20 março 2005

A construção do amor





Ele começou no Domingo a construir o amor
Porque não era dia de descanso mas o primeiro dia
E no Domingo, dia primeiro do amor,
Olhou-a nos olhos, estendeu-lhe a mão
Disse-lhe: - Eu quero-te.
E nada pedindo e nada esperando
Colocou a primeira pedra
Iniciou a construção.
Na segunda-feira ao falar-lhe deu-se verdadeiro:
- Dou-te todo o tempo, dou-te os meus dias,
O meu tempo será o teu enquanto quiseres.
Ela olhou-o, entendeu a espera,
Entendeu a esperança e a construção.
Na terça-feira ela disse do medo
De todas as dúvidas e interrogações,
Ele ouviu-a em silêncio, calmo e tranquilo
E deu-lhe na voz o que sentia dentro:
- Estarei sempre aqui, nada pedirei,
Só para te ver, só para te ouvir.
E ao dizer de um amor que nada esperando se dava
Na terça-feira dia três da construção
A terceira pedra foi colada e colocada.
Na quarta-feira quando a noite se punha
E a hora sombria para ela começava
Ouviu a voz que lhe afastou o medo
Que segura e serenamente lhe dizia:
- Estou aqui, velarei por ti
Acenderei uma luz, guiar-te-ei os sonhos.
E no quarto dia, quarta-feira, noite,
Não dormiu por ela noite e madrugada
E protegeu-lhe o sono e afastou o escuro
E dando-lhe o seu sono, ofereceu-lhe a paz.
No quinto dia da construção do amor
Ofereceu-lhe o riso e a alegria
Inventou palavras, brincadeiras tantas
Que na quinta-feira a pedra colocada
Tinha tantas cores, tinha tanto brilho
Que ela redescobriu o riso, as cores do dia.
Na sexta-feira ele nada fez
E ela sentiu a ausência no dia,
A ausência da mão que lhe guiava os passos
A ausência do amor que ele lhe trazia.
E ao fazer-se ausente ela descobriu
O que no silêncio ele lhe dizia:
Que seria o silêncio se ela assim quisesse
Que ficaria calado, vendo-a de longe
Que seria sombra que a seguiria.
No sétimo dia ela procurou-o
Procurou-lhe o corpo, encerrou-se nos braços:
- Tudo o que me deste te dou hoje a ti,
Disse-lhe com voz de quem se entrega inteira.
E no dia último da construção do amor
Fizeram amor como antes ninguém fizera
Porque era sábado
Último dia da construção
Porque era o dia último e a vez primeira.

Encandescente

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia