Posicionei-me no terraço do prédio da frente. Dali tinha uma boa visão da zona do escritório onde estava o telefone. Afinei a mira telescópica e fiz a chamada. O aparelho tocou, tocou, mas ninguém atendeu. Eu sabia que ela estava em casa àquela hora e liguei de novo. Nada. Finalmente, à terceira tentativa, entrou um homem de roupão vermelho. Não era o meu alvo. Ela veio logo atrás, nua. Com beijos arrebatadores, fê-lo ignorar os toques e debruçou-se sobre a secretária, convidando-o a possuí-la mesmo ali. Resolvi esperar. Adoro ver pessoas a fazer sexo, e aquele espectáculo sabia-me a bónus. O mafioso que me contratou estava certo: a mulher tinha um amante. E que amante, que homem vigoroso ele era... Felizmente, o meu contrato não o incluía. Seria um crime tirar a vida àquele corpo tão másculo. Fiquei imóvel, em êxtase, a mirá-los, até que a tatuagem estampada no braço dele me despertou. Afundei o olho na mira e não queria acreditar. Era o meu marido. O meu marido a aplicar ao meu alvo os mesmos movimentos firmes e profundos com que me tinha brindado horas antes. Atirei nela primeiro, que negócios são negócios. Um tiro certeiro que lhe despedaçou a têmpora esquerda. Depois, despejei nele as restantes munições. Com o dia ganho, senti uma felicidade invulgar invadir-me. Há muito tempo que não disparava por prazer.
Fernando Gomes
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Uma por dia tira a azia