28 fevereiro 2010
Um copo
Um copo. Um brinde.
Vens?
Ficas?!
Um copo e a incerteza,
o brinde e a não certeza...
Vamos?!
Claro.
Ficamos?!
Não sei...
Este copo e este brinde
é por ti. Por aí,
pela certeza da incerteza.
Pelo brinde certo
do copo que não fica...
Foto e poesia de Paula Raposo
Estremecer
27 fevereiro 2010
Amor, tenho um vazio um bocadinho mais vazio.
Podes encher-me um bocadinho? Larga-te,
como um homem se deve largar, bem no centro
das minhas coxas e o meu vazio enche-se de cio.
Amor, tenho um vazio um bocadinho mais vazio.
Podes encher-me um bocadinho? Perde-te
como um homem se deve perder, bem cá dentro,
dentro e fora, mendigo e senhor, rei e vadio.
Tenho um vazio um bocadinho mais vazio, amor;
não creio que seja frio, não creio que seja calor.
Podes encher-me um bocadinho? Cala-te
como um homem quando se deve calar, senta-te
como um homem se deve sentar; despe-te;
não creio que seja prazer, não creio que seja dor;
é este não ser a quase ser que se expandiu
num orgasmo ensurdecedor que nem se sentiu.
O Charlie não pode ouvir falar em amor que ode logo:
"Amor, a caminho, vou andando esconso
de odres fartos e colheita grossa.
Ao pé da horta a besta descanso
enquanto manso te toco à porta
Espreito p'la nesga, o brilho da sala
mas na horta as uvas que a vinho exalam
Levam-me a lingua em pistas molhadas
primeiro p'lo caminho onde as mãos ja lavraram
E entro na sala, primeiro um dedo
a mão trabalhando, na porta quase a medo
E volto a sair, fingindo envergonhado
para voltar depois já de dedo duplicado
E já não é dedos, é tudo mão, uma, duas
a sala de portas abertas e nuas
estremece o solo, a terra mãe quente
afoga-me as mãos, no seu fluido fervente
e não há mais frio nem vontades de nada
nem outro desejo que beber tudo à farta
e retiro as mãos de copo quase meio vazio
que outro cheio já volta, num farto avio"
O Bartolomeu não se lhe fica (mas vai) atrás:
"Amor, como os os teus vazios são três
E o Charlie se encarregou de um deles
Abre bem as tuas coxas, agora é a minha vez
Vamos tirar-te o frio, com o agasalho mais belo
Cobrindo-te com altivez
Com o nosso casaco de peles
Abre para mim o caminho que leva ao teu castelo
Deixa que te tome as muralhas e te fure a porta d'armas
Que te conquiste o paiol e te invada o dossel
Que viole as tuas aias
E o teu mordomo Manel
E no fim... ainda de bandeira hasteada
Cantaremos o belo hino, dos três da vida airada!"
Arre, burro!
Colar «Canterbury Tales»
Balada das Duas Mocinhas de Botafogo
Link directo para o filme aqui.
Dia de Sol!
O bronzeado final vai ficar uma maravilha!
Capinaremos.com
26 fevereiro 2010
Pequena Carta da Vulva às Tuas Falanges
Onde as minhas fantasias se desnudaram e rebentaram.
Perguntei-te, na vertigem do espasmo sísmico, onde eu e tu nos tornamos visíveis.Unidos. Preciosos.
Será apenas um clarão dos centros ou nos meus delírios de fêmea?
Saía ardente, de onde se avassalam os desejos contínuos. Nas falanges. Suor. Carne que vibra dentro em mim. De baixo. Tensão. De cima. Esponja-se na ribeira brusca que nos descerra e nos inunda todos os sentidos, nos altos. Toco-me. Nas zonas últimas, sinto os teus dedos potentes. Plenos. Que me rasgam as trevas internas. Diz. Esmaga. Atiça. A brasa em ferro cai dentro deste nosso dia. Na brecha. Num lugar interior, cortam-me, as minhas orlas em fogo. Sento-te. Cego. Sinto-te. No assimétrico tesão, que na palavra em fogo te entrecruza e te desequilibra.
Espero-vos mais logo, aparecem?
[Blog Vermelho Canalha]
Um dia
Sei dos teus cabelos desgrenhados
e das tuas mãos descobrindo-me
- aos poucos -,
perdida a timidez inicial
(confessa),
tudo foi mais simples.
Continuo a saber dos teus cabelos,
assim, desgrenhados
e das tuas mãos à minha procura;
virás, um dia, alazão e ousado,
dizer-me de mim, o que eu já soube!
Então, eu tentarei inventar-te
nas respostas que não tive.
Foto e poesia de Paula Raposo
Sistema revolucionário de rega automática de jardins
25 fevereiro 2010
Quebranto de amor
No remanso dos teus braços
Meu amor, quero minha alma repousar
Abraça-me sem trégua
Abate esta saudade que me fustiga
Cala o silêncio com que me trajo
Arde de febre meu corpo
Trémulo, inquieto por te sentir
Percorro teu rosto na escuridão da memória
De dia e de noite, tormento meu
Desejo que me atinge como um açoite
Impudico desejo que me enlaça
Me consome e me abate
Clama vorazmente por teu ardor
Suspenso neste quebranto
Onde espero por ti, meu amor
Quero no remanso dos teus braços
Apaziguar a paixão que me devora
Que me transforma numa onda
Mareando em mil suplícios
Que me amarra o entendimento
No fundo dos teus olhos
Desamor quero afogar
Espero em devaneios meus
Este anseio apaziguar, a ti me entregar
Rio com rumo ao mar
Maria Escritos
© Todos os direitos Reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com
Imagem: "Erotic Ballet Boots" de John Tisbury
Salomé: conto da sofreguidão
24 fevereiro 2010
O Tempo Acabou
Ana Paula: conto de um "hoje"
23 fevereiro 2010
Conto enlameado
Ambíguo
É pequeno o mar
para guardar
todas as palavras de amor
que te digo;
o céu de nuvens, carregado,
prenuncia chuva,
água na enchente do rio:
palavras de amor
nas margens submersas.
Enorme foi o mar
Rasando a minha ambiguidade.
Foto e poesia de Paula Raposo
Educação de adultos
3 páginas - basta cricares em "next page" a partir da página inicial acima
oglaf.com
22 fevereiro 2010
Projecto Mulheres Reais - primeira publicação da sessão fotográfica da Paula Raposo
A HR FotoDigital concebeu e pôs em marcha o Projecto Mulheres Reais, cujo mote é: "Procuramos mulheres gordinhas, cheiinhas A Paula Raposo é uma «mulher de armas» e, mesmo sendo inicialmente a idade limite 45 anos (ela tem mais alguns meses...), candidatou-se... e foi seleccionada, levando até a HR FotoDigital a aumentar a idade limite para as candidatas. |
Amor, se não me deres a tua palavra nua... @MissJoanaWell
a roupa dela fica entre a minha pele e a tua...
Deixa-as despir,
primeiro baixinho,
como a brisa começa por sentir
as velas de um moinho.
Amor, já não te entrego a minha pele nua
porque a cautela vestiu a minha palavra e a tua...
Deixa-as sentir,
despir cada momento,
corpo noutro corpo existir
como a brisa existe no vento.
Amor, se vestíssemos a lua, mesmo de belo espartilho,
a nudez do seu brilho, não inundava a rua.
Fechamole
«A fechadura»
Aguarela de Ittosan
21 fevereiro 2010
Pequeno paraíso artificial privado
Bernard: "Petit paradis artificiel privé."
São Rosas: "Paradis artificiel?! Elle me semble bien naturelle..."
Bernard: "Et bien cachée de la vue des voisins."
Fabius von Gugel (1910-2000) e modelo
Roma - Itália - 1950
Foto de Jack Birns
Fonte: Life
Heresias: o conto dos perdidos
Entrou na câmara. Olhou-o, trémula. E agora? Ele soltou duas risadas, irónicas. Agora, sua rapariguinha devassa e perdida? Agora, a sua mãezinha exige que eu a castigue severamente, deve redimir-se do seu pecado. Portanto, onde é que nós íamos? E apontou-lhe o caminho. O sexo ainda erecto, nu por baixo da batina, tinha abandonado a roupa interior na fuga de casa dela. Vá, ajoelhe!
«Kissing (bliss)» - Garm's Kiss
Link do video na página original
Link para download (botão direito do rato e "guardar destino como...")
20 fevereiro 2010
Joana: conto dos gestos
Um só gesto. O rosto encostado, os lábios mendigos, pedintes. A boca abriu e eu na língua. Não! Espera! Ainda não te entreguei a minha sede e a garganta está cerrada!
Mais que um gesto. Puxa as cortinas, afasta os cabelos. Não feches as janelas, olha as minhas avenidas. Não! Espera! Mas o fantasma vermelho, de garras nas ancas, alimenta-se no baixo ventre.
Mais que um gesto. Um capítulo. Mais que um capítulo. A nossa história. Capitulei. As mãos nos joelhos, abres os braços, pássaro. Voo picado, descendente, queda. Engaiolaste o meu coração, amor. As penas nos mamilos. Gotas de chuva da noite no casaco. Pousa o orvalho na concha. O sexo, doce, a céu aberto.
Mais que uma história. Vida. Lanço eu, lanças tu. Morremos à vez. Sobrevivemos para morrer novamente. E mais uma vez. E outra. E uma vez mais. A gaiola escancarada, nua. Só a poça na cama é eterna, bebemos-lhe parte, a parte que não mancha....
Lingerie de tamanho errado não é nada erótica
Adoro comprar lingerie. E fico triste por ver tantas mulheres que não sabem as suas medidas e depois não se sentem bem usando o que compram.
Já nem consigo contar o número de vezes que tive eu de explicar a funcionárias das lojas os conceitos e o que é correcto fazer! Para o soutien, tens que saber o tamanho e a copa:
1. Tamanho: passa uma fita métrica por baixo dos braços e mede o contorno do tórax, logo abaixo do peito. Tem em atenção que existe uma tolerância de 2 cm. Por exemplo, se medes 73, 74, 75, 76 ou 77 cm, o teu tamanho é o 75 (34).
2. Copa: a copa define a configuração e o volume do peito. Mede o contorno do peito passando a fita métrica por baixo dos braços à altura do bico do peito. Por exemplo, se o teu tamanho é o 75 (34) e medes 90 cm à altura do bico do peito, a tua copa é B.
Consulta a tabela abaixo para descobrires o teu tamanho e a tua copa, bem como o tamanho de slips, cintas, bodies, cintos de ligas,...
Na página da Triumph tens uma tabela em que podes colocar as medidas e obtens de imediato o tamanho e copa de soutiens e bodies, bem como o tamanho para slips e cintas:
Ao entrares na página, crica em "Guia de lingerie" e, de seguida, em "À sua medida"
Fonte: Triumph
No Consultório de Moda da Olga Pinto também encontras sugestões interessantes.
19 fevereiro 2010
Prostituição: carta aberta
Não será também prostituição viver com alguém que nos proporciona todos os bens materiais em troca de algumas (poucas) noites de sexo?
São as nossas escolhas.
E porque ao fim de dezoito anos me cansei desse estado, que envolve bastante agressão psicológica, mandei a pessoa em questão dar uma volta.
Passei a ter muito mais sexo a troco de nada – porque devo ser parva -, aliás até porque o P é inicial do meu nome, também.
