Estás aqui? São tantas as vezes que te faço a mesma pergunta; sabes que a faço mesmo que os meus olhos me respondam? Sabes o que te estou a perguntar? Escuta-me porque eu digo-te tudo, sempre te digo tudo e acho que o tudo que te digo é sempre o mesmo. Escuta-me, eu não posso falar mais alto, eu nem sequer grito; eu não posso gritar palavras que gritam, elas ficam no ar e não são balões e eu aqui, com medo, sempre com medo que te caiam em cima, que te assustem, que choquem contigo porque não viste que as lancei na tua direcção, porque não as agarraste. Escuta-me, fico aqui e agarro-as de volta e arrependo-me e lanço-as novamente; olhas-me com o efeito do vácuo das tuas palavras cautelosas e eu fico a repetir o gesto até ao infinito. Demora-te nas minhas pernas; dizem tantas coisas quando encontram as tuas, o joelho toca no teu e milhares de palavras engolem a voz de dois mudos; deixa a redoma empalidecer até ter a cor das tuas mãos. Sim, escuta, lembrei-me agora: não, não estás. Não estás, apenas me fazes esquecer, por momentos, que não estás. É o que fazemos, quando as pernas se tocam e enrolam, esquecer que não somos e que só estamos dentro da redoma dos minutos que fogem. Estranho, tão estranho, não estás aqui.
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Uma por dia tira a azia