23 março 2010

A minha passagem pelo Estabelecimento Prisional da Guarda

Um técnico de informática é um indivíduo extremamente injustiçado. Dado a horários laborais que, não raras vezes, diferem muito do horário laboral de 8 horas diárias dos "comuns mortais", são muitas vezes vistos apenas como "o tipo que vem limpar o computador". Ora, na verdade, a profundidade da tarefa do técnico vai muito para além desta análise superficial e tem um impacto social muito mais abrangente do que se pensa.


Quando há uns bons anos atrás laborava na cidade da Guarda como técnico de informática, fui incumbido de uma tarefa que, sendo comum, teria de ser realizada num ambiente ao qual estava pouco habituado: o Estabelecimento Prisional da Guarda. Se a perspectiva de entrar numa prisão já de si era suficiente para me deixar nervoso, mais ainda fiquei quando, à entrada, fui revistado e todas as caixas que levava comigo foram cuidadosamente inspeccionadas (apesar de, por lapso, me terem deixado entrar com o telemóvel).
Já agora, a minha missão consistia em... ligar os computadores de uma sala de aula à Internet, por muito estranho que isso possa parecer até porque, imaginei eu, isso poderia dar azo a que circulassem e-mails como "Jojó, lanxa 1 corda amanhã pertuh do muro Xudoexte às 14h00".
Procurando ignorar estes pensamentos e o nervosismo, entrei no edifício principal acompanhado por um guarda e, carregado de material, passei pelo meio dos "residentes" que estavam sentados na escadaria e que só a pedido firme da minha escolta abriram passagem, embora com uma nítida animosidade para com ela.
Ao chegar à porta da sala, o guarda bateu à porta e entrou. Pelo que percebi, estava a decorrer uma aula de matemática ou de geometria, tendo em conta as figuras que estavam desenhadas no quadro. Perante o anúncio de que estava ali o técnico para ligar os computadores à Internet, a aula foi dada como terminada e todos os alunos começaram a sair ordeiramente.
Nisto, um deles abeirou-se de mim e perguntou:
- "Vamos ter Internet?", ao que respondi que sim, que iam ter Internet.
É difícil descrever o ar de alegria que então despontou no seu rosto quando, de olhos bem abertos e com uma voz de indisfarçável emoção, quiçá com uma certa dose de avidez, me atirou imediatamente:
- "Vamos ver gajas??????"
Naquele momento, percebi a importância da minha tarefa. Qual arauto da esperança, eu estava ali para proporcionar, a todos aqueles homens, um lampejo de felicidade e a criar condições para tornar a sua estadia mais suportável, algo que se revestiria de uma importância ainda mais transcendental caso o Jojó não aparecesse com a corda junto ao muro Sudoeste.
Foi este sentimento que me confortou enquanto trabalhava sozinho na sala, ouvindo de parte incerta o som de um bastão a percorrer as grades da secção de alojamento.


Este é mais um simultâneo A Funda São - Blog do Katano*

* Já agora, pedindo desculpa pela ousadia, venho apelar ao voto no Blog do Katano no concurso Super Blog Awards. Actualmente no 4º lugar do ranking (passam os primeiros 5 à próxima fase) as próximas horas anunciam-se renhidas e cada voto conta. Cliquem aqui: http://tinyurl.com/yezcdpa, registem-se e votem! Já agora, sugiro também um voto no blog Câimbras Mentais, da Ana, http://tinyurl.com/ye2gjym.

Serei


Hoje: serei a mais bela mulher da sala.

Semicerrarei os olhos brilhantes
e entreabrirei os lábios húmidos
quando tu subires ao palco
e me dedicares aquela música
que escreveste quando eu adormecia
(de tédio) na tua cama desfeita.

Hoje: serei a mais bela mulher da sala (!)

Recordarei sem mágoa
o momento imperfeito das semifusas
enquanto compunhas -fanático-
aquilo a que chamavas a tua ascensão(!)
e envolver-me-ei (mais uma vez)
na invulgaridade arranhada.

Hoje: serei a mais bela mulher da sala (?)

Não para ti.
Felizmente:
a sala esvaziou-se em atropelos
dessincronizados.

Para mim.
Também felizmente:
a sala encheu-se de vozes,
de luzes e de tudo o que mereço
para além deste presente.

Foto e poesia de Paula Raposo

Conto circular

Estás aqui? São tantas as vezes que te faço a mesma pergunta; sabes que a faço mesmo que os meus olhos me respondam? Sabes o que te estou a perguntar? Escuta-me porque eu digo-te tudo, sempre te digo tudo e acho que o tudo que te digo é sempre o mesmo. Escuta-me, eu não posso falar mais alto, eu nem sequer grito; eu não posso gritar palavras que gritam, elas ficam no ar e não são balões e eu aqui, com medo, sempre com medo que te caiam em cima, que te assustem, que choquem contigo porque não viste que as lancei na tua direcção, porque não as agarraste. Escuta-me, fico aqui e agarro-as de volta e arrependo-me e lanço-as novamente; olhas-me com o efeito do vácuo das tuas palavras cautelosas e eu fico a repetir o gesto até ao infinito. Demora-te nas minhas pernas; dizem tantas coisas quando encontram as tuas, o joelho toca no teu e milhares de palavras engolem a voz de dois mudos; deixa a redoma empalidecer até ter a cor das tuas mãos. Sim, escuta, lembrei-me agora: não, não estás. Não estás, apenas me fazes esquecer, por momentos, que não estás. É o que fazemos, quando as pernas se tocam e enrolam, esquecer que não somos e que só estamos dentro da redoma dos minutos que fogem. Estranho, tão estranho, não estás aqui.

Lady Gaga - «Telephone ft. Beyoncé»



Bainha da espada


2 páginas - basta cricares em "next page" a partir da página inicial acima

oglaf.com

22 março 2010

Sonhos de um corpo nu


É de manhã que eu me visto
Com os sonhos imaginados.
Traço nos olhos um risco delicado
Feito da luz que adorna a minha sede de sonhar.

Bate o tempo
Nesta espera inquieta
Deliciosa e provocadora
Tentação aos meus sentidos

Voam sussurros
Que o sonho canta
Fios entrelaçados
Dos lábios humedecidos

Voraz desejo que desespera
Vontade rouca e sincera
De envolver este sonho
Na paz de um amor puro

À noite,
Reinvento os sonhos de dia trajados
Sob a luz da lua
Por mim
Repetidamente sonhados.