Os anos que se seguiram não têm sido fáceis e muitas dúvidas me têm assaltado. Uma delas que se tornou bem forte foi a de que, se tudo tivesse acontecido anos antes, eu teria tido sexo a troco de dinheiro, com quem bem me apetecesse e quisesse pagar.
Mas a idade já não era para essas andanças.
Quero com isto dizer, que a prostituição não pode ser um rótulo e que admiro profundamente quem dá a cara.
Subitamente
Encontro no dia, local e hora aprazados:
eu, com um casaco vermelho,
tu, de botas à cowboy e blusão de ganga.
Um metro e oitenta (tu), de fazer perder
a respiração (não a perdi).
O hotel em frente e foi só o tempo
do check-in.
A partir daí só me lembro de ter fugido
pelas 5h da manhã,
quando tu deixaste de respirar
-subitamente-
e eu não sabia que fazer.
Não sei mesmo o que te aconteceu;
não veio nos jornais.
Foto e poesia de Paula Raposo
Tu
Teu odor embriagante
Razão do meu desejo perturbante
Percorre-me em arrepios
Suores frios
Um aroma fulgurante
O gosto da tua pele
Arranca as feromonas da paixão
Este sentido enfurecido
Prazer reprimido
De liberdade e vastidão
Teu beijo no meu corpo fremente
Doces lábios que roçam lentamente
O arder da minha pele
Teu corpo que brada por mim
A respiração em frenesim
Possui-me lentamente
Saciando meu desejo ardente
Tropeça na minha pele
Emboca dentro de mim
Traça um agora sem fim
Maria Escritos – 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com
Terrorismo Inteligente!
Então eles desenvolveram uma nova forma de atentado. Mais prático, barato, sem suicídios, e cá pra nós, mais bonito. Vejam:
Viu a eficiência?
Tem um avião caído ali atrás da foto, caso alguém não tenha visto.
Capinaremos.com
18 fevereiro 2010
Prostituição: carta aberta. Pelos e-mails que me enviam a pedir conselho. Pela responsabilidade de desmanchar ilusões.
Dificuldades? Todas. Tudo é difícil. Começar. Sair daqui.Ter clientes. Não ter clientes. Perceber que a realidade luxuosa que se imagina não existe para a maioria ou que não se chega lá pelo menos sem começar mais baixo. E mais baixo pode ser ganhar trinta ou quarenta euros (ou menos) por cada pessoa que nos despe. E perceber que mesmo que se aceite isso, pode ganhar-se pouco, muito pouco. Sim, eu sei que ali digo que são duzentos ou duzentos e cinquenta euros. E é a responsabilidade de dizer isso que me faz confessar que já foram 25 euros. E que não consegui melhorar as condições por ser muito bonita - não sou - ou por ser muito inteligente. Sorte, foi pura sorte. E a sorte maior que tenho, depois de tudo, é a de estar viva - por sorte, sim.
Dicas? Tem mesmo que ser? Tens mesmo que...? Tentaste os caminhos todos? É que se vais arriscar vida, saúde física e mental, um dia podes ter que explicar a ti mesma(o) porque te fizeste tanto mal. E como vou eu dar dicas a quem pretende iniciar-se, se eu mesma não vejo a hora de sair e só agora tive um vislumbre da porta de saída? Ninguém nos força, ninguém nos obriga, ninguém nos retém aqui mas parecemos presas em teias e ficamos, quase sempre, muito mais tempo do que prevíamos. Acreditem. Ao entrar corre-se sempre o risco de ficar aqui como se fosse a única vida que se conheceu até agora; há quem fique até depois da fase em que se torna ridículo pela idade. Cuidado com o mundo, cuidado com as ilusões, ambição não é ganância, cuidado com a falta de segurança, arriscar o mínimo e rejeitar tudo o que não permitir manter a dignidade.
Não gosto de escrever acerca da minha actividade como prostituta, nem mesmo acerca da prostituição no geral. É a responsabilidade que sinto que me faz fazer isto. Porque recebo vários e-mails de homens e mulheres a pedir conselho. Porque os valores que pratico e o que escrevo podem dar a ideia de luxo e facilidade. Porque não é assim. Porque foi ainda mais difícil, tremendamente mais difícil do que agora é. Penso que cada resposta que dou a cada pergunta pode influenciar uma vida. Penso que o que escrevo por aqui e a forma como consigo fazer as coisas agora podem influenciar decisões. Penso que não tenho a culpa... mas terei culpa se não perceber que, ao virar costas à responsabilidade e ao manter o silêncio, posso mesmo vir a ter. De mim, o que vão ouvir, é a parte deste mundo que é feia, porca e má. E ainda vos asseguro que, depois disso, o que resta por contar é - existe - , mas é muito pouco.
O diciOrdinário ilusTarado visto pela Kikas
Aconselho vivamente pois, neste manual de cabeceira, procura-se evidenciar as diferenças e convergências observadas na elaboração dos dicionários de língua geral e nos dicionários, vocabulários e glossários de línguas de especialidade. A consulta ao dicionário tem sempre uma motivação, nunca é «inocente».
O leitor procura resolver um problema de significado, esclarecer aspectos da linguagem, aperfeiçoar a sua forma de comunicação linguística.
São esses os objectivos do dicionário: preencher lacunas de conhecimento, facilitar a comunicação linguística, aperfeiçoar os meios de expressão, descodificar correctamente as normas sociais e científicas e aumentar ou desenvolver o conhecimento sobre o parceiro.
Ora vejamos o que nos reserva o "O" (já dizia a Ana Malhoa: e tudo começou no Ó... ó, ó, ó!!!
Ode – composição poética lírica enaltecendo o potencial sexual de alguém, tipicamente escrita depois do acto (ver oder)
Oder – fazer odes eróticas, odendo a torto e a direito, a todas e a eito
Odisseia – ode e ceia (de preferência por esta ordem, para evitar congestões)
Odomizar – fazer odes a inserções traseiras
Olarila – forma de chamar um paneleiro
Olhão – olho de dimensões hiperbólicas; o mesmo que Boavista
Onanimismo – onanismo unânime, prática generalizada de masturbação
Opiçodele – equivalente masculino da apitadela
Oralgésico – medicamento alternativo para quem não tolera analgésicos
Orgasmar – organizar uma orgia. Daí a palavra de ordem mais ouvida nesses ambientes: “orgasmisem-se”"
Kikas
Blog FuckyTales
O diciOrdinário ilusTarado continua a poder ser encomendado aqui.
17 fevereiro 2010
O Que Não Mata
Não me querias ver, nem ouvir, lembras-te?
Querias enterrar o nosso caso – foi o que lhe chamaste – e esquecê-lo. Esquecer-me. “Esquecer que tu existes, que exististe, que te amei e que nos amámos”, foram estas as tuas palavras, lembras-te?
Foste definitiva e não tiveste contemplações. Fizeste bem, percebi depois. Muito depois, mas a incapacidade de perceber antes foi minha. Só minha.
E pediste-me para ir buscar as coisas num fim-de-semana em que tu não estavas e para deixar a chave em cima da mesa. “Leva o que quiseres” disseste. “Leva tudo.”
E despediste-te com o mais frio adeus que eu ouvi alguém dizer.
Ainda bem. Foi bom. Ardeu mas curou.
Placebos de paixão
que a lado nenhum pertenço,
sem nada meu, apenas este desejo
sempre demasiado intenso,
esta fome de saudade murcha;
saudade de quê? Saudade de quem?
Não tem alguém, não perde ninguém;
não pinta, só mancha.
E eis que vejo e prevejo
o vazio imenso em mim a crescer,
pois que tanto me despejo
que nada me pode encher,
esta febre de vontade queima;
febre de quê? Febre por quem?
