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14 maio 2005

Avé, Encandescente e Webcedário!

O Bits & Bytes, suplemento de Informática do JN e do 24 Horas que desde sempre faz um óptimo serviço público (*1), homenageia còmilfô (*2) a nossa querida, amada e adorada poetusa Encandescente; e o genial, sublime e atarefado Webcedário. É só (e não é pouco) justo. Leiam aqui (*3).
Mais mérito ainda tem este destaque por ser púbico e notório que andam em más companhias (*4).
______________________________________
(*1) ao serviço púbico é que ninguém liga;
(*2) para quem não sabe, é «como deve ser» em francês;
(*3) estás a fazer o quê aqui em baixo? Eu disse "aqui" mas não é na nota de rodapé e sim no link. Tem que se explicar tudo...
(*4) Uí, muá méme!

04 maio 2005

Sugestão da Inha para evitar copianços como o da menina da Escola C+S da Rinchoa, que distribuiu por e-mail uma poesia da Encandescente como se fosse de sua autoria.
O professor Júlio Machado Vaz, no "Amor É..." da Antena 1, já deu o primeiro passo para que o talento da Encandescente se venha para ficar... hmmm...

02 maio 2005

Prescrição para males de amor

Este poema da Encandescente foi escrito no dia 15 de Março. Foi editado por ela ao mesmo tempo, aqui e no Erotismo na Cidade.
Circula um e-mail que atribui a autoria a "uma aluna de 16 anos da escola C+S da Rinchoa". A primeira versão do mail chamava-se "Manifesto Anti-Camões". A segunda "Camões Sec. XXI". Relembremos como a Encandescente odeu o Camões:

Prescrição para males de amor

“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer”


Ah Camões
Se vivesses hoje em dia
Tomavas uns anti-piréticos
Uns quantos analgésicos
E Xanax ou Prozac para a depressão
Compravas um computador
Consultavas a página do
Murcon
E descobririas
Que essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam
Essas mudanças de humor repentinas
Esses desatinos sem nexo
Não eram feridas de amor
Mas somente falta de sexo.
Encandescente

O Pedro Oliveira prefere oder numa versão... menos lírica (que até dói):

Esquentamento

Ah, Camones
Se vivesses hoje em dia
Levavas no olho todos os dias
Uns quantos analgésicos
Para não te doer
Deitavas a Pena fora
Compravas um vibrador
E descobririas
Que essas dores que sentias
Eram feridas de amor


O OrCa, como sabemos, gosta de oder atrás:

ode o Vaz
ode o Machado
quando ode a Encandescente
ode o Júlio ou o Luís
um que é Camões lá p'ra trás
outro Antena Um pela frente

afirmar urge no fundo
a verdade nua e crua
nunca se odeu o Camões
lá p'ròs lados da Rinchoa
que não o ode quem quer
nem sempre quem é capaz
que ele nem é de oder à toa...

mas ode-o a Encandescente
por trás
por cima
pela frente
e o Júlio Machado Vaz
que é porreiro e bom rapaz
dá a ode a conhecer
a um porradal de gente!

e quem assim ode é certo
que lhe sobra engenho e arte
p'ra mandar o chico-esperto
da Rinchoa àquela parte!


O OnanistÉlico remata como ode:

Arder sem amar é dor que se sente
Amor é uma ferida que dói de contentamento
É fogo que não vê a dor descontente
É dor que desatina com o casamento
São versos que choram como toda a gente...

23 abril 2005

O beijo

foto: Piotr Kowalik

Lado a lado.
Ela olhava fixamente os lábios dele.
Duas linhas cerradas naquele momento.

Estendeu a mão.
Com a ponta do indicador contornou-lhe o lábio superior como se o desenhasse com o dedo.
Parou a meio, na concavidade que se forma acima do lábio.

Descendo o dedo tocou os dois lábios.
Sentiu as pequenas linhas que se cruzavam, se juntavam e separavam.
Nos lábios dele.
Na boca dele.

Aproximou o rosto.
Com a língua tocou-lhe os lábios.
Molhou-os de saliva e a saliva foi cola que colou as duas bocas.

E a língua descerrou as linhas.
E na língua dele disse todas as palavras de amor.
E na boca dele respirou.