Maria Escritos
http://escritosepoesia.blogspot.com/

Penas

Estás aí? Preciso que me acalmes, a língua sabe-me ao metal do medo. Só desta vez. Não me fales dos perigos, mostra-me as espadas. Desnudar a fragilidade. Esticar o peito, mostrar o pânico entre penas. Tenho tanto medo, tenho tanto medo, tenho tanto medo. Já está. Abri as asas, deixei cair a armadura, era pesada demais para saltar do ninho. É a minha espada, agora, ser. Nem que seja um enorme ai. Estou a tremer. Continuo a andar. Não me escondo mais, conseguem ver que estou a tremer mas não faz mal; todos os pássaros tremem e podem voar com a beleza digna de quem serenamente aceita todas as emoções. Vou saltar. É alto, eu sei, mas não me digas que vou cair, não me faças ficar. A tua certeza da queda é a minha queda certa. Mesmo que tenhas a certeza, sopra-me as asas e fica a ver-me cair, se assim é. Prefiro que beijes a dor em todas as penas que quebre. E que me ensines como ir mais alto. Estás aqui?


Dança do ventre - por Lorena Rossi



O OrCa, quando vê um umbigo feminino, ode logo:

"bela dança - belly dance
ou dizer, quiçá, à outrance
que ela dança sem que dance
e quase pança não pense
que o passe-partout incense
e vele o que o véu acende
no olhar que assim se estende
pr'álem do que o olhar entende
dos sentidos já sem tino
que ela dance e relance
o seu olhar desatino
e seios - coxas - o ventre
entre nós por nós se adentre
a acender-nos o destino...

Ou numa abordagem mais afadistada:

e como montar tal sela
ou ser por ela montado
sem de pronto saltar dela
e ficar todo alquebrado?"


O Bartolomeu contraode:

"Qual alquebrado, qual carapuça!
Português que é Português
Tanto monta Turca como Russa
Quer dê pulos, ou se torça
Venham uma de cada vez
Que não lhe faltará a força!
Mas se vierem às dúzias
Com muita música e véus
E todas bem aparelhadas
Depressa nos levam aos céus
E recebem umas fodas bem dadas!
Digo eu... em Turco... e assim..."

Rapidinha


Alexandre Affonso - nadaver.com

21 março 2010

no dia da poesia... um poema inrótico

no dia da Poesia
fui a uma casa de tia
deixar por lá algum verso
que de atrevido ou perverso
nos fizesse algum sentido
ou trouxesse demasia
no concerto do universo

mas fiquei desiludido
por não haver nesse abrigo
as boas putas coitadas
já todas escorraçadas
por morais e bons costumes
e outros tantos estrumes
em que é o mundo pródigo

só lá encontrei uns velhos
rameiros politiqueiros
que a malta já não indulta
mas cheios de bons conselhos
malvados alcoviteiros
de pôr todos de joelhos
a bem dos da face oculta

e por quanto se anuncia
a não louvar velhas putas
por ser indigno e machista
digo eu que há mais poesia
nessas penosas labutas
do que na corja chupista
que nos esmifra a carteira
bem mais que alguma rameira
muito mais que as velhas putas.

Velas

Deixas-me entregue à fatalidade das palavras banais. Mais um lugar-comum e sou apenas mais uma entre tantas que ardeste. Por isso, acendo um cigarro e conto-te as coisas que não sei. Enchem-me as velas apagadas, quase virgens, em toda a vida só arderam os teus dois minutos. Não chores, não chores, não chores, não chores mais. Se nunca é só o meu corpo que te abraça - bem sabes - até quando o corpo se afasta, o abraço fica. Deitas-me na tua cama com a calma solene do amor e com a intensidade dos desordenados pela paixão a vibrar-te a nudez. O meu corpo ganha ordem no teu, o teu no meu; a imagem do querer aos pedaços fica inteira quando encaixamos assim - eu no lugar teu, tu no teu lugar em mim. Olha as palavras, onde vão? Olha, que agora que não te ouço, elas, ainda assim, estão aqui. Porque foi no meu dorso que as soletraste, devagarinho, com os dedos, e esculpiram quem eu sou agora. É assim que acontece com as palavras de um amor, quando se vai as palavras ganham corpo eterno e branco de estátua - nós ficamos petrificados! E fica-se entregue à fatalidade das palavras banais. Saudade. Dor. Lágrima. Vontade.



__________________________________
Um homem também chora... e o Bartolomeu ode:

"Quando te vens e eu me venho
As palavras ganham corpo...
Eterno e branco de estátua
De ti, tenho sede, tenho míngua
Do teu respirar, do teu sopro
N'alma apaixonada deste velho

Porque foi no teu dorso que soletrei
A mudez de uma paixão sem nome
Encaixado em ti e tu em mim
Que senti a saudade de quem amei
Que senti do seu corpo toda a fome
Que fingi rir mas não. Chorei por fim!"

Tomates


Sabes como a música é importante;
canela, azul, romãs, mãos.
Os meus sentidos, os teus (disfarçados),
os sons e o cheiro bom das especiarias;
as cores lindas que a vida oferece,
o sabor doce (amargo),
o tacto diluído num beijo.

Tu sabes. Claro que sim.
Pensas que é pouco másculo(!)
dizê-lo, parecê-lo ou desejá-lo.

Continuas a ser o mesmo estúpido
mascarado de galã
- que de galã nada tem -
com reacções pouco interessantes.

Reage! Ouve! Cheira! Vê!
Saboreia! Apalpa-me.
Falta-te o quê?!

- Tomates.

Foto e poesia de Paula Raposo

Pamela Anderson para CrazyDomains.com.au

Princípio dos vasos comunicantes


crica para visitares a página John & John de d!o

O Dominador



HenriCartoon

20 março 2010

O Bartolomeu e a lixa nº 20

A Miss Well odeu as enseadas e o Bartolomeu lembrou-se daquele tempo em que...

"Xiiii, já passaram uns bons anos desde que duas amigas decidiram foder-me na praia.
Era uma noite de passagem de ano. Fomos os três para Sesimbra e, de madrugada, sem saber como, já estava no areal da lagoa de albufeira, voltado para o mar, com as duas a «fazerem-me a folha».
Álcool, frio, areia e duas gajas ao mesmo tempo, são uma péssima combinação e... no meu caso, o resultado foi inverso. Em lugar de explosão, aconteceu implosão... se me vim, foi para dentro.
O pior é que fiquei com o sardo cheio de areia que, misturada com a langonha, depois de secar se transformou em lixa nº 20.
Dasss! Na praia, agora, só dentro de água... sem caranguejos por perto."
Bartolomeu

O conto da louca

Ficamos um bocadinho sozinhos na companhia da escuridão. O silêncio é imóvel nos quartos; na alma agita-se e, aliado constante do escuro, atrai os pensamentos que moram debaixo das camas para cima dos lençóis. Lá estão eles, agora, a espreitar. Acendo as velas. Vou ler; fazer nada pode abrir os portões a tudo o que estava de cabeça tapada a dormir o sono agitado e superficial dos esquecidos. Quanto tempo duram estas velas-vassouras de fantasmas? Agora vejo-as no fim. As lágrimas de cera derretida começam a fugir. As lágrimas de sal começam a aproximar-se. Rolam a última lágrima e a primeira lágrima e já aqui transborda o rio negro. A cantilena! A cantilena enche a cabeça e afasta os fantasmas. "A menina das tranças, a menina das tranças, a menina das tranças tinha loiras esperanças, a menina das tranças, a menina das tranças, a menina das tranças tinha loiras esperanças"... Mas a cantilena traz do fundo da memória a música de um piano, a música de um passado alegre sem teclas quebradas. Fantasmas, fantasmas, fantasmas que quebraram as teclas. Retorna a luz pouco tempo depois de terem ardido as velas.Aqueles instantes são o seu momento de gozo, demora-se para se apresentar como pão aos famintos, irrompe plena quando se arrastam de mãos entendidas; a Senhora Misericórdia é cruel. Pode voltar à melancolia, a louca no sanatório.

Schtroumpfs cabeleireiros

Um postalinho enviado pela c&a

Dancemos! Concha Velasco e «Vespa»

Para quando um musical português sobre a FAMEL... ou a SACHS... ou a ZUNDAPP?



O Bartolomeu apoia... e conta:
"Já mereciam, sessenhora!
Teria paí os meus 17 ou 18 quando comprei uma sachs modelo de cross de 6 velocidades.
Nessa altura era maradinho pelo moto-cross, fartei-me de foder motas, guito e o corpinho.
Uma namoradinha da altura, menina queque de Cascais, adorava assapar com o "cromo". Então... para me "armar aos cucos" fazia com ela as curvas do Guincho e as da Pena, sempre a "ripar" com os pousa-pés a roçar no asfalto, o que fazia com que a miúda ficasse toda molhadinha e eu, cheio de vontade para lhe saltar prá cueca.
Uma bela tarde de verão, depois do habitual périplo, enfio por uns carreiros na serra de Sintra, já com a ideia de encontrar um local maneiro para o farfalho, mas levava na ideia um exercício que, se conseguisse concretizar, iria fazer de mim o herói, o mago da modalidade do encavanço.
Depois de um sobe e desce frenético de umas derrapagens e umas rasas aos pinheiros, lá encontrei um local que me pareceu bem e parei o "cavalo".
Treta práqui, treta pracolá, apalpão aqui, apertão acolá, mais beijocas e lambidelas, mais dedos e não sei quê, consegui que a miúda consentisse em lhe sacar as cuecas. Estava a tenda armada, entendi que tinha chegado a hora de realizar a minha projectada fantasia.
Então pego na pita ao colo e afinfo-a em cima da mota, de costas voltadas para o volante.
Deram-se ali uns momentos de equilibrísmo mas, com a minha ajuda e as mãos apoiadas no depósito, a moça lá se segurou. Então o "artolas", de moca em riste, galga pra cima da burra, segura as pernas à equilibrista e... lá entala a carola ao menino. A merda toda era que, como a mota era alta, com os pés no chão, não dava para fazer o vai e vem. Então... plano "B".
Subo para cima dos pousa-pés, aguento-me firme, seguro de novo as pernas da miúda e verifico que, assim, a cona ficava lá muito em baixo. Solução: flectir as pernas e levantar o cu dela. Esta manobra exigiu mais força de braços para ela e maior capacidade de equilíbrio para mim.
Quando olhei para a cara da miúda percebi que o esforço estava a ser demasiado, mas... como me atentava o desejo de realizar aquele número, lá voltei a ensaiar a penetração. E Zummm... o bicho deslizou inteiro para dentro da cova apelativa e hipnótica. Porém, era mister que voltasse até quase à entrada para que voltasse a entrar e por aí adiante até que no céu estalassem estrelas, campaínhas tocassem e anjos harpejassem.
Mas não, na segunda ou terceira encavadela, os braços da miúda falharam e a força muscular traíu a suspensão no preciso momento em que o "nabo" entrava profundamente.
Desequilibro-me, deixo-lhe as pernas e tento segurar-me ao volante, a mota agita-se e tomba e nós os dois junto com ela.
Gera-se uma confusão do caraças, a miúda fica com a perna por baixo da Sachs, eu fodo um joelho numa pedra e... só não parti a mola ao caralho porque caí para o lado contrário. Senão, talvez ainda hoje lá estivessemos os dois, já petrificados.
Sei lá... dizem que aquela serra é mágica!..."

19 março 2010

Momento

Ele deixou-se cair na cama.
Ela esticou-se, lançou a almofada para o chão, pousou a cabeça sobre os braços cruzados, fitou-o e sorriu.
Ele expirou e respondeu-lhe com um sorriso saciado e satisfeito.
Ela piscou-lhe o olho e murmurou:
– Hum… Gosto das tuas palmadas.
Os olhos dele brilharam mais e o sorriso abriu-se:
– E eu das tuas nádegas – respondeu, aproximando-se do rosto dela.
Beijaram-se.

Gula

Os sentidos, qual é o sentido?
Dois são pendentes, e um sentido...

Estava alto e tenso, o órgão vivo,
O estímulo inflecte nas minhas mãos!...

Havia a boca que o tinha... Devastador...
Todo o organismo, neutro vago tremor!

Em ti há chamas em... Num estrídulo duro.
Sucção da boca, que tem na boca, tem, na língua da boca...

Latente, que bate, na fronte, em frente, tua frente louca!
É na boca, é atrás, é na língua, é atrás, voz que suspira, rouca...

Torrente impetuosa, incandescente , extrema tensão!...
Na exausta haste erecta... Numa gula fascinação!...

[Blog Vermelho Canalha]

Quase um poema

Quando me encontrares
deixas-me ser
o teu quase-poema?
Quando me perguntares
deixas-me responder
como quem se declama?
Sabes que os poemas
são tão tímidos
escondidos nos dedos
mas tudo de si dizem
aninhados nas metáforas?
Sabes que os poemas
são tão frágeis
mas tão férteis
quando crescem
na força das palavras?
Quando me beberes
deixa-me escorrer
em versos líquidos de alma.

O caminho mais fácil

Muita gente estuda, trabalha muito, se dedica, sofre para chegar a algum lugar na vida. Sempre em busca da fama, sucesso, reconhecimento, luxo… Tudo gira em torno do status social.
Porém existem caminhos mais fáceis para subir na vida. Um é adquirindo um cartão corporativo do governo. O outro é o mesmo que a menina escolheu:



Capinaremos.com

18 março 2010

A Centopeia



HenriCartoon

Evasão


Todos os nomes cabem
na minha mão
âmago!
o teu dispersa
em tempestade, turbilhão
um gemido aqui
(dentro)
uma loucura dissimulada
tempo!
escorregadio o destilar dos poros
e essa ânsia madura de ter
arde!

