31 janeiro 2011
Poliamorismos machões
Não a Mim, Domine
Cavalgo em estreito caminho de espinhos em permanente desvio, olhando para trás e vendo a Luz à frente. Salto as barreiras que me colocas aguentando o corcel erguido e agora a caminhar, aproximando-me do clarão cada vez mais apagado.
O rodopio em torno de mim traça sulcos na terra que piso. Perfeitas trincheiras solitárias de complexo acesso que sequer a visão chega.
Túneis de sentido único que outrora imperfeitos, deixam entrar brisas frescas augurando luzes de alegria do lado de lá.
30 janeiro 2011
Dos elefantes no peito
a dor que o cinzento em todas as coisas;
que mordam o ódio, a dor, a verdade, entredentes
e que possam sair na fúria cega das palavras.
Serena-me mas nunca me acalmes. Por mais que tentes
eu agarro a violência, a chama, a paixão e as lágrimas;
na selva do peito hão-de ecoar como centenas de elefantes
em corrida, o forte estrondo da liberdade pelas florestas.
«Quinze contos para nada» - por Rui Felício
O Alberto, caixeiro viajante, vivia em Coimbra, mas passava a semana fora, a vender os seus produtos por todo o País.
Sempre que calhava passar por Penamacor, hospedava-se na Pensão Alzira. Era como se já fosse da casa. A Alzira e o João, seu marido, tratavam-no como se fosse da família.
Certa noite, depois de jantar, sabendo que o João tinha ido a Lisboa tratar de um assunto e que o comboio da Beira Baixa só o traria de volta cerca da uma da manhã, dirigiu um lânguido olhar à Alzira e fez-lhe uma inesperada proposta. Dava-lhe 10 contos se ela fosse para a cama com ele antes de chegar o marido.
Ela saiu da sala esbaforida e voltou pouco depois com um enorme facalhão, com ar ameaçador.
Disse ao Alberto que até não lhe desagradava a ideia, mas que jamais faria nada sem que o marido concordasse. Por isso, iriam esperar pela sua chegada e ela perguntar-lhe-ia se ele a autorizaria a aceitar o negócio.
O Alberto, aflito, ainda lhe pediu várias vezes para ela esquecer a proposta que num momento de loucura ele lhe fizera.
Mas a Alzira estava decidida! Apontou-lhe a faca perto da garganta. Esperariam e ela faria aquilo que o marido achasse melhor.
Por volta das duas da manhã, o João entra em casa, beija a mulher, olha o Alfredo compungido e encolhido a um canto e perguntou o que se passava.
- Aqui o nosso amigo Sr. Alberto fez-me uma proposta muito interessante! - disse a Alzira.
- Ofereceu-me 10 contos para nos comprar aquela mula velha e meio cega que temos no quintal. Mas eu não quis decidir nada sem tu vires. Resolve tu! – continuou ela, dirigindo-se ao João...
O Alberto, até aí, calado e assustado, fez um sorriso rasgado, virou-se para o João e disse-lhe:
- A D. Alzira está equivocada Sr. João. Eu ofereci foram 15 contos.
O João, espantado, tartamudeou para a mulher:
- Oh Alzira, então era preciso esperares por mim? Aquela pileca nem um conto de réis vale, mulher!
Olhou o Alberto e disse-lhe:
- Meu amigo, a mula é sua! Dê cá os 15 contos!
No dia seguinte, o Alberto arrastou a mula por uma corda a caminho da fronteira. Dois quilómetros mais à frente, puxou da pistola que habitualmente trazia consigo, deu dois tiros no animal e encaminhou-se à estação de Fatela para apanhar o comboio...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Estas checas vão-me ajudar...
Este museu do erotismo que elas apresentam é em Praga. É o Museu das Máquinas do Sexo. A minha colecção, embora tenha uma ou outra peça de brinquedos sexuais, é de arte erótica.
Agora... algum gajo ou alguma lésbica viu mais do que duas checas boazonas?
29 janeiro 2011
Sol posto
Hálito
28 janeiro 2011
Eu e a Naomi Wilzig
As melhores peças eram todas açambarcadas por uma tal de Miss Naomi. Se eu oferecia, por exemplo, um máximo de 200 dólares por uma peça, ela ganhava com um valor 5, 10 ou 20 vezes superior.