Encandescente

Isto fez lembrar algo ao OnanistÉlico:

As letras todas num desenho meu,
decalque dum embaciado espelho que beijei.
Gosto-me assim em ti, nos teus lábios meus.
(é isto um beijo? se não o vejo? como sentir-te-lhe-me?)
Escrito nas páginas seladas numa boca; viram-se as folhas com os lábios em verso; são as nossas línguas um livro...
(agora que leio, sinto o que vi... beijo)

20 abril 2005

Maré quente




O corpo quente. Ardia.
Uma fogueira acesa dentro.
O fogo queimava a pele.

“Ay, abraza-me esta noche …”

A pele roçava o lençol.
A pele sensível ao toque. Ao pensamento do toque.
A pressão no peito. O coração acelerado.
A respiração entrecortada.

“Aún que no tengas ganas… Prefiero que me mientas…”

Quente.
O desejo entre as coxas. Tão presente.
Os músculos contraíam-se. A pressão no baixo-ventre.
O corpo erguia-se com a intensidade do desejo.
Em desejo.

“Acerca-te a mi... Abraza-me a ti por Dios...”

O desejo solto. Percorrendo-a.
Vagas quentes.
Uma maré de lava corria-lhe na pele.
Ardia.

“Ay, abraza-me esta noche…
Acerca-te a mi...
Abraza-me esta noche...”

(Ouvindo "Passion" - Rodrigo Leão)
Encandescente

O OrCa não consegue ler nada disto que ode logo:

À Encandescente, que nos traz tantos hinos à vida:

quanta brasa no calor de cada abraço
que em se dando se demoravam a dar-se
e ardiam na braseira do compasso
tão intenso
no enlace dos enlaces
que se davam
tardando a entregar-se

tanto frio naquele arrepio ardente
que queimava as suas peles
em cada impulso
cada grito mais mordido
tão intenso
na tremura do orgasmo
mais convulso

e no espasmo
no soluço
no abandono
saciados e ansiosos e sedentos
se perderam na braseira desse abraço
se encontraram na paixão
por fim silente.

OrCa


Mas a Encandescente não se fica atrás e ode também o OrCa:

Ao Orca que ode como ninguém:

Quando
Quais guerreiros no final da batalha
Jogadores no fim do jogo
Extinto o fogo
Calado o corpo
Saciado o desejo
O grito solto
E o orgasmo
Calor que os envolve ainda
Chega a hora do cansaço
Chega a hora do abraço
Da entrega da ternura
Da partilha do amor palavra
Que mantém o desejo aceso
E sem a qual
Nenhuma paixão perdura.

Encandescente

10 abril 2005

Ékstasis

foto:Stephanie Bourson

- Pára, disse ela.
O corpo tentando fugir ao prazer que sentia perto.
As mãos dele nas ancas puxaram-na. Impediram a fuga.
O rosto dela na almofada. Transpirado, transfigurado de prazer.
Os braços abertos.
As mãos fechadas apertando a berma do colchão.

Ele não parou.
Num movimento ritmado, cadenciado, brincou com o sexo dela.
Olhava-a e sorria enquanto com a ponta do sexo provocava o dela, rodeando-o, fugindo.
Num impulso, empurrando as ancas contra as dela penetrou-a fundo deixando-a imobilizada, o corpo preso ao dele, a respiração retida.

Debruçou-se sobre ela. Disse-lhe ao ouvido:
- Dá-me o teu orgasmo agora.
A língua rodeando, mordiscando a orelha.
A respiração vento que lhe agitava o cabelo.
A voz que a incentivava, a incitava:
- Vem, não te contenhas. Vem.

Não respondeu.
Fechada no prazer.
Puxou-o:
- Ama-me. Não pares.

O corpo um arco. Um espasmo.
Parou.

Ele ficou nela.
Molhou um dedo na humidade prazer.
Com a língua abriu-lhe os lábios.
O sabor do prazer no dedo dele, na boca dela.

Ele movia-se, de novo, devagar...

