06 dezembro 2005

Cu bismo

Oh Sãozinha, desde a adolescência que tenho mais amigos gajos que gajas. E essa intimidade empilhada ao longo dos anos permite-me identificar-lhes os cambiantes de olhar de macho emitidos de soslaio aliados à mímica que os seus corpos emitem sincopadamente perante uma mulher que os magnetize. Concede-me também a graça de lhes ouvir as confidências, em padre investida, essa minha vocação nunca concretizada.

E deste modo, como se fossem cromos, colecciono-lhes os tiques das namoradas, companheiras, mulheres, esposas, amantes ou o que se lhes quiser chamar, para estampar na caderneta de cada um deles. Ao pormenor de saber, por exemplo, que um deles é muito atreito a encontrar miúdas que não usam diu e que por razões diversas acumulam essa condição com a de não ingerirem a pílula, pelo que ele se farta de saltar do comboio em andamento, o que também pode agradecer à sua casmurra alergia à borracha.

São cumplicidades múltiplas que os plasmam em mim intimamente mas sem nunca lhes tocar pelo lado amigo das ancas. E isto São, só me diz que ou eles estão imbuídos dos preconceitos clássicos de que amiga é gajo e de que nunca se é tão íntimo com a nossa mulher, ou então, eu sou feia como o caraças e as tendências para a pintura cubista e as pinceladas abstractas de meu pai, fizeram de mim um quadro inestético aos olhares dos mortais.

Ai que raiva, São!... Será que me posso transformar em gajo ou o melhor é concretizar aquele velho sonho da Natália Correia e abrir uma casa de versáteis putas letradas, ao estilo das casas de meninas francesas dos anos vinte, a declamar poesia e a discorrer sobre a utilidade das figuras de estilo na composição de uma prosa, enquanto se embrenham na acção propriamente dita?...

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