trago-te em mim, como trago as nódoas das outras vidas e as partidas todas, de todos os portos do mundo.
revejo-te, como a uma mirabolante caminhada sobre as traves de madeira dos ossos, e neles inscrevo a tua presença, anónima, arqueada e inocente.
trago-te em mim, todas as noites, aceso como as luzes e os sons que já povoaram a terra, castanha e húmida como as nozes da existência feminina.
és, de todos os motivos, o mais perecível, e o mais eterno, como as maçãs perpetuadas numa tela. as maçãs, são os seios que seguras na linha que antecede a noite, e o perímetro dos sonhos onde encontrarás, de novo, a realidade e o ser.
perdes-te, tragicamente, onde se agitam as nuvens. a nesga de céu que abominas é a mesma onde me passeio, despida, sôfrega de sol e de vento, aurora desfolhada de todas as luas que me nascem dentro.
e permaneces cera, e permaneces voo antecipado, Ícaro naufragado com a força das asas sepultas.
procura. serás a mão que antecipa as marés.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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