11 de Março de 1874
- Não me ligue para aqui - sussurrava o Picoto. - Já lhe disse, não me ligue. Quando eu quiser eu ligo-lhe.
O Picoto sussurrava mas quer eu, quer o Oliveira o ouvíamos distintamente. O homem estava aflito.
- Ouviste? - perguntou-me o Oliveira. - Ouviste o Picoto?
- Ouvi - respondi sem lhe dar atenção, era a melhor maneira de puxar por ele.
- Já na semana passada foi a mesma coisa.
- Telefonaram-lhe?
- Quatro ou cinco vezes. É uma mulher.
- Como é que sabes?
- Olha, estive com atenção, apanhei algumas frases aqui e ali, uns tempos verbais, uns advérbios de modo, umas palavras no feminino, tás a ver?! - vangloriou-se o Oliveira. - Ah! E uma das vezes fui eu que atendi e lhe passei a chamada.
- Logo vi.
- Não era a mulher, nem ninguém da família.
- Estiveste com atenção e apanhaste umas frases e uns tempos verbais?
- Não, a gaja disse que era uma amiga e não quis dizer o nome.
- E o gajo responde-lhe sempre assim?
- Das primeira vezes que os ouvi não.
- Então...
- Uma das vezes o Picoto disse que tinha sido muito bom, que já não se lembrava que podia ser assim, que tinha sido incrível...
- É lá...
- Achas?
- Só pode ser...
- Então e a mulher?
- Calculo que não deve saber.
- Sim, é o mais certo - concordou o Oliveira. - O gajo até se anda a vestir melhor, não achas?
- Também tinha reparado. Já não parece um palhaço.
- Mmmm...
- Sim... - as reservas do Oliveira faziam todo o sentido. - Já não parece o palhaço pobre.
- O gajo é um putanheiro do pior - rotulou o Oliveira. Eu não respondi, ele insistiu. - O gajo gasta rios de dinheiro nas gajas...
- Então Picoto, isso vai? - perguntei eu, interrompendo o Oliveira e de forma a que este percebesse que o homem estava mesmo atrás dele.
- Não vai muito bem. - Disse o Picoto deixando-se cair na cadeira e suspirando profundamente. - Chatices...
- Putas - deixou fugir o Oliveira, que arremelgou muito os olhos e fez-se de todas as cores.
- O quê?! - perguntou o Picoto com ar ofendido.
- Putas - intrometi-me eu. - Estávamos a falar da Patrícia e da Carla. As gajas são umas putas, pá.
O Picoto pareceu convencido. Olhei para o Oliveira à espera de um agradecimento mas o gajo, preocupantemente, tem a sua cara de parvo n.º 2. Eu calei-me, baixei a cabeça a fingir que estava a ler e procurei (e consegui) deixar de os ver. Fiquei à espera da bojarda do Oliveira, ia rebentar a todo o momento.
- A Patrícia e a Carla?! - "Duuuhhhh" - Mas nós não estávamos a falar delas - disse o Oliveira. Eu não me mexi. - Estávamos a falar dos teus telefonemas, Picoto, o Pereira estava a dizer que são putas...
"Rosas é que não são e pães..." pensei eu sem coragem de olhar para o Picoto. O Oliveira é um bronco e continuava:
- O gajo diz que tu só queres é putas. Que és um putanheiro do pior - o Oliveira calou-se e riu-se. - Tem graça: um punheteiro do pior a dizer que o outro é um putanheiro do pior!
- Ouve lá, ó Oliveira! - Não aguentei, o cabrão estava a gozar. - Que merda de conversa é essa...
O Oliveira ria-se às gargalhadas.
- Aonde é que está o Picoto? - perguntei eu, avistando-o na outra ponta da repartição a falar com o Antunes. O Oliveira continuava a gargalhar. - Ó seu cabrão, quando é que o gajo se foi embora?!
- Logo - disse o Oliveira entre risos escarninhos [linda palavra, hã?!] - a seguir a tu falares.
- Bardamerda, ó Oliveira, vai levar nas ilhargas!