Encandescente

09 abril 2005

Desafio para 13 de Abril - Dia Internacional do Beijo

Diz o Ferralho que dia 13 é o dia internacional do Beijo. Propõe que marquemos uma chuva de beijos mesmo para esse dia.
O desafio do Ferralho: "A minha ideia era, assim, uma coisa abrangente; em grande! Que usando todas as artes e de todas as artes onde há beijos, chovam beijos na Funda São: os primeiros beijos, os beijos dos outros, os concursos de beijos, os beijos que fizeram história, os beijos mais claros e os mais negros, os beijos que sonhamos. Enfim, pensar no assunto! Que comece a caça ao Beijo."
E dá já uma (por agora):

Todos os beijos deviam ter alma
Beijos que voam, que gritam
Mas há beijos tão rotundamente mudos
Tão tristes, tão nulos
O sabor dos beijos não se explica
É dúbio o que um beijo é, exactamente
Um beijo nunca é o que pode estar a ser
Nunca, de um qualquer beijo
Se diz o que foi, completamente
Mas seja um beijo como queira ser
Em surdina ou segredando
Diz sempre um beijo por si
O beijo que ele próprio é


A Encandescente rebeija [eu não disse rabeja, que seria matéria para cuneto]:

Num beijo respiro
Num beijo morro
Expiro
Num beijo a tua alma inspiro
E num beijo ressuscito.
Um beijo sabe ao que dou
Um beijo é o que quero
um beijo é o que sou.
E em surdina ou segredado
Quando beijo fica claro
Aquilo que o beijo é!

O Vizinho idolatra-me [e sabe que eu gosto... hmmm....]:

Sempre que te peço um beijo
Em locais mais escondidos
Cara feia é o que vejo
Não sorris nem dás gemidos

Mas se em vez de t'os pedir
Os roubo sem dizer nada
Tuas pernas vejo abrir
E sinto-te logo molhada

Por isso já aprendi
Que os beijos que mais gostas
São os que descem por ti
Até ao fundo das costas

Um beijo alfacinha do ajcm:

Dia em que te num beijo
num será de marabilhas.
Atrabesso logo o Teijo
e bou almoçar a Cacilhas.


Uma vez que nada foi dito quanto ao sítio a beijar, o Fernando vem-se com um soneto que canta o melhor dos beijos:

Os teu lábios tão húmidos... Desejo
senti-los outra vez na minha pele,
carnudos e mais doces do que mel
afogueando-me o pau quando o arejo.

Penso na tua boca e todo arquejo...
Preciso urgentemente de papel
pois sinto humedecer-se-me o pincel
enquanto lembro o teu mais quente beijo.

Recordo, minha linda, a noite calma
em que, depois de ouvirmos Jorge Palma,
fomos os dois p'ra Sintra andar de coche.

Osculaste-me então num sítio louco
que eu, maravilhado, fiquei rouco
de tanto gritar: – Oh, que belo broche!
[eu sei que parece mais um brocheto, mas enfim...]

O OnanistÉlico continua a entaramelar a língua nos nossos sentidos:

Que vejo num beijo, vestindo-me em ti?
Nu.
Despindo-me na tua boca com a carícia gulosa do teu sorver, sabes-me-te-nos.
Prazer de ter-te decorada de mim, beijos que te beijam, que nos vestem num só.

Eu tenho que zelar pelas infraestruturas do blog. Ou não me chame São Rosas:

Com esses vossos beijos tão molhados
Empapam e pingam os cortinados
Atire uma pedra quem não peque
Mas... paguem a conta do Cinq à Sec!


O OrCa tardou mas odeu:

Beijos?
Onde? Como? Quando?...
Ainda venho a tempo ou já findaram?
Beijos mil?
Só mais um, se me deixarem
E serão mil e um os que beijaram

Tu, aí, chega cá p'ra que beije
Esses lábios tão belos
Sensuais
P'ra que sacie esta fome
Este desejo
De beijar teus outros lábios
Tão iguais
Quanto daria eu p'ra ter o gosto
De provar esses teus gostos
Desiguais
Pois beijarei os lábios belos do teu rosto
Mas de rastos beijarei os outros mais.


E tu, onde estás que não te beijo?...

08 abril 2005

À flor da pele

foto: Reinhardt Otto

Tenho tantos poemas de amor na pele
À flor da pele
Que só a minha pele não chega
E tenho de os escrever na tua.
Tenho tanta paixão dentro
Que o meu corpo não a comporta
Porque é só um corpo
Por isso no teu a derramo
Dividindo-a por dois.
Tenho tantas palavras por dizer
Que a voz se me embarga
As palavras se atropelam
Por isso te beijo
As digo na tua boca
As guardo em ti.
Para que sendo dois
Digas as palavras
Quando me atropelarem
Quando a voz se me embargar
Quando me sufocarem a mim.