Fosse quem fosse, era alguém com muito dinheiro e que não olhava a custos para obter as melhores peças.
Entretanto, passados poucos anos, soube da criação do WEAM em Miami (E.U.A.) por uma senhora milionária de 75 anos, de seu nome Naomi Wilzig. Soube então que ela, nas suas viagens, punha uma placa ao pescoço a dizer «Buy Erotica».
São um pouco mais de 1.000 m² com o acervo particular da Miss Naomi, "uma colecção avaliada em 10 milhões de dólares e que reúne 4.000 peças como esculturas, quadros e até móveis". "O WEAM consegue surpreender o visitante com obras que vão desde 300 a.C. até trabalhos contemporâneos. As mais de 20 salas do museu são divididas em temas como antiguidades, culturas orientais, art deco e art noveau, mundo gay e trabalhos mais recentes, como a prótese peniana utilizada no polémico filme «Laranja Mecânica», de Stanley Kubrick".
Como refere o director de arte do WEAM no citado artigo, “o que se vê no museu não é pornografia, é o mundo unificado num acto erótico”.
Aqui vos deixo algumas fotos do WEAM:
E eu? Quando terei um espaço aberto ao público com a minha colecção, com mais de 2.000 peças e de 1.600 livros? Como costumo dizer, tenho peças que a Miss Naomi gostaria de ter...
Mistério bíblico
Tradução de Mulher
preliminarmente...
27 janeiro 2011
Um repentino pensamento libertador
Olhou para o seu telemóvel pousado na secretária, primeiro com o absurdo desejo de que o aparelho tocasse, depois com a inútil esperança de que por se fixar nele se lembrasse onde guardara o papel e, por fim, com a absoluta certeza de ter perdido o papel e de nunca mais voltar a falar com ela.
“Ela pode ligar-me”, desdramatizou ainda a olhar o aparelho. Agarrou-o e, com dois toques, desbloqueou-o para verificar que estava ligado, que tinha rede, bateria e não estava no silêncio. A confirmação do estado de prontidão do aparelho não o alegrou, pelo contrário, sem saber porquê, deu-lhe a certeza que não seria ela a ligar-lhe.
Largou o telemóvel ao lado do portátil onde escrevia e viu o punho da camisa branca com riscas azuis e a manga azul escura do casaco pousada sobre a secretária. “Eu não tinha este casaco”, afirmou para si, movendo os lábios sem emitir as palavras. “Tinha uma camisa branca, lisa” pensou. Rolou a cadeira para trás e constatou que as calças azuis não eram as mesmas que usara no dia anterior. “Eram as castanhas”, sorriu sem alterar a expressão, “e o casaco era o castanho.”
Esqueceu a manga azul e fixou o sucedâneo de folha branca que brilhava no ecrã. Sorriu. “O papel ficou no casaco de ontem”, acreditou. “Logo ligo-lhe”, decidiu e parou de escrever.
O título do post, "Um Repentino Pensamento Libertador", é o título de um excelente livro de Kjell Askildsen, editado pela Ahab.
«Hã? (ou como deixei de escrever no blogue da São)» - AnAndrade
É esta a única razão por, há uns meses atrás, ter aceitado o convite que a minha amiga São Rosas me fez, para escrever no blogue que dirige magistralmente, blogue esse que, como ela bem sabe, não é bem a minha praia. Mas é dela e isso bastar-me-ia.
O blogue da São é um blogue erótico (e, portanto, expressamente anti-pornográfico), onde ela achou que cabiam alguns dos textos que por aqui vão sendo publicados, sobretudo os que focam as relações, os amores, desamores e outros sentimentos. De resto, foi sempre ela quem os escolheu: lia-os, comentava-os e, a seu pedido, lá os publicava eu no A Funda São.
Depois... bom, depois, bastava-me estar atenta aos muitos disparates que iam sendo ditos por lá, com raras e honrosas excepções (mesmo porque, quando nos chateiam a moleirinha, temos tendência para sobrevalorizar a bestialidade e esquecer quem nos acarinha), para começar a ripostar. Porque não me lembro de uma única vez em que não tenha sido sobejamente mal interpretada. Como lhe dizia ontem, quando lhe pedi a demissão, a sensação que sempre tive é que há um qualquer limiar lexical, que eu não transponho, e que os faz ler X onde eu escrevi, claramente (ao menos para mim e para os leitores do Câimbras ou do Persuacção) ABC.
