25 julho 2005

Bater couros

Ele era pacato, São. Talvez pacato demais para o meu gosto, na solenitude e contenção que punha em todos os gestos. E na falta de inspiração que demonstrava na cama como se estivesse mais preocupado em não falhar nenhuma deixa do papel decorado ou esquecer-se de ditar alguma parte da matéria como a continuar ali a sua profissão.
Nem pensei naquele capricho recorrente de me pedir que sentasse na sua cara. E quando puxei o assunto à conversa, desviou para canto umas vinte vezes até cansado, julguei eu, prometer uma surpresa que me faria conhecer nele verdadeiro alvoroço à flor da pele.
Quando nos voltámos a encontrar no seu quarto, no lusco fusco que os cortinados escuros deixavam entrever, antes que lhe despisse o pólo levou-me aos mãos aos seus mamilos para sentir as argolas que deles agora pendiam. Estendeu-me um expressivo fato de couro preto para que o vestisse e enfiou pela cabeça abaixo uma máscara do mesmo material que só lhe deixava de fora os olhitos e a linguita. Dos dentes deixou-me cair nas mãos uma coleira com corrente metálica e depositou-me nas mãos uma chibata castigadora, feita de ramos de árvore fininhos. Ai São, aí é que me senti transportada para dentro da Laranja Mecânica, a levar com aquela escultura descomunal em cima.
Mas nunca como naquele dia lhe vira os olhos tão almariados e o seu zézinho tão enfunado, sem sequer lhe ter mexido com um dedinho. Encher-lhe as nádegas de riscos rosados secava-me todo o interior que ele teimava em lamber e expirei fundo quando a mão direita dele deixou escorregar para os joelhos o bolsar da sua satisfação.
Nunca mais fui capaz de repetir aquela função de madre Teresa de Calcultá, Sãozinha porque, casmurra como sou, me recuso a aceitar que a alegria de uns possa ser a insatisfação de outros.

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