Quase inconfessável. Que muitos adivinhavam e tomavam como certa. E acertaram até certo ponto. Até ao ponto do não retorno. Um ponto que apesar de parecer de fuga apenas à vista, tinha sido de fuga inconsciente, mas definitiva. Onde a plasticidade da relação tinha sido levada longe demais, levada para lá do ponto de ruptura.
Durante meses os palavrões, as dentadas, os movimentos, os gemidos e o desejo não lhe tinham saído da cabeça. Martelavam-lhe o cérebro quase com o mesmo ritmo de passagem daqueles pensamentos recorrentes. Minuto a minuto, hora a hora, massacravam-no quase com a mesma intensidade dos momentos de prazer de que se recordava. E agora, nada.
"Estás cheio de fome?" - insistiu querendo ser agradavelmente simpática, enquanto olhava em redor para as mesas ainda repletas - "Eu tenho bastante".
"Tenho. Muita." - concluiu ele afastando-se para procurar algo onde ferrar os dentes.
Num tempo que parecia ao mesmo tempo tão eterno e tão fugaz. Um espaço e um tempo tão afastados de si, cujo afastamento parecia tender para o infinito. Quase tão depressa quanto o seu sentimento. Sentimento que agora se aproximava de zero, contrariando toda a matemática e a lógica. Ou talvez tivesse sido a lógica contrariada desde o início. Desde aquele sistemático contestar e protelar da relação. Relação secreta, escondida. Quase inconfessável. Que muitos adivinhavam e tomavam como certa. E acertaram até certo ponto. Até ao ponto do não retorno. Um ponto que apesar de parecer de fuga apenas à vista, tinha sido de fuga inconsciente, mas definitiva. Onde a plasticidade da relação tinha sido levada longe demais, levada para lá do ponto de ruptura.
Durante meses os palavrões, as dentadas, os movimentos, os gemidos e o desejo não lhe tinham saído da cabeça. Martelavam-lhe o cérebro quase com o mesmo ritmo de passagem daqueles pensamentos recorrentes. Minuto a minuto, hora a hora, massacravam-no quase com a mesma intensidade dos momentos de prazer de que se recordava. E agora, nada.
"Estás cheio de fome?" - insistiu querendo ser agradavelmente simpática, enquanto olhava em redor para as mesas ainda repletas - "Eu tenho bastante".
"Tenho. Muita." - concluiu ele afastando-se para procurar algo onde ferrar os dentes.