Provavelmente, à boa maneira portuguesa, boçal e preconceituosa, pensa-se que quem escreve num blogue assumidamente erótico anda à procura de qualquer coisa. Eu não andava. E também não me apetecia encontrar ataques pessoais, interpretações e generalizações abusivas, assédios sexuais, incorrecções profissionais e outras enormidades que, maiores do que a minha paciência, me levaram a optar por encontrar-me com a São noutras paragens.
Portanto, para ti, é sempre um até já, São.
Porque és uma senhora como poucas.
E porque é sempre um prazer estar por perto e participar da tua liberdade, mesmo que alguns não a saibam respeitar.
AnAndrade"
26 janeiro 2011
Deixa-te amar
Deixa-te espalhar, pelo vento, pelo ar, voa até a um tempo onde possas descobrir a essência que deste por perdida, a inocência que dizes esquecida mas que te retrata no olhar a menina que nunca te quis abandonar e sempre que ris se manifesta, aproveita aquilo que te resta depois do desperdício que às tantas se tornou num vício que a preguiça te impôs.
Deixa-te flutuar, sem pressa, pela superfície do mar, como se fosses uma mensagem enviada por alguém, embarca numa viagem que te faça bem e aproveita para esqueceres ao longo desse rumo os deveres a que te obrigam os outros, soprados como fumo pelo vento, pelo ar, até um tempo em que conseguias acreditar no amor verdadeiro e te permitias suspirar um dia inteiro a lembrança de um rosto capaz de te fazer sentir feliz, aceita o que te diz quem te recomenda que te deixes ir, espalhada em partículas tão pequenas que ninguém consiga perceber que és tu quem o vento transporta, talvez até à porta de um castelo no passado ou de um refúgio que sintas sagrado no futuro que deves abraçar como o único sentido para onde apontar a tabuleta que sabes trazer inscrita no teu coração adormecido, para onde o vento te levar, a bem contigo e com os outros para poderes distinguir os poucos que te sirvam na difícil tarefa que na verdade terás que aceitar, a felicidade por encontrar e tu parada à espera de uma coincidência afortunada, devagar, quase parada nessa promessa adiada de que tudo se resolverá por si.
Deixa que se apodere de ti uma energia imensa, liberta essa vontade intensa que te quer arrastar, pelo vento, pelo mar, até um momento em que te percebas renascida enquanto mulher com amor pela vida e possas por fim reagrupar tudo aquilo que deixes agora espalhar como semente e que te fará regressar nesse preciso instante à forma original de uma flor exactamente igual àquela que um homem apaixonado terá com a sua mão abraçado com a gentileza devida.
Pouco antes, ou mesmo no momento de te ser oferecida.
Despertares, meu amor, despertar
entende, que te perdi ao acordar;
mas sabes, meu amor, se eu acordei
foi de tanto me dizeres que estava a sonhar.
E por tudo o que sei que apenas nos sonhei
(e quando só um sonha, meu amor, é distante o despertar)
saberás que, sim, foi sempre em sonho que nos deitei
mas sempre acordei, entre nós, o verbo amar.
Monitor de Estragos
Supremo todo em corda vibrante paralela. Confusa falta do tronco onde fortes tentáculos envolvem a par do suspiro.
Sim!
Súplica. Maravilha abandonada em areia movediça. Morreu. Transformou-se.
Porta fechada em pranto de agonia fora do espectro da cumplicidade que ninguém entende.
Purgatório.
Processamento de emoções discretas... Torno sádico que aperta a par e passo o que a bigorna não esmagou.
Renascer.
25 janeiro 2011
Tranças de papel
«toda esta tesão»? esta? esta? oh senhores!
a música tem a sua piada.
mas remeto A Caruma para o Priberam:
tesão
(latim tensio, -onis)
s. m. (substantivo masculino)
1. Rijeza.
2. Fig. Força, intensidade.
3. Ímpeto.
4. Embate violento.
5. Cal. Entusiasmo passageiro.
6. Cal. Desejo sexual masculino e feminino.
7. Cal. Erecção!Ereção do pénis.
Instinto
Pranchas originais de banda desenhada erótica
24 janeiro 2011
«Estranged Sex» por Sandra Torralba
Estas são só algumas das imagens do trabalho «Estranged Sex», da fotógrafa Sandra Torralba.
Segundo a artista, com este trabalho propõe “uma reflexão sobre os tabus sexuais, a desconstrução da pornografia, a naturalização do que é humano e a normalização dos alienados, a legitimação da bondade da sexualidade feminina e da sua compreensão como algo amplo e completo. Eu estou a desafiar os limites estabelecidos na sexualidade e a desafiar a obsessão compulsiva da sociedade de controlar, condenar e restringir a natureza humana.”
Recomendo a visita.
Notícias fictícias da vida aos quadradinhos
Tatuagem
Quando a pungente concentração de vontade publicar a maravilha, as estrelas deixarão de comunicar em sentido único.
O dilacerar da garganta sem que por isso profira qualquer vocábulo, deixará de passar despercebido ao inexistente abraçar nocturno. Porque já não o é. Noutra realidade.
Eu acredito.
Acredito num dia em que as janelas serão desnecessárias porque se transformaram em portas.
Acredito no entendimento enamorado do "Sim", variável de quem importa valores incompreendidos.
Finito que alarga os limites. Ossos que quebram a alargar.
Código de barras que tatua o definitivo no culminar do derradeiro passo. Hoje! Porque confiou. Porque acreditou.
Este dia será assim.
A janela que espreitas será desenhada com traços de cama... no leito do conforto.
E a cumplicidade é completa.
23 janeiro 2011
(Pre)Visões (Era uma vez um dia)
se adormeço e durante a noite
sei que prendes os braços em mim.
A que te poderás encostar assim
dividido em ti? Tão grande corte
é metade ser vida e metade ser morte,
um meio ser do princípio ao fim,
sem dedos, sem mãos, diz sim
e não vás. Não percebo onde vais
se cai a noite e sei que tu cais
sem braços que te contem de mim.
Em quem poderás cair assim
distante em ti? Não sonhes mais
se os dias podem ser iguais
ao sonho no princípio e sem fim,
tens dedos, tens mãos, diz sim
e (um dia) não vás, fica inteiro, caminhante.
«Viagem de metro» - por Rui Felício
Há já muito tempo que não viajo no Metro de Lisboa. Mas reconheço que é um excelente meio de transporte quando se tem urgência em atravessar a cidade de um ponto a outro.
Lembrei-me de um episódio nele passado, quando ainda era jovem, há já muitos anos...
Tinha embarcado em Entre-Campos, em direcção ao Rossio. A carruagem não ia muito cheia. Consegui encontrar lugar sentado, acomodei-me e tirei da pasta um livro que andava a reler, do Processo de Franz Kafka.
Já o tinha lido algumas outras vezes e de cada uma que lia era-me possível imaginar um destino diferente para o Sr. Kafka.
Olhando por sobre as suas páginas amareladas, pude observar poucos metros à frente, num daqueles bancos de costas para as janelas que alguém inspiradamente baptizou de “banco dos palermas”, uma linda e elegante morena de olhos negros. Discreta no vestuário mas suficientemente bonita para que se destacasse entre as demais mulheres que viajavam na carruagem.
Durante a viagem, por uma vez ou outra arrisquei-me a fitá-la. Fui surpreendido por um olhar de retorno e um disfarçado sorriso. Foi no meio dessa troca de olhares que na estação do Saldanha entrou um homem de avançada idade, casaco coçado de tamanho bastante maior que o corpo franzino que envolvia , trazendo na mão uma Bíblia de capa tão carcomida e antiga que cheguei a pensar se não se trataria de um original das sagradas escrituras.
O homem, postou-se em pé em frente ao “banco dos palermas” e começou, em altos brados, a apregoar a mensagem de Cristo, levando à letra a recomendação de “ide e espalhai a boa nova em toda a parte!”. Percebia-se a frouxidão da sua dentadura postiça, o que lhe dificultava a dicção.
O seu arengar era acompanhado da saída ininterrupta de gotículas de saliva com que, entre uma palavra e outra, salpicava os seus involuntários ouvintes.
Mas eu estava mais preocupado era em não perder de vista aquela bela mulher. Peguei num lenço de papel que trazia no bolso e rabisquei rapidamente o meu nº de telefone... Já próximo do Rossio, levantei-me, enchi-me de coragem e, antes de sair, entreguei o lenço àquela mulher.
Ao mesmo tempo, o velho pregador entusiasmou-se no sermão e disparou contra a formosa mulher, um consistente e avantajado perdigoto, que a atingiu em cheio na testa.
