"É ser capaz de abraçar a tranquilidade do por de sol que me deste.
Aparto-me do corpo,
Abandonando a voz num grácil descanso.
Eu sou o teu silêncio.
Sente,
Devagar…
Como me enleio pela tua imaginação,
Como se de ti fizesse parte.
Dela,
Não te separarias por nada!
E porque a saberias fina,
Delicada,
Qual folha de papel de arroz,
Apartar-te-ias do corpo,
Abandonando a voz num não menos dócil emudecimento…
E assim,
Incorpóreos,
Existiríamos!
Seríamos de quando em vez
Movimento,
De quando em vez
Tacteio leve…
Era assim que nos víamos,
Quando no céu deste lugar
Nos contámos do que iríamos fazer,
Quando por fim nos encontrássemos!
Estamos juntos…
Acendamos a magia deste momento
E sob a luz doce que dela imana,
Vamos emocionar-nos,
Vamos tocamo-nos sem nos tocar,
Causando com que a pergunta que nos fizemos,
Se deite,
E adormeça, feliz.
Vamos ser a certeza de nos termos,
Deitando fora a distancia,
Saboreando o prazer de ver a resposta acordar
Espalhando-se por nós,
Tornando-se na nossa pele,
Tal como este por de sol que vem aquecer-nos,
Depondo no parapeito do desejo
A certeza de que o amanhã é agora
Tão certo,
Tão vivo,
Tão quente,
E tão só nosso!"
Cristina Miranda
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa