trago nozes, centros nacarados do mundo,
e trago vozes. tragos cardos
como se fossem árvores,
e ondas suaves
onde os xamãs
desnudam
a lei.
sou, das árvores, a intempérie
que nasce onde as flores
fenecem, e as luzes
de uma aurora
desfolhada
[mulher]
onde os dias de antes escrevem
palavras estranhas, raras, justapostas
à sombra onde, esquálidos,
espreitam os teus ossos,
sombra da sombra
do que foste
quando o corpo se erguia
sobre os poros. trago neles o sal
e o suor, as lágrimas e a paixão dos dias.
eram dias de estar só, sem o saber,
acompanhada pelo corpo ausente
com que presenteavas
as noites fingidas
de uma chuva
trazida
pelos dedos.
soubesse eu dos teus dias,
e teriam sido curtas as noites
da água e do movimento milenar
dos braços. soubesse eu das tuas noites,
e teriam sido esculpidas em água
as curvas que, todavia, te desenhei
nos lábios, urgentes como a vida
que parecias ter
dentro.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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