- Não me ligue para aqui - sussurrava o Picoto. - Já lhe disse, não me ligue. Quando eu quiser eu ligo-lhe.
O Picoto sussurrava mas quer eu, quer o Oliveira o ouvíamos distintamente. O homem estava aflito.
- Ouviste? - perguntou-me o Oliveira. - Ouviste o Picoto?
- Ouvi - respondi sem lhe dar atenção, era a melhor maneira de puxar por ele.
- Já na semana passada foi a mesma coisa.
- Telefonaram-lhe?
- Quatro ou cinco vezes. É uma mulher.
- Como é que sabes?
- Olha, estive com atenção, apanhei algumas frases aqui e ali, uns tempos verbais, uns advérbios de modo, umas palavras no feminino, tás a ver?! - vangloriou-se o Oliveira. - Ah! E uma das vezes fui eu que atendi e lhe passei a chamada.
- Logo vi.
- Não era a mulher, nem ninguém da família.
- Estiveste com atenção e apanhaste umas frases e uns tempos verbais?
- Não, a gaja disse que era uma amiga e não quis dizer o nome.
- E o gajo responde-lhe sempre assim?
- Das primeira vezes que os ouvi não.
- Então...
- Uma das vezes o Picoto disse que tinha sido muito bom, que já não se lembrava que podia ser assim, que tinha sido incrível...
- É lá...
- Achas?
- Só pode ser...
- Então e a mulher?
- Calculo que não deve saber.
- Sim, é o mais certo - concordou o Oliveira. - O gajo até se anda a vestir melhor, não achas?
- Também tinha reparado. Já não parece um palhaço.
- Mmmm...
- Sim... - as reservas do Oliveira faziam todo o sentido. - Já não parece o palhaço pobre.
- O gajo é um putanheiro do pior - rotulou o Oliveira. Eu não respondi, ele insistiu. - O gajo gasta rios de dinheiro nas gajas...
- Então Picoto, isso vai? - perguntei eu, interrompendo o Oliveira e de forma a que este percebesse que o homem estava mesmo atrás dele.
- Não vai muito bem. - Disse o Picoto deixando-se cair na cadeira e suspirando profundamente. - Chatices...
- Putas - deixou fugir o Oliveira, que arremelgou muito os olhos e fez-se de todas as cores.
- O quê?! - perguntou o Picoto com ar ofendido.
- Putas - intrometi-me eu. - Estávamos a falar da Patrícia e da Carla. As gajas são umas putas, pá.
O Picoto pareceu convencido. Olhei para o Oliveira à espera de um agradecimento mas o gajo, preocupantemente, tem a sua cara de parvo n.º 2. Eu calei-me, baixei a cabeça a fingir que estava a ler e procurei (e consegui) deixar de os ver. Fiquei à espera da bojarda do Oliveira, ia rebentar a todo o momento.
- A Patrícia e a Carla?! - "Duuuhhhh" - Mas nós não estávamos a falar delas - disse o Oliveira. Eu não me mexi. - Estávamos a falar dos teus telefonemas, Picoto, o Pereira estava a dizer que são putas...
"Rosas é que não são e pães..." pensei eu sem coragem de olhar para o Picoto. O Oliveira é um bronco e continuava:
- O gajo diz que tu só queres é putas. Que és um putanheiro do pior - o Oliveira calou-se e riu-se. - Tem graça: um punheteiro do pior a dizer que o outro é um putanheiro do pior!
- Ouve lá, ó Oliveira! - Não aguentei, o cabrão estava a gozar. - Que merda de conversa é essa...
O Oliveira ria-se às gargalhadas.
- Aonde é que está o Picoto? - perguntei eu, avistando-o na outra ponta da repartição a falar com o Antunes. O Oliveira continuava a gargalhar. - Ó seu cabrão, quando é que o gajo se foi embora?!
- Logo - disse o Oliveira entre risos escarninhos [linda palavra, hã?!] - a seguir a tu falares.
- Bardamerda, ó Oliveira, vai levar nas ilhargas!
Garfanho
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