10 março 2013

Prostituição - A minha história (IV)

Verão de 1997... (...) Com o conforto de, a qualquer momento, ser possível mudar de ideias, abriram-me a porta e entrei. Desta vez fui encaminhada para a sala onde as "meninas" esperavam pelos desfiles, apresentações era o nome que se dava ao desfile. Julgo que fui a primeira a chegar e fiquei para ali sentada, aparvalhada, a ver qualquer coisa idiota na televisão. Uma a uma, as "meninas" foram chegando, olhavam para mim de soslaio e balbuciavam um "olá", ainda me senti mais aparvalhada. Lembro-me de uma morena de lindos olhos azuis, nos seus vintes e muitos, uma morena novita, vinte e poucos, uma nos seus dezanove com ar de asiática, uma mulata que não tinha mais de vinte e dois anos, também muito bonita. Mais tarde chegaram as mais velhas, uma trintinha e outra que já devia estar nos quarenta. Deviam ser mais mas só me lembro destas. Conversavam acerca da vida delas e de clientes, eu escutava atenta mas a tentar parecer distraída. Encomendou-se pizza e perguntaram-me se também dividia com elas. A Ana e a Glória disseram-me para inventar um nome e, como eu só escolhia nomes de "meninas" que já lá estavam, elas determinaram que eu seria a "Joana". E assim ficou. A Glória levou-me a ver os apartamentos onde as meninas atendiam os clientes, dois num prédio um pouco mais abaixo, do outro lado da estrada e um no fim da avenida que era uma cave. Explicou-me onde estavam as toalhas e os lençóis, onde deitava a roupa suja no fim, que cada apartamento tinha um telefone que só recebia chamadas para a recepcionista nos avisar quando terminava o tempo, que devia fechar a porta do quarto porque alguns clientes gemiam muito alto, que devia tentar sempre passar pelas traseiras da avenida porque os empregados da bomba de gasolina contavam quantas vezes passávamos e gozavam connosco, explicou-me que podia comprar os preservativos à casa ou trazer os meus. Devia tomar sempre banho antes e dar também uma toalha ao cliente para que ele tomasse banho. No fim, tirava o lençol da cama e colocava um lavado. Eu tinha a sensação de estar separada de mim, como se estivesse a ver um filme. Disse-me que, ao fim da noite, a roupa suja era recolhida e levada à lavandaria por ela e pela moça mais velha da casa que já não tinha muitos clientes e assim ganhava um extra por ajudar. Voltámos ao escritório das apresentações e comprei preservativos à casa, não me lembro quanto custou mas a casa vendia-os caríssimos! A Ana veio à sala onde esperávamos e disse-me que iria ter um cliente, deu-me uma chave, disse-me que era na cave, se tinha percebido bem o que a Glória me tinha explicado, que o cliente iria lá ter, que tratasse bem o senhor, que o senhor gostava de "novidades", que o senhor era simpático e mais umas quantas recomendações. Não fiquei nervosa, nem me atrapalhei apesar de sentir os olhos postos em mim, ainda estava com aquela sensação de estar fora do corpo a ver um filme, de chave e mala na mão, saí, fui pelas traseiras como recomendado, entrei no prédio, desci à cave e abri a porta. Entrei, a música tocava "Killing me softly with this song", engraçado os detalhes que a memória escolhe guardar. Explorei o apartamento sozinha, era confortável e com pouca luz. Tocaram à campainha, eu calma, estranhamente calma, espreitei pelo óculo para ver o que me calhava...