Vera Carvalho
Pétalas Minhas
___________________________________
Quando a malta gosta, a malta ode:

"Arde-te o corpo
num fogo escorregadio
Morfologia!
Esteganografia louca
que dissimula os poros
Barbara!
Veleiro desgovernado
vencendo o Adamastor
Utopia!
Dicionário em construção
alto-relevo, em esperanto
Acordo ortográfico!

Olá Vera inquietude...
Bartolomeu"

"Tens um fogo...
Apago!
Sentes um ardor...
Incendeio!
Tens um tempo...
Aguardo!
Sentes a ânsia...
Acredito!
Queres a loucura...
Espero!
Dás um gemido...
Eu grito!
Santoninho"

tocas-me

tocas o meu corpo
com as tuas mãos nuas,
firmes


roças a minha pele
com os teus lábios doces,
molhados


tocas-me
com a fúria de um orgasmo
com a doçura dos teus olhos


Tal e qual

Saber deixar correr. A vida, tal e qual. Como um rio sem barreiras ou o sexo sem fronteiras que acontecem porque sim. Indomáveis, imparáveis no seu curso, no leito, nas batidas que se sentem no peito quando as margens se deixam beijar, os corpos a latejar pelo sangue que corre também nas veias amantes como a água naqueles sulcos permanentes de vida a acontecer, tal e qual.
E é preciso saber, sem dúvida, deixar correr dessa maneira livre e espontânea, simples e consentânea com o ritmo acertado pelos ponteiros desses relógios tão certeiros que o destino cuida de gerir por nós de forma tão aleatória como a que define o percurso de cada rio até à foz onde desagua e se transforma, por osmose desequilibrada nas proporções, numa nova força, salgada, uma outra energia qualquer, exactamente como gostamos de conceber o melhor fim.
Tal e qual, a vida. A correr, deixada assim, à solta pelo tempo marcado para percorrermos o caminho desde a nascente até onde se verifica o ocaso de cada luz individual. Como um rio banhado pelo sol com raios de calor.
Como um corpo e uma alma obrigados a deixarem (es)correr, tão simples, o amor.

Pussy Juice!


Dispensa grandes comentários.
O original, tropecei nele aqui.


Outra forma de actuar na Casa da Música.

17 março 2010

vivemos num dos melhores países do mundo para o sexo...

Sexo puro e duro, como sói dizer-se. Sem barreiras nem estribeiras, curto e grosso, tântrico, elementar e profilático. E sem esforço. Ele está aí, entra-nos porta dentro (ou por onde calha e menos se espera) e nem pede licença.

E vêem de cima, como deve ser, os bons exemplos. Curando de cuidar dos cidadãos, tal é a preocupação dos mandantes (supostamente os elementos activos da relação), na sua agitada sanha em promover a satisfação sexual dos viventes, fodem-nos de todas as maneiras e feitios, numa incessante demanda – quiçá – de um sagrado Graal, que colhe em Epicuro o néctar.

Porque, em boa verdade, todos buscamos a felicidade, pela aponia – a ausência da dor – como pela ataraxia – a imperturbabilidade da alma. Temos, até, uma propensão muito nossa para fundir estas duas… e levitar – uma espécie de apotaraxia que nos pariu...

No corre-corre das portagens, em auto-estradas inoperantes por gigantescas filas de carros e eivadas de buracos com e sem obras; no PEC, óbvia abreviatura do esquema pecaminoso com que estamos a ser sodomizados; na Segurança Social à espera de que façamos filhos que nos assegurem a reforma, quando nós descontamos exorbitâncias… para a nossa reforma; por outro lado e em antítese, nas reformas milionárias e recordistas de velocidade de tanto afilhado do regime; de cada vez que metemos gasolina ou gasóleo; de cada vez que pagamos a electricidade, ou a água, ou o gás, ou o telefone; no maquiavelismo sado-masoquista do IRS; nas taxas «moderadoras» (e tantas outras…), bem como na medicamentação, na Saúde; na miserável rentabilidade dos Certificados de Aforro, quando o Estado paga quatro, cinco, seis, sete vezes mais às entidades a quem vai buscar o dinheiro «lá por fora»; na Educação, pobre, atrofiada e deficiente, mas sempre viva e exploradora, qual «marrequinha de Monsanto», à sombra da qual tanto editor livreiro tem feito fortuna; na Justiça, também ela tântrica, sado-masoquista e careira; na desmesura de uma Assembleia da República repleta de boys e girls, (que nem fornicam nem saem de cima, diga-se, mas fazem-se pagar bem e reformar melhor); na violação sistemática das regras ainda ontem definidas e que mudam de posição como amante inconsistente e volúvel, sem que ninguém seja capaz de lhes acompanhar o ritmo… E o rol seria infinito!

Alguém duvida, pois, que nesta costa banhada por tantas lágrimas de Portugal – como dizia o poeta… - haja também muito miasma misturado nas salsas ondas, tal a imensidão orgasmática em que vivemos?

Eu cá não tenho dúvidas… E já estou pràqui que nem posso, diga-se!


(Desculpa lá, São, mas se não fosse aqui, onde verteria eu este suspiro de sublime prazer?)

IBIZA FUCKING ISLAND by Tatúm





Dos dibujos de la serie
Inéditos (2006)
Lápiz sobre papel Gvarro esboso DIN A4
Click en las imágenes para ampliar
Ver más en Blog by Tatúm

Só porque sim

Não sendo fumador, e com isso desconhecendo por completo (e sem vontade de saber) o prazer que um cigarro possa dar entre os dedos, e para além disso nunca tendo tido o desprazer de lamber cinzeiros, claro que recebi de braços abertos a Lei que proibiu o tabaco em espaços públicos. Se eu sou obrigado a ir a uma casa-de-banho para devolver a cerveja que bebi, que não sendo um vício, é um prazer meu, parecia-me, no mínimo, injusto que tivesse de levar com o fumo de quem disfrutava do seu prazer: o tabaco.

Para mais, enquanto que se eu urinasse em cima de um fumador, nenhum mal viria à sua saúde, já o fumo do seu tabaco era para mim prejudicial. Fazia-me fumador passivo e de roupa mal-cheirosa. A partir do momento em que essa Lei entrou em vigor, aconteceram duas coisas interessantes. Uma delas, terem os espaços públicos fechados ficado mais agradáveis. Sabe bem estar num espaço comercial e não cheirar o fumo. Sabe bem poder comer uma refeição sem tabaco à mistura. A outra coisa interessante: os fumadores estabeleceram rotinas que me divertem. E porque me divertem? Explico já de seguida.

No local onde agora trabalho há alguns fumadores. Quando sentem o apelo de colocar algo entre os dedos, ou algo na boca (e eu teria ideias alternativas para isto), abandonam os seus postos de trabalho e avançam para a rua. A sala de fumo é a atmosfera. E quando lá vão, combinam entre eles a viagem. Convidam-se. Dizem “vamos a um cigarrinho”.