Não aquece ninguém? Não aquece alguém;
não arde, só chama.
E eis que me vejo
lasciva, corpo de mão em mão.
Amantes? Um cortejo,
são placebos da tua paixão.
Sei lá…
Alguém sabe por que?
Capinaremos.com
16 fevereiro 2010
Ficheiro secreto
Afastou-se para lhe dar entrada e mal teve tempo para balbuciar um bom dia enquanto ele fechava a porta com um pé e a agarrava com os seus braços fortes com a firmeza que lhe conhecia e a arrastava aos poucos para o quarto onde ela bem sabia o que a esperava, já meio despida e ele todo espalhado por cima de si.
Ambos sabiam que o tempo urgia e nenhum tempo se perdia a conversar, era o prazer a comandar mais o instinto que os mantinha rotinados naquela visita ocasional mas frequente o bastante para que já nem precisassem de combinar, ele só precisava de aparecer com aquela vontade tremenda tão bem reflectida no seu olhar.
Como uma boneca de trapos via-se colocada na posição que ele decidia enquanto a comia, sôfrego pelos dias de ausência que se impunham para evitarem repetir algum tipo de convenção naquilo que nem assumiam como uma relação mas apenas como um imperativo carnal, uma terapia sexual para algumas das suas lacunas por preencher.
E ele preenchia tudo aquilo que havia, dominador, e devassava-lhe o interior com a força do seu desejo, o gosto do proibido que afinal era consentido mas só podia acontecer assim, de surpresa, num momento qualquer do dia onde se cruzassem ou nos raros dias em que soubessem o paradeiro um do outro, o que lhes denunciava à partida a sede daquela fonte de vida que os estimulava a um ponto tresloucado e os empurrava para aquele ritual mantido em segredo mas quantas vezes acrescentado em tesão pelo risco corrido sempre que ele aparecia sem avisar.
E ela entregava-se sem hesitar porque não conseguia dispensá-lo dos seus dias tão iguais, tão isentos de emoções poderosas como aquela que sentia quando ele a possuía assim, palavras poucas e só mesmo no fim de alguns minutos de uma atracção animal, inexplicável, que mantinha aquela loucura indispensável entre duas pessoas sem ligação emocional assumida, ligadas apenas por laços de um passado recente que deveria ter-se esgotado num presente que os impedia (mas apenas em teoria) de viver aquele pecado a dois.
Ele limitava-se a seguir o seu caminho depois de cumprido o desígnio que o motivava, sabia que pouco durava aquele momento que ela encaixava no seu corpo e no seu tempo e num espaço remoto da consciência que anestesiava e assim não atormentava com sentimentos de culpa que pudessem destruir o encanto daquele apelo que pretendia manter porque sentia que precisava daquela pica que lhe dava o sexo porque sim.
Não aceitava que um dia chegasse ao fim, aquela explosão aleatória de tesão tão necessária para o seu equilíbrio mental, que do ponto de vista emocional estava bem servida porque tinha, para além daquela relação clandestina, quem lhe fornecia o carinho e o amor mas lhe falhava com aquele furor que ansiava muitas vezes num fogo que a consumia e só aquele homem possante lhe conseguia apagar.
Por isso ela às vezes até queria e lutava para impor a si própria um dia para aquela situação insana acabar mas nunca não conseguia mais do que apenas adiar.
Aroma doce
Adivinho a tua voz
sobre as flores do meu jardim;
os teus gestos têm o aroma doce
de fruta madura
-adivinho-te-,
no regresso ansiado
entre um voo marcado
e uma sombria chegada.
Adivinho os teus passos na calçada
(com a preguiça habitual
das tuas manhãs de Inverno).
Foto e poesia de Paula Raposo
15 fevereiro 2010
Amor ou sexo?
- De sexo, claro. Que percebes tu de amor?