Encandescente
Para mais delícias: Erotismo na Cidade

31 março 2005

Contrato

Foto:Daniel Frauenkoerper


Vou fazer contigo um contrato
Assiná-lo no acto
Com tinta indelével
Invisível
Inextinguível
Com clausulas imutáveis
Duradouras
Inalteráveis
Sanções severas
Duras
Inflexíveis
E se não cumprir o contrato que assinei no acto
Ou não cumprir as cláusulas que preestabeleci
Sanciona-me
Cobra-me
Exige-me resposta:
Porque me escreveste na carne
E me assinaste na pele um contrato
Com a tinta indelével que saiu de mim
Porque te fechaste e me fechaste em cláusulas
Se é a mim que sancionas e punes severamente
Ao não cumprires o contrato
De seres duradoura
Permanente em mim.

Encandescente

29 março 2005

Chegada

Foto:Paul Himmel

Chego e digo, estou aqui
Mas antes de chegar já tu me pressentes
Já tu adivinhas o meu chegar
E no corpo já me sentes
E o teu corpo é íman e radar
Que me localiza no espaço
Que me atrai para os teus braços
Que me prendem num abraço
Que é o ponto de partida
Para o ponto de chegada
E entre um ponto e outro ponto
O teu corpo é a resposta
Ao que o meu corpo ao teu pergunta
Alguma vez parti de ti?
Alguma vez estive ausente
Não é o teu corpo morada do meu
E por isso me adivinhas
E por isso me pressentes?

Encandescente

27 março 2005

Odes no Brejo - Intimidades

(Colhendo no ar a sugestão da Encandescente...)


Toco-te apenas
Nas pernas
Sinto a seda da tua fenda
Fímbria
Fonte de vida
Tua cabeça me toca
No ombro daquele braço
Na carícia das tuas pernas
Fazes do abraço um poema
Num soluço de cansaço
E a tremura dos dedos
É a ternura de enredos
Da sede das tuas pernas
Ah, que seda
Que doçura
Que humidade tão pura
Inunda a mão nas tuas pernas!

OrCa

A Encandescente colhe no ar a ode do Orca (deve ser dos ares da Prima Vera)...

E enquanto a cabeça repouso
No teu ombro, no teu braço
E recolhes o prazer,
Humidade que se esvai.
Ah, que ternura me invade
Que lassidão, que torpor
Que me espreguiço no abraço
Que me abres e me dás
E adormeço nas palavras
Enrolada em carinhos
O corpo em paz, saciado
A mão fechada na tua.


O OnanistÉlico vem-se sempre atrás:

... estando eu num sonho
acordado de encontro ao teu dormir
percorrendo o sonolento corpo
com beijos de te sentir
desperto-me dentro do teu acordar
e o que vejo nos teus olhos?
O prazer do que nos fez amar

26 março 2005

Trocando palavras. Trocando silêncios

Foto:Konrad Gös

Deitada.
A cabeça no colo dele, os pés em cima do sofá, os joelhos levantados.
A mão dele emaranhada no cabelo dela.

Trocando palavras. Trocando silêncios.

A mão dele desceu na camisola dela.
Levantou-lhe a camisola. Deixou-a descoberta.
Continuaram a falar.
A intimidade de quem ama e conhece e se reconhece no outro.
A mão desapareceu dentro das calças dela.
Ela fechou os olhos. Entreabriu as pernas.

Trocando palavras. Trocando carícias.

Ela levantou as ancas. As mãos dele baixaram-lhe as calças.
Ele segurou a mão dela, beijou-a.
Guiou a mão dela. Pô-la entre as coxas. As ancas que se moviam devagar.
A mão dela entre as coxas. A mão dele sobre a mão dela.
As mãos. Os dois olhando as mãos.

Trocando silêncios. Trocando desejo.

Ela arqueou o corpo. Respirou o nome dele.
Ergueu a mão.
Os dedos na boca dele. Ele lambeu-lhe os dedos.
O sabor dela na boca dele.

Trocando palavras. Trocando silêncios.
Trocando-se. Reencontrando-se.