Mas outros há que o fazem de uma maneira que a mim parece mais característica: tentam enfiar o cigarrinho em momentos-chave do dia. Há um homem que passa pelo corredor e grita à colega, “Sofia (nome fictício), vamos fumar antes da reunião?”, ou então “Sofia, vens fumar agora?”. Quando estas perguntas se fazem em voz alta no corredor eu sorrio, porque altero os verbos. Como seria isto com outros prazeres?

“Oh Sofia, vamos dar uma antes da reunião?”, “Sofia, vens fazer-me um felatio agora?”, “Sofia, tens tempo para um cunnilingus antes do almoço?”. Imagino estas coisas e sorrio. Sorrio pensando como seria se isto se dissesse, assim, em voz alta e sem que alguém estranhasse, como seria se ao sair a porta do edifício, em vez de encontrar meia dúzia de agarrados à nicotina, encontrasse malta a dar quecas contra a parede, contra a porta, no chão, por todo o lado, assim durante cinco ou dez minutos, antes de uma reunião, só porque sim.

Possivelmente sorrio porque sei que isso não vai acontecer. Apesar de toda a minha imaginação, essas coisas só porque sim, à porta do edifício, seriam estranhas. E as pedras do chão magoariam os joelhos e as costas.

Nas nuvens

Tinha dedos nublados
deixou-lhe nuvens nos seios
deixou-lhe nuvens nos lábios
e ainda flutuavam
e ainda se roçavam
como ventos enluvados
de memórias de suaves tecidos
memórias de gemidos acetinados
Na última vez que se amaram
das nuvens que os rodearam
ficaram os dedos marcados
palavras inéditas em dicionários
escritos no ventre, novos ensaios
e ainda divagavam
e ainda se reconheciam
no corpo dos dedos nublados.


Lucía, gabinete de sexologia -"O que faço, doutora?"

Mais uma história do livro «Lucía, gabinete de sexologia», com a autorização de publicação pela editora el Jueves:




16 março 2010

Amor?!...


- Ama-me.
É pedir muito?
Possivelmente.

Amar não é para todos:
custa, magoa, revolve as entranhas.

- Amas-me?
É uma pergunta chata?
Possivelmente.

Amar não é para todos:
revolve-nos, magoa, custa sentir.

- Porque amas?!

Amas.
Amas?
Amas!

Não...
És um imbecil
à volta da sua própria cauda,
buscando o que não encontra:
mas saberás o que procuras?!

Foto e poesia de Paula Raposo

_________________________
O PreDatado propõe uma versão fundíssima:

"Mamas-me a chata?
Possivelmente.

Mamar não é para todos
revolve-nos, enjoa (não vale mentir).

- Porque mamas?

Porque sou imbecil,
eu queria mesmo era chupar-te a cauda
mas ando às voltas e não te encontro.

Voltas?
Às sete."

Raízes

Pétalas da mesma flor, folhas da mesma árvore - só quando assim formos podemos enraizar. Ah! Mas entretanto, abraçamo-nos enrolados e nus como raízes soltas e famintas que encontram terra húmida. Das noites nossas fica sempre o teu orvalho quente nas minhas folhas. Não me vou repetir, não me vou repetir, não me vou repetir que aqui me esgoto; só aí, em ti, eu nunca me esgotava; era sempre muito mais o que de ti me enchia do que toda a imensidão que em ti libertava. Tantas vezes nos parece que já é tarde, chegamos assim ao corpo um do outro, montados nesse relógio que nos tenta desmontar; fecha os olhos, o tempo tenta-nos enganar - às vezes parece-me que sabes - é cedo ainda. Ainda é demasiado cedo? O tempo diverte-se, abraçamo-nos e os braços ainda são ponteiros; abraçamo-nos e passamos e o tempo acaba-se quando ainda é e foi demasiado cedo. Só quando assim fossemos - pétalas da mesma flor, folhas da mesma árvore - poderíamos enraizar.

sem fundo...


... porque são cem fundas!


O filho de Kronar


2 páginas - basta cricares em "next page" a partir da página inicial acima

oglaf.com

15 março 2010

Caprichos de amor



Aproximo-me de ti num movimento gracioso de felino enquanto me contemplas com esse teu brilho no olhar. Num gesto suave e sensual começo a beijar os teus pés, sugando um dedo e atirando-te um olhar provocador. Beijo após beijo percorro cada pedacinho das tuas pernas enquanto as mãos acariciam o teu membro viril, que erecto manifesta o prazer que te dou. Roço ao de leve a lingerie preta sobre o teu corpo para me voltar e debruçar sobre aquele membro entumecido que bem erecto me pede para me voltar para ele. Beijo-o e deixo a língua brincar com ele. Inclino-me para que me beijes no sítio exacto e me arranques um gemido de prazer. Sinto a tua língua dentro de mim e a excitação a aumentar. Sinto na minha boca o leve pulsar do teu falo e sei então que está pronto para gozar. Deito-me de costas e abro as pernas para o receber dentro de mim. Ah, como anseio por ti meu amor. Com movimentos ritmados iniciamos a nossa dança lenta do amor, até cairmos extasiados num abraço sem fim.
Faz-me tua outra vez meu amor, então te direi quando por fim te contorceres libertando espasmos e arrepios de prazer.


Maria Escritos
http://escritosepoesia.blogspot.com/

Os amantes

E os braços que se deitam
deito-me neles pela cintura
desce uma madrugada segura,
nela os amantes acordam
nos seus corpos pouco dura
o dia de que se lavam

E os seios que se moldam
em pedintes de ternura
desce entre eles paixão dura
neles os amantes jorram
a marca da sua loucura
até aos lábios que a beijam

E os joelhos que se afastam
oferecem a rosada cura
aos reféns da paixão pura
neles os amantes se lançam
como quem procura
que os dias não mais nasçam.


Cerveja Devassa e Paris Hilton - anúncio censurado (no Brasil!)