- E que percebo eu de sexo?
- Percebes?
- Só percebo aquilo que faço.
- Nunca ninguém se queixou do teu sexo, pois não?
- Também tinha alguma graça trazermos um livro de reclamações.
- Acho que os homens preferiam um livro de instruções.
- Mas só consigo falar de amor.
- Mas se falares de sexo expões-te menos, já pensaste nisso?
- É curioso não é?
- O quê?
- Isso. A exposição. Realmente não me sinto muito confortável quando levanto a pele.
- Mas se falares de sexo é bem mais aliciante. E em complemento com as imagens que escolhes funciona muito melhor.
- Pois…deve ser.
- E o amor é uma coisa complicada.
- Pois, e o sexo é descomplicado.
- Nem sempre mas é muito mais simples do que o amor.
- Mas faço sexo com amor.
- Fazes sexo e fazes amor.
- Não, faço sexo com amor.
- Isso é…complicado.
- Não é nada. Faço sexo como nunca antes. Mas aprende-se com o passar dos anos e com sorte.
- Sorte?
- Sim, sorte. É preciso sorte para encontrarmos a pessoa certa.
- E como sabes que a tua é a pessoa certa?
- Senti quando demos o primeiro beijo, quando o senti pela primeira vez, pelo arrepio na pele, no suor das mãos, no quanto me faz rir e como consigo ser genuína.
- Sem jardim secreto?
- Sim, sem jardim secreto.
- E o sexo?
- É feito com amor.
- E o amor?
- É o melhor dos orgasmos.
Não percebo nada disto mas...
The pussy lover
* Esta imagem foi encontrada algures na web, não me recordo exactamente onde. Se é sua, avise, para crédito ou remoção.
* This image has been taken somewhere from the web, can't quite recall where. If it's yours, let me know, for credit or removal.
Porosidade etérea... e erótica
No Poesia Erótica 45, Luís Voz d'Ouro Gaspar deu-me a conhecer o blog Porosidade Etérea: "é um espaço na internet, dedicado à poesia, que já alcançou um lugar de primeiro plano na blogosfera em língua Portuguesa. Notícias, autores, eventos, lançamentos de livros, biografias, efemérides, um mundo de informação para autores e leitores, para quem, enfim, gosta de poesia. De vez em quando, informalmente, a Inês desafia os seus visitantes a enviarem poemas sobre um determinado tema. Pela segunda vez escolheu o erotismo e foi...um sucesso. Em poucos dias recebeu perto de uma centena de trabalhos."
Podem encontrar por lá os nossos Jorge Castro, Paula Raposo, Joana Well, Maria Escritos, o Quim Nogueira do Lobices (que tem andado desaparecido destas bandas) e muitos outros poetas que também ficariam muito bem por aqui.
Deliciem-se com poemas de seis poetas: “E se o riso” de Fernando Aguiar, “Clube Privado” de Fernando Girão, “L(e)itania” de Jorge Castro, “Luandino” de Maria de Fátima. “Membro a Pino” de João Norte e “Espanto deitado” de José Alberto Mar, ditos pelo Luís Voz d'Ouro Gaspar.
Ilustração - poema gráfico de Renato de Mattos Motta.
Cavalo alado
que os meus dedos são os seus ponteiros
e os amantes são bravos guerreiros
mas só o desejo os atenta.
Lá, onde o mar não afoga
que as minhas mãos são as suas ondas
e as mulheres são fortes amazonas
mas só a paixão as ataca.
Lá, onde o ar não sufoca
que os meus seios são as suas nuvens
e os soldados são corajosos homens
mas só o amor os afronta.
É lá, nessa terna morada,
onde o tempo não inquieta,
onde o mar não afoga,
onde o ar não sufoca,
que o desejo atenta,
que a paixão ataca,
que o amor afronta,
que eu amazona, tu soldado
selamos a madrugada,
nosso cavalo alado.