Encandescente

24 março 2005

"Early morning blogs 4"

Foto:Patrick Hoelck
Enquanto o computador liga
Bebo um café
Procuro o isqueiro perdido algures no meio da papelada
Acordei de mau humor e com pouca paciência
Para jogar de esconde-esconde com isqueiro e papéis.
Encontro o objecto fugidio
Acendo o cigarro e começo a passar páginas.
De repente deparo-me com uma das maiores pérolas
De estupidez, burrice e cretinice que já li
Na denominada blogoesfera:
“O maior problema dos ateus é não ter ninguém
A quem chamar durante o orgasmo.”
E pela primeira vez na vida dou graças a deus
Por ser ateia e nele não acreditar.
Sei que quem estivesse a meu lado no momento do orgasmo
Não gostaria de ouvir invocado um nome que não o dele.
E imagino quem escreveu esta pérola de sapiência
Depois do acto consumado
Ajoelhado na cama
As mãos juntas em oração:
“-Ah meu Deus, eu te agradeço
O corpo que puseste ao meu lado
E com quem tive um orgasmo mas que não lembro o nome.”
Diz o segundo mandamento:
“Não invocarás o nome de Deus em vão”
Eu diria mais ainda
Há alturas em que dois chegam e mais um é multidão.
Olho o cigarro e inalo o fumo profundamente:
Abano a cabeça e penso:
Definitivamente! Há piores formas de poluição.


Encandescente

22 março 2005

Maria Madalena arrependida

Foto: Joris Van Daele

Maria Madalena esperou arrependida
Do gesto que não fez
Da palavra que não proferiu
Do impulso que reprimiu
Para não ser tentação.
E ficou sozinha Maria Madalena
Gesto esboçado fechado na mão
Palavra presa debaixo da língua
Impulso, soluço, não tentação.
Ah pobre e injustiçada Maria Madalena
Que lembram arrependida da vida de devassidão
E que eu lembro chorando triste e sozinha
Arrependendo-se
Não da profissão que exerceu
Mas sim
De não ter cedido à tentação.

Encandescente

O OrCa tinha que oder a Madalena:

Madalena arrependida
Ou da vida desvalida
Coitada
Desperdiçada
Dessa vida mal vivida...
Mas Madalena provou
O pão que o diabo amassou
E diz quem por lá andou
Que o próprio Cristo até disse
Que não provar tal delícia
Seria uma idiotice
E segundo alguns anais
Aqueles dois tais e quais
Provaram do doce cálice...

21 março 2005

Cântico lamento

foto: Yuri Bonder

- Que farás quando eu me for?
- Procurar-te-ei em todos os recantos
Percorrerei todas as ruas
Pisarei todas as calçadas
Refarei todos os teus passos
Gritarei nas ruas o teu nome
Acordarei a cidade
E até te reencontrar não dormirei.
- E se não me encontrares?
- Então... Ficarei preso no tempo
Em que estavas presente
Voltarei aos lugares
Onde juntos fomos um
Amaldiçoarei as estrelas
Por brilharem sem tu estares
Cantarei revolta à lua
Por sem ti não se extinguir
E direi baixinho o teu nome
Para que ouças o meu lamento
E viverei para o momento
Em que sejas de novo presente
E te direi:
- Meu amor quanta demora.

Encandescente

Poeta (uma vez)




Quero escrever a mel
A ideia de mim
Na tua pele
Quero dizer no teu corpo
Palavras que inventámos
Em versos que escrevemos juntos
Quero inscrever-te sílaba a sílaba
Contos de aventuras
Na cama, no chão, nas ruas da cidade
E no vento ao pé do mar
Acrescentar ponto por ponto
Em todos os teus recantos
Detalhes de escrivão
Hipérboles, elipses, metáforas
Deixar impressas imagens grandiosas
Gravar com o aparo do desejo
Os sabores de natas com bagas selvagens
Os aromas dos dias de verão
E as cores do vento da floresta
Por uma vez
Sentir que posso ser poeta

Ferralho

E nem todos se podem gabar de receber comentários como estes:

"E és poeta!"
Encandescente

"Centímetro a centímetro
penetras a tua poesia em mim
e inundas-me na metáfora de uma chuva poética."
Maria Árvore

