Estremeço, sim, amor? Eu estremeço, lembras-te? E estremecer, ainda te lembras do que é estremecer? Já conseguiste perder-te assim, sem mim? Já fizeste voar mais gemidos e suspiros? Já mais alguém apanhou os teus do ar e os prendeu nos cabelos? Devia ter-te agarrado bem, bem no meio das minhas coxas, fincado os pés nas tuas costas; devia ter parado esse teu vai-vem - esse erotismo triste sulcado de um eminente ir - ficavas num eterno vem, num constante vir. Ficar mudo, ainda te lembras de ficar mudo? Tantas palavras rebentavam a voz, não existia palavra para tantas palavras. Paravas e eu abria os olhos; paravas para eu abrir os olhos e enchias os teus de mim, da pele das minhas pernas escancaradas para olhares por mim a dentro; nem olhos nem pernas, só janelas e tu no interior de mim - em casa. Já entraste mais, amor? Ainda sabes o que é entrar? É estremecer.
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Uma por dia tira a azia