12 março 2010

palavras...

A propósito da entrada, lá mais para baixo, de «Autoputaria» - poema de Ildásio Tavares – e do excelente comboio poético que se lhe seguiu, com a devida vénia – sim, sim, e com as devidas cautelas, também… - aqui fica o meu poema, pelo comboio sugerido:

ó palavras que me encheis a boca tanto
quanto o pranto preenche a alma vazia
ó palavras que me encheis de tal quebranto
quanto a fome de comer me dá azia

ó palavras que abocanho verso a verso
num poema sem tamanho apetecido
ó palavras com que mordo o universo
ao ficar de tanta fome remordido

ó palavras vinde a mim – tomai-me todo
tende em mim no corpo todo uma guarida
ó palavras dai-me alento se não fodo
pois sem vós nem sei bem que faça à vida

ó palavras de cumprir cada destino
elegantes ou de perfil curto e grosso
ó palavras contra a fome que abomino
dai-me alento que estou pr’àqui que nem posso

ó palavras minhas irmãs ou amantes
masturbáticas solenes coniventes
ó palavras que não fique como dantes
tudo em volta ao sairdes dos meus dentes!

OrCa

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Quem ode também está a pedir para ser odido:

"Serão palavras somente
Que a tua boca enchem?
Ou serão, evidentemente
As palavras que te mentem?
E o que enche a tua boca...
É uma avidez de gente
Um gemido com voz rouca
Um corpo lânguido ardente
Uma fenda que já louca
Te pede que lhe espetes o dente?

Bartolomeu"

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Uma por dia tira a azia