20 março 2005

A construção do amor





Ele começou no Domingo a construir o amor
Porque não era dia de descanso mas o primeiro dia
E no Domingo, dia primeiro do amor,
Olhou-a nos olhos, estendeu-lhe a mão
Disse-lhe: - Eu quero-te.
E nada pedindo e nada esperando
Colocou a primeira pedra
Iniciou a construção.
Na segunda-feira ao falar-lhe deu-se verdadeiro:
- Dou-te todo o tempo, dou-te os meus dias,
O meu tempo será o teu enquanto quiseres.
Ela olhou-o, entendeu a espera,
Entendeu a esperança e a construção.
Na terça-feira ela disse do medo
De todas as dúvidas e interrogações,
Ele ouviu-a em silêncio, calmo e tranquilo
E deu-lhe na voz o que sentia dentro:
- Estarei sempre aqui, nada pedirei,
Só para te ver, só para te ouvir.
E ao dizer de um amor que nada esperando se dava
Na terça-feira dia três da construção
A terceira pedra foi colada e colocada.
Na quarta-feira quando a noite se punha
E a hora sombria para ela começava
Ouviu a voz que lhe afastou o medo
Que segura e serenamente lhe dizia:
- Estou aqui, velarei por ti
Acenderei uma luz, guiar-te-ei os sonhos.
E no quarto dia, quarta-feira, noite,
Não dormiu por ela noite e madrugada
E protegeu-lhe o sono e afastou o escuro
E dando-lhe o seu sono, ofereceu-lhe a paz.
No quinto dia da construção do amor
Ofereceu-lhe o riso e a alegria
Inventou palavras, brincadeiras tantas
Que na quinta-feira a pedra colocada
Tinha tantas cores, tinha tanto brilho
Que ela redescobriu o riso, as cores do dia.
Na sexta-feira ele nada fez
E ela sentiu a ausência no dia,
A ausência da mão que lhe guiava os passos
A ausência do amor que ele lhe trazia.
E ao fazer-se ausente ela descobriu
O que no silêncio ele lhe dizia:
Que seria o silêncio se ela assim quisesse
Que ficaria calado, vendo-a de longe
Que seria sombra que a seguiria.
No sétimo dia ela procurou-o
Procurou-lhe o corpo, encerrou-se nos braços:
- Tudo o que me deste te dou hoje a ti,
Disse-lhe com voz de quem se entrega inteira.
E no dia último da construção do amor
Fizeram amor como antes ninguém fizera
Porque era sábado
Último dia da construção
Porque era o dia último e a vez primeira.

Encandescente

18 março 2005

Prescrição para males de amor

“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer”




Ah Camões
Se vivesses hoje em dia
Tomavas uns anti-piréticos
Uns quantos analgésicos
E Xanax ou Prozac para a depressão
Compravas um computador
Consultavas a página do Murcon
E descobririas
Que essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam
Essas mudanças de humor repentinas
Esses desatinos sem nexo
Não eram feridas de amor
Mas somente falta de sexo.

17 março 2005

Cativo

Foto: Jan Bengtsson


Ele despia a camisa quando ela se aproximou.
Suave mas firmemente empurrou-o contra a parede.

Ele ficou assim.
A camisa meio despida, os braços presos na camisa, entre ela e a parede.
Uma mão aberta, espalmada nas costas dele.
A outra, os dedos abertos, tocou onde começa o cabelo, no cimo do pescoço.
O som do cabelo preso entre os dedos, fê-la sorrir.

Tocou o ombro com a língua, e rindo mordeu-o suavemente.
Parou o riso quando sentiu o gosto da pele na boca.
Fechou os olhos. Saboreou devagar a pele.
Apertou-lhe os braços contra o corpo e colou-se a ele.

Ele encostou a cabeça à parede.
Fechou os olhos.
A camisa semi despida.
Preso na boca e nos braços.
Preso, entre o corpo dela e a parede.

Encandescente

15 março 2005

Segredos

Foto: Nana Sousa Dias

Vou murmurar-te ao ouvido
O que farei com o teu corpo
Estendido numa cama à minha mercê.
Dir-te-ei como te beijarei os lábios
Como te morderei a língua
Como te lamberei o pescoço
E descerei no teu corpo
Até chegar às tuas coxas.
Contar-te-ei num suspiro
Como te afastarei as pernas
E as tocarei por dentro
E me aproximarei devagar
Do teu sexo que me aguarda.
Desejarás então acelerar o tempo
Para que chegue depressa o momento
Que a minha voz te segreda
Que a minha voz te sussurra.