Exercício de tiras



Alexandre Affonso - nadaver.com

14 março 2010

O desarme



HenriCartoon

Flechas

Ainda estás acordado? Tantas vezes digo as palavras, tantas vezes as hei-de dizer, tantas vezes digo as palavras que elas vão deixar de ser palavras e vão apenas ser. A magia é o equilíbrio - tantas coisas, tantas vezes me perguntam, como se a tivesse - mas eu nem a tenho, eles não conseguem ver que o mágico és tu. O mágico és tu e eles não conseguem ver a margem do rio onde me trespassaste com a varinha de condão e amarraste, para sempre, a tua magia aos meus tornozelos a rebentar de palavras. Os tornozelos andavam rentes ao chão, agora andam na lua e as palavras também. A magia é o equilíbrio, as palavras devem dominar-me, afundar-me, enrolar-me - comecei a latejar com elas - a magia é o equilíbrio, eu devo dominar as palavras para que não fluam sem harmonia, em catadupa embriagada; o papel é uma toalha que deve ter nódoas de flechas de arcos de sentido e de sentido para além do sentido, como círculos perfeitos de vinho tinto em linho branco. Quando se fizerem sentir, quando explodirem de mim para implodir no outro; quando baterem noutros peitos e conseguirem impor o seu ritmo ao coração do mundo, é então e apenas então que serei mágica como tu. Ainda estás acordado? Não? Dorme, dorme. Um dia vou ser mágica como tu, vou ter a violência abrasadora do teu sentido na minha vida bem no meio das palavras - com a mesma intensidade com que te tenho no meio das minhas pernas, com a mesma intensidade com que te aperto com os meus joelhos e te levo ao fundo sem te deixar respirar mais que o meu cheiro; por instantes vives do meu ar, para sempre as minhas palavras vivem de ti. Não, não se enterram apenas os mortos; quando te enterras, assim, - de corpo em mim, de cabelo molhado a encharcar-me o peito, e fazes um trilho marcado, quase sulcado, a gotas de ti, até aos meus lábios - diz-me que morres; que é quando quase se morre que realmente se vive. Ainda estás acordado?

Acontece


Decididamente não era o meu dia:

cheia de ramela, o cabelo nojento,
duas borbulhas(!) no meio de cada bochecha,
uma vontade imensa de vomitar
e o desconhecimento da data:
que dia era?
sábado? terça feira? sexta feira?
tinha que ir trabalhar ou não?!
Que raio!

Que horas eram?!
sem electricidade não era nada fácil, saber.
Sem rede no telemóvel, ainda menos.

Cheia de frio, a sentir-me horrorosa,
lá me levantei.

O espelho tinha mudado de lugar,
a casa de banho, também.
A cozinha era minúscula
e a sala não estava onde eu pensava(?!)

E?! Eu estava onde?
Nunca o soube.

Mas sobrevivi.

Foto e poesia de Paula Raposo

Megan Fox na banheira - anúncio da Motorola

Já não há respeito...


crica para visitares a página John & John de d!o

13 março 2010

«Esta noite vou beber licor» - Guida

"Esta noite vou beber licor.
Espero por ti, com o jantar já pronto. Terei espalhado velas pela sala e, como escolhemos um dia de chuva e frio, acendo a lareira.
No ar aquela música que escolheste para nós, lembras? Combinámos às 20:00, já são 21:00 e tu não chegas. Tinhas prometido que não te atrasavas. Tinhas prometido que mal chegasses me beijarias e levar-me-ias para a cama e só depois jantaríamos. Tinhas prometido que não aguentavas de saudade. Espero por ti ansiosa com um presente que escolhi para ti como se eu mesma o tivesse bordado.
É que sabes, meu amor, estou farta de promessas. Estou cansada de te sonhar. São dez horas e nem um telefonema. A comida já esfriou e a lareira vai perdendo a cor. Apaguei as velas. Deitei fora a tua comida favorita. Cuspi os teus beijos. Despi-me do teu cheiro que havia sonhado. Bebi o licor. Vesti-me e saí para a rua à procura de afectos. Quando chegares leva o cão à rua e fode-te."
Guida
Blog
Longe do Mundo

O Katano e a sua Minhota visitaram a minha colecção

"Ontem, de passagem pela mui nobre e antiquíssima urbe de Coimbra, tive a oportunidade de visitar a colecção, de objectos dedicados à temática da malandrice, da São Rosas. Digo-vos, aquilo é impressionante e merecia um espaço próprio de exposição. A colecção é um espanto e quase que podia fazer queixa à polícia por ela ter aquilo ali escondido do Mundo. Como se convence uma autarquia a criar um «Museu Erótico»?

Blog do Katano Serviço Público"

Ansiar

De pernas afastadas
desenham-se enseadas
onde estranhos barcos aportam
E nesta enseada
por mim desenhada
tantos adentram
só tu a alagas
Adentras pelas costas
beijo de maresia cálida
tens ondas que rebentam
entre pernas a noite pálida
nas ancas da madrugada
Nos seios deslizam
grãos de areia iluminada
nos lábios escorregam
gotas de paixão prateada
da maresia apaixonada
E nesta enseada
por mim desenhada
muitos adentram
só tu salgas.


Fica desde já avisado!



Capinaremos.com

12 março 2010

palavras...

A propósito da entrada, lá mais para baixo, de «Autoputaria» - poema de Ildásio Tavares – e do excelente comboio poético que se lhe seguiu, com a devida vénia – sim, sim, e com as devidas cautelas, também… - aqui fica o meu poema, pelo comboio sugerido:

ó palavras que me encheis a boca tanto
quanto o pranto preenche a alma vazia
ó palavras que me encheis de tal quebranto
quanto a fome de comer me dá azia

ó palavras que abocanho verso a verso
num poema sem tamanho apetecido
ó palavras com que mordo o universo
ao ficar de tanta fome remordido

ó palavras vinde a mim – tomai-me todo
tende em mim no corpo todo uma guarida
ó palavras dai-me alento se não fodo
pois sem vós nem sei bem que faça à vida

ó palavras de cumprir cada destino
elegantes ou de perfil curto e grosso
ó palavras contra a fome que abomino
dai-me alento que estou pr’àqui que nem posso

ó palavras minhas irmãs ou amantes
masturbáticas solenes coniventes
ó palavras que não fique como dantes
tudo em volta ao sairdes dos meus dentes!

OrCa

___________________________________________
Quem ode também está a pedir para ser odido:

"Serão palavras somente
Que a tua boca enchem?
Ou serão, evidentemente
As palavras que te mentem?
E o que enche a tua boca...
É uma avidez de gente
Um gemido com voz rouca
Um corpo lânguido ardente
Uma fenda que já louca
Te pede que lhe espetes o dente?

Bartolomeu"

A vida inspira-nos


No mais recente spot publicitário da saga Jorge Gabriel/Millenium BCP o protagonista diz que mais vale um pássaro na mão mas o anúncio prova que se trata não de um pássaro (não põem ovos, pois não?) que ele acarinha com ambas as mãos mas de uma passarinha.
Será a isto que chamam mensagem subliminar?

Feitos


Existem momentos que dispensam palavras:
esses são os momentos que todos desejamos.

Sem palavras. Só gestos. Alguns murmúrios,
a água flui, o desejo cresce
e a vida faz sentido.

Esses momentos (que existem),
são partes de um todo;
o todo simples de nós,
esse todo de todo feito
- talvez uma busca-
feito de um momento.

Acaricia-me.
Fiquemos por aqui.

De momentos e feitos.
Feitos os momentos
de partes de um todo
- um todo meu-
flui a água e o desejo,
como gestos de mim.

