Depois de um Amor qualquer, é preciso aprendermos a não Amar durante algum tempo. É a única forma de conseguirmos Amar outra vez.
Há pessoas que nunca param de Amar. Amam sempre e insistentemente como se o Amor fosse apenas o verbo e não a pessoa que se Ama. Nessas alturas e nessa situação, qualquer um que se atravesse na sua mira passa a ser Amado. Mas mal, claro.
Ser mal Amado é isso mesmo. Alguém nos Ama apenas porque precisa de Amar alguém, seja lá quem for, e fomos nós que nos atravessámos à frente. Podíamos ter sido atropelados por um automóvel na estrada ou ser atingidos por um raio, mas acabámos por ser Amados por um vazio maior do que o próprio vazio.
O Amor dá trabalho, porra! É preciso saber isso. Se ele estivesse ao virar de cada esquina, não era sequer Amor. Era um mero passatempo de fim de semana. Também pode ser, se tivermos noção que não é a mesma coisa.
Subi os degraus dos três andares para ir a casa dela. Quando lá cheguei, a porta já estava aberta. Limitei-me a limpar os sapatos num tapete que dizia "welcome" e fechar a porta atrás de mim. Olhei para o cinzeiro cansado para olhar também para ela, cujas palavras tinham morrido, pareceu-me a mim que sufocadas por meia dúzia de cigarros ansiosos.
Ela estava sentada no sofá azul onde uns dias antes me tinha dito que ia parar e não Amar durante algum tempo. Mas não conseguiu. Nunca consegue. Está sempre a Amar como se o Amor fosse a munição duma arma automática. Quem se atravessar à frente pode dar o corpo às balas.
Há um homem qualquer que dá isso mesmo: o corpo. Depois vai-se embora por tempo indeterminado e ela fica a fumar cigarros na sala. Nervosa. Eu apareço, quase sempre com uma garrafa de vinho, e digo-lhe que depois de um Amor qualquer é preciso aprendermos a não Amar durante algum tempo. É a única forma de conseguirmos Amar outra vez.
Os homens são lixados. As mulheres também.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»