só meto a mão em soneto
se noto nata na estrada
sentindo toda molhada
a mão que na mata meto
e vou da quadra ao terceto
quase sem que dês por nada
nadando a mão mareada
arrimo arrumo e arremeto
abres-te em prata no verso
como porta de um tesouro
onde eu entro já converso
num arremesso de touro
logo amanso controverso
fechando o soneto em ouro.
O OrCa prova do seu próprio remédio, porque a Espectacológica ode-o:
"e quando de manhã te levantas?
ainda te lembras do ouro
porque a estatueta é de mijo
ela olha de soslaio o touro
e reza para que continue rijo
diz-lhe: anda cá meu tesouro
pisca o olho e atira um beijo
ele mija e sacode o besouro
ela húmida parece um queijo
finalmente vão a banhos
extenuados de tanta estrada
ficam limpos e sem ranhos
e ela fica sempre molhada
e ele de diversos tamanhos
sempre prontos na entrada"
O Alcaide reode-o:
"Poeta sou a brincar,
digo a sorrir uma rima;
meu verso é boca que arrima,
p´ra poesia cantar.
Esta quadra vai tocar
No terceto que a mima.
Dá-lhe força que anima
O sonho vai começar
A rima agarra-se tanto
ao amor que lhe prometo
que sorri banhada em pranto!
Toda a poesia lhe meto
(o verso sobe... eu garanto)
e gozo assim com o soneto!"
O OrCa auto-ode-se (isto é, masturba-se em verso):
"como eu gosto destes jogos
a um - a dois - a um cento
quando a um lhe falta alento
noventa e nove são fogos
desdobrados em afagos
furiosos - ternurentos
rapadinhos - penugentos
mais ricos que três reis magos
mesmo não metendo a mão
em tal pratinho de estalo
reavivo a sensação
de haver no mundo este embalo
e fica-me a sugestão
de querer experimentá-lo"
Volta (mas não se volta) o Alcaide: "E eu não gosto?...
Eu sabia que num dia,
na vida iria encontrar
poetas que a versejar
fossem grandes na poesia.
E sonhei que ainda teria
palavras p'ra recordar
mil... estou a exagerar.
Basta o Orca. Que alegria
E venham todos cantar
Ninguém tenha nostalgia
porque o sonho... é sonhar.
Dizer palavras um dia,
frases se as junto no ar,
ideias belas ou... porcaria!"
O Nelo ensina:
"E quem nam xprementa
E nam çe afoita
Nam sabe do gosto a pimenta
E no céu que alimenta
De que gostou o Alcagoita.
Ele comessou tud açim
Fasendo a tal converça groça
Agora vem já até mim
Diz : - Nelo, isto é mesmo açim
É tam bom! Minha nóça!
Éi da forma que todos ção,
Comessam por chamar paneleiro,
E dpois da comixão
Çublimar-lhes o tesão,
Já çó querem no trazeiro
E nam digam coiza reles,
desta arte; uma alegria
Squeçam lá das voças peles
Venham ver quisto nam expele
Apenas só as porcarias.
É uma coiza bem sublimi
Que os Nelos todos conhessem.
Aguentem lá o pau todo firme
Vão se vir cumo éu çê vir-me
Nunca máis duma melhér caressem..."
O Alcaide respode: "Entrou o rabeta a preceito... de qualquer jeito!
Se não estou sereninho
louco da vida que arrasa,
descanso na minha Casa
aqui no centro do Minho!
Venham daí... tenho vinho;
broa, sardinhas na brasa
caldo verde que atrasa
e um cheiro a rosmaninho!
Tudo tem certa beleza.
Nem pensar só em comer
Pois é causa de tristeza...
Vem o Nelo a correr
Vamos rir à sobremesa
vê-lo «cerejas» lamber!"
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