Foto e poesia de Paula Raposo

O Idiota

O farsolas meneou a cabeça num trejeito estudado de enfastiado interesse e calma displicência, como se fizesse o favor de a ouvir.
Ela falava e sorria. Falava e sorria com a boca, com os olhos e com as mãos. Na realidade, olhando com atenção, ela falava e sorria com todo o corpo.
O farsolas ouvia, mas, verdadeiramente, não ouvia nada. O farsolas estava ali por si próprio, ainda que se desse ares de genuína, mas altaneira, atenção.
Ela que estava ali por ele, provavelmente pensando que ele era outro, continuava a falar, a contar, a dar-se, entusiasmada e feliz, tentando agarrá-lo pelos ouvidos. Fazendo conversa pelos dois.
O farsolas interessado apenas em si e no que podia conseguir dali, procurava, numa elaborada mas oca encenação, acompanhar e reagir à conversa e ia sucessivamente debitando murmúrios, monossílabos, trejeitos e gestos que, sem lhe fazer perder a pose interessada e o mistério sedutor, se integrassem no que ela lhe dizia e contava.
– E tu? – interpelou-o ela, sorrindo.
– Eu? – engasgou-se o farsolas. – Eu? – repetiu teatralmente, com ensaiada modéstia.
Ela confirmou a pergunta com um aceno gracioso e um sorriso paciente. Ele sorriu indolente e engoliu um terceiro eu, fantasiando que ela o viesse a fazer.
– Eu não gosto de falar de mim – declarou, por fim, sério, erguendo a sobrancelha direita. Pousou a sua mão sobre a dela e erguendo-se ligeiramente sobre a mesa para se aproximar dela, ciciou: – Há tanta coisa boa para fazer com a boca e com língua que perder tempo a falar de mim até parece pecado.
Ela viu-o. Não o viu logo porque ainda deixou escapar um sorriso mas quando o viu, viu.
Ela ergueu-se na direcção dele, aproximou-se do ouvido direito e propôs-lhe no mesmo tom de voz:
– Comes-me se me responderes a duas perguntas.
O farsolas murchou e voltou a sentar-se. Ela também.
– Duas perguntas?
– Duas.
O farsolas suspirou ruidosamente, olhou em volta e regressou a ela:
– Duas perguntas, como?
– Duas perguntas sobre duas coisas de que me lembrei quando me disseste que era pecado falares de ti quando há tanta coisa boa para fazer com a boca e a língua.
– Tipo um concurso? – O farsolas não conseguia disfarçar o embaraço que lhe causava nadar fora de pé, numa praia que não era a sua.
– Sim, tipo isso. Queres ou não? – impacientou-se ela.
– Força!
Ela fixou-o, sorriu sem mostrar os dentes e perguntou pausadamente:
– Quais são os pecados capitais?
– Pecados capitais?
– Sim, quais são?
– São 7? – perguntou o ex-farsolas, esquecido da pose, com uma careta de dúvida.
A mulher acenou positivamente com a cabeça. Ele abriu um sorriso:
– Eu vi um filme com o Brad Pitt que...
– Vais responder ou contar-me o filme? – interrompeu ela, olhando para o relógio de pulso. – É que eu às sete e meia tenho pilates.
– A vaidade – começou ele, concentrado –, a inveja,... a... a... ah! a gula... Três – animou-se. – A vaidade, a inveja, a gula, a... Eu sei. Eu sei mais. A preguiça! É?
Ela confirmou.
Ele embatucou. Pensava, olhava em volta, tentava lembrar-se do filme, julgava o que pudesse ser mesmo mau mas nada, não lhe saía nada.
– Tenho direito a alguma ajuda? – Acabou por perguntar quando esgotou todas as formas e tentativas de, por si, conseguir dizer os restantes três pecados capitais. Olhou ostensivamente para o telemóvel pousado em cima da mesa da pastelaria.
– A ajuda do público – respondeu ela, sem pensar.
O farsolas olhou em volta, havia três pessoas em duas mesas, um empregado a servir às mesas e outro atrás do balcão.
– Desculpem – disse alto o farsolas, chamando a atenção de todos e ante o espanto boquiaberto da mulher. – Nós estávamos aqui com uma dúvida, uma coisa sem importância, se nos pudessem ajudar... É que estávamos aqui a falar sobre os pecados capitais, os sete pecados capitais e só nos lembramos de quatro: da preguiça, da vaidade, da inveja e da gula. Faltam-nos os outros três. Alguém se lembra?
A estranheza do pedido causou um silêncio total e os cinco inquiridos entreolharam-se à espera que algum respondesse.
– Ninguém se lembra? – reforçou o farsolas, dando um ar compreensivo à ignorância alheia mas desesperado ao seu pedido.
– A avareza, a ira e a luxúria – respondeu o homem sozinho numa das mesas.
– É? – questionou o farsolas, excitado, virando-se para a mulher.
– É – validou ela.
– Obrigado – agradeceu o farsolas, erguendo o polegar. Sorridente, acalmou, esperou que os olhares dos clientes e empregados os abandonassem e desafiou: – E a outra? A outra pergunta, qual é?
– “Dir-se-ia que estamos em Sodoma, em Sodoma! – repetiu o general, alçando os ombros.” – citou a mulher.
– O que é isso? – espantou-se ele.
– Uma citação de um livro, de um grande livro – corrigiu ela.
– E qual é a pergunta?
– De que obra é esta citação?
– Tu não disseste que as perguntas eram sobre coisas de que te lembraste quando eu disse que há coisas melhores para fazer com os lábios e a língua do que falar sobre mim? – Acusou o farsolas, aflito com a perspectiva de morrer na praia. – Não disseste?
– Disse – aceitou ela. – Foi do que me lembrei: dos sete pecados capitais e em quais podia integrar-te e desta frase.
O farsolas meneou a cabeça num trejeito espontâneo de enfastiado desinteresse e irritada indiferença.
– Como é que é a frase?
– “Dir-se-ia que estamos em Sodoma, em Sodoma! – repetiu o general, alçando os ombros.”
– “Dir-se-ia que estamos em Sodoma, em Sodoma! – repetiu o general, alçando os ombros.” – repetiu o farsolas, em tom solene e com entoação diferenciada. Suspirou e lançou: – “Dir-se-ia que estamos em Sodoma, em Sodoma!”
– Não sabes?
– Achas? – replicou ele, com desprezo. – E, se não querias nada comigo, não sei porque vieste.
– Se queres saber – disse ela –, não sabia que não queria.
O homem manteve-se pensativo, rodando a chávena de café.
– E se eu soubesse? – perguntou.
Ela sorriu e alçou os ombros:
– Tínhamos de dar razão ao general.
Ele olhou-a, emparvecido:
– E isso queria dizer o quê?
– Que era como estivéssemos em Sodoma – explicou ela, sem resultados na expressão dele. – Que sim – concluiu, aborrecida. – Que se tivesses respondido, eu tinha mantido a minha palavra.
– E assim?
– Assim, vamos embora – respondeu ela, puxando da carteira para pagar a despesa. – Cada um à sua vida.
Atento, o empregado aproximou-se, com duas contas na mão. Deixou uma em cima da mesa deles e levou outra ao homem que sabia os sete pecados.
O farsolas olhou para a conta com desdém.
– Eu pago – disse ela, abrindo a carteira em cima da mesa.
O farsolas encolheu os ombros. Ela colocou o valor certo em moedas junto ao pequeno papel da máquina registadora e levantou-se.
– Eu fico – comunicou o farsolas, rancoroso. – Vou beber uma imperial.
Despediram-se com dois beijos esquinados e ela dirigiu-se à porta.
O homem que também saía agarrou a porta e deixou-a passar, com uma ligeira vénia de cabeça.
– Obrigada – agradeceu sem tom a mulher.
– De nada – disse ele, saindo atrás dela.
Caminharam na mesma direcção, mantendo-se o homem dois passos atrás da mulher, até que ficaram lado a lado à espera para atravessar uma rua.
Ele sorriu, ela não, nem sequer o olhou.
– Desculpe... – interpelou o homem, atabalhoadamente: – A senhora desculpe...
Ela virou-se para ele, com ar seguro, quase intimidador:
– Diga?
– É que eu... – O homem hesitou e recomeçou: – É que eu não pude deixar de ouvir a citação que a senhora fez do “Idiota” do Dostoiévski, é um livro magnífico.
– É.

*

– Foi assim, não foi? – perguntou nervoso o homem, olhando as folhas que pendiam do braço do sofá, logo que a elas se juntou a última que a mulher ainda lia.
– Mais ou menos – respondeu a mulher, com um sorriso luminoso, tornando a pegar nas folhas e ajeitando-as. – Isso foi o que eu te contei – picou, piscando-lhe o olho.
– Eu estava lá, minha cara – declarou o homem, sem conseguir disfarçar o gozo da resposta. – Eu ouvi quase tudo.
– Julgas tu – replicou ela, mostrando-lhe a língua e passando-lhe as folhas. – E acaba assim? – perguntou, mais séria. – Eu a dizer “É”?
– Acaba.
– Então tenho de dizer, senão já não bate certo.
– Diz.
– É.

Falta-lhe em estilo o que lhe sobra em entusiasmo

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11 março 2010

A posta cortada rente

Pedófilos e violadores ocupam os lugares cimeiros dos meus factores de repulsa. Nunca aceitarei, entenderei ou desculparei qualquer pretexto que um desses inventar como desculpa para o seu inaceitável desvio.
A questão é pacífica para mim. Não existem atenuantes. E quando, como no caso do engenheiro trintão conhecido como o violador de Telheiras, invocam alegadas doenças e ainda têm a lata de pedirem ajuda não hesito: castração. Química ou propriamente dita, tanto faz. É mesmo de cortar o mal pela raiz e assim ajudar os pobres coitados, doentes e tal, a pouparem-se a tamanho martírio.

Claro que os pudores de muita gente chegam ao ponto de tornar a castração numa solução drástica, desumana e mais não sei o quê. Não falta quem prefira as soluções mais brandas, a fé num sistema judicial que liberta estes desgraçados, doentes e assim, ao fim de um anito ou dois, condenando-os a terem que enfrentar na rua os seus apetites pela aberração. E eu não consigo pactuar com essa corrente cruel que tende a dar cabo da vida a homens como o tal engenheiro de telecomunicações que guardava as terças feiras para ameaçar garotas, adolescentes, com uma faca e assim as obrigar a satisfazê-lo nas suas necessidades terapêuticas. Porque, como o próprio alega em sua defesa, é um doente e precisa de ajuda.

Eu gostava muito de poder ajudar as pobres criaturas reféns de tais maleitas, salvando-as dessa gente que acredita na reinserção social destas vítimas de um cérebro capaz de congeminar esquemas para abusar de gente pequena mas, estranhamente, sem neurónios que consigam processar a repulsa inata de qualquer ser humano perante tentações tão medonhas quanto nojentas.
Dessa ajuda, considerando o óbvio fracasso dos paninhos quentes do costume que dão tanto que fazer a psicólogos, assistentes sociais, polícias, advogados e por aí fora, e sobretudo tendo em conta que se trata de pessoas doentes, constaria a entrega dos pacientes à Medicina.

E nesse contexto eu privilegiaria sem dúvida como terapia uma cura definitiva, com fármacos eficazes. Mas acima de tudo com a misericórdia absoluta de um bem afiado bisturi.

Verdades simples

É essa a verdade que guardo em mim
aquela que consegues ouvir
que te grito pelas mãos quando te beijam
(escuta)
mesmo que eu não diga

É essa a verdade que aninho em mim
aquela que consegues sentir
quando te beijo pelas mãos que te tocam
(sente)
mesmo que eu não diga

É essa a verdade e o princípio e o fim
aquela que sentes sorrir
quando os corpos simplesmente se beijam
(sou)
mesmo que eu não diga

Porque a verdade é sempre simples
(meu amor, tão simples)
quando se (re)conhece a luz
na pele de corpos nus.

Nu Piano Toca Uma Cítara



O dia para mim começa numa ogiva sôfrega (pálpebras abertas) penso em ti...
Por ti elevam-se os meus lábios, tocados.
O sexo, num manancial erecto. Fogo. Atrás de palavras, com a mão numa palavra, onde estou verdadeiramente debruçada. A mão fecha. Pede à boca que vibre. Um pensamento. Na substância deste meu instante carnal. Nu pensar.
Sobre a pele, o falo alto. O rosto queima-se. Num ritmo pensante, que inunda os sonhos. A fantasia queima.
Genitais em seda, apuram-se altos, nos nós dos dedos, na escrita suprema, no sentimento, tu. Colina em espuma, que a escrita arranca à mão que o escreve.
Agora.
Vibram pés, crus, carnais, ofegantes e vivos.
Sinto o plural, escondido na fluência dos movimentos. Atrás das noites, nas minhas noites, das nossas noites, onde a carne se une perfeita como um livro...
Gosto de pensar em ti, em cada um dos teus dedos, suspensos no meu corpo, entre folhas inspiradoras, enchendo-me de cardumes quentes, correntes de ar extremas e únicas.
Existe em mim um piano, quente e rápido. Que estala e aumenta o silêncio, tremente na minha boca pequena, coberta de entoações e poemas.
Existe em ti uma cítara, que me faz tremer do princípio ao fim, onde te amo, lentamente, entre o meu sexo e a tua boca, onde o silêncio é aplainado a cada beijo nosso...

Beijo,