O comboio já começava a abrandar para a entrada na estação do Rossio.
Ela com um sorriso constrangido, aproveitou o lenço de papel que eu lhe dera, desdobrou-o e antes que eu esboçasse qualquer reacção, esfregou-o na testa limpando o cuspo com que o pregador a tinha atingido durante a prelecção.
Virou-se para mim e disse-me educadamente:
- Muito obrigada, senhor...
E devolveu-me o papel! Sem sequer se ter apercebido que eu tinha lá escrito o número de telefone!
Do lado de fora da carruagem, em plena estação, vi o comboio arrancar de novo. Através da janela,vi, a distanciarem-se, aqueles belos olhos negros, aquele lindo sorriso e aquele enorme borrão de tinta azul que lhe ficara a manchar a testa.
Na minha mão, o lenço de papel amassado, com o número de telefone esborratado, que ela, com cortesia, me devolvera.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
«Infinitamente Maio»
Amor, traição, vingança, sexo e morte (não necessariamente nesta ordem) causam uma reviravolta irreversível na vida de quatro pessoas.
Link directo para o filme aqui.
22 janeiro 2011
Edito Estrelas
As minhas veias
21 janeiro 2011
A posta que chovem carapuças (carapiças?)
Presente no passado
talvez passe um dia, até dois, ou mesmo três
mas ainda não, ainda não, não será de vez
este dia de hoje em que perdeste o meu olhar.
Talvez já nem me sintas, como antes, observar;
como antes, ainda sentes o que não me vês?
Já aqui não mora o sim, ou sequer o talvez;
espreito a tua janela, apenas, já não quero entrar.
É olhar apenas, como se estivesse a recordar
no presente, a memória esconde-se na timidez
de um olhar fora de tempo, esta triste nitidez
desenha os porquês que a memória quer apagar;
ou talvez um dia alguém te consiga explicar
que te quer ver bem pelo bem que não te fez.
20 janeiro 2011
O testemunho
– Nunca!... Ele era um marido que aceitava tudo, era um paz de alma. O senhor A. era um burrinho à chuva.
– Um burrinho à chuva?!
– Sim, um burrinho à chuva. Até lhe vou contar um episódio, só para a senhora doutora ver como ele era com a mulher: eu uma vez fui lá a casa e ele estava a arear os bicos do fogão… Veja bem, a arear os bicos do fogão. Ela na sala a ver a novela e ele cheio de brios e cuidados de volta dos bicos. E eu disse-lhe, doutora, eu disse: Ó Cilinha (eu tratava-a por Cilinha… Por Cilinha, doutora, veja bem como eu gostava dela, nem lhe chamava Raimunda nem nada)…
– Não estou a perceber, a senhora não se chama Raimunda?
– Eu?! Eu não, Deus me livre!
– Eu sei que a senhora não se chama Raimunda…
– Graças a Deus e aos meus paizinhos.
– Seja. Voltemos aos factos.
– O facto é que ela não gostava, doutora, não gostava nada. Chamar-lhe Raimunda era pior que cuspir-lhe.
– Pronto, já percebemos. Essa parte do nome está esclarecida, D. Engrácia Genoveva. A senhora estava a dizer que lhe tinha dito…
– Sim, eu disse-lhe: “Ó Cilinha, quem me dera a mim ter um homem que me tratasse dos bicos como o teu… Que regalo. Olha para aquelas mãos tão cuidadosas de volta dos bicos, mulher, a rodeá-los com tanto cuidado, a esfregá-los com tanto carinho. Quem me dera que alguém me esfregasse os bicos assim…”
– E ela?
– Ela?! Ela virou-se para mim e disse-me: “E nunca o viste tu de joelhos a passar-me o corredor a pano”.
– Diga?
– Digo, doutora, digo… mas nisso ele não era tão bom.
– Desculpe?
– É verdade, eu até acho que ele tinha uma fixação por bicos, está a ver?… Para o resto não lhe puxava tanto.
– Ainda está a falar do fogão?
– Do fogão?! Ah, sim, sim, do fogão. Pois, dos bicos do fogão, ele estava a areá-los.
19 janeiro 2011
Do amor, segundo os meus alunos e não só
E porque as pessoas abandonam casamentos sem pensar, e que no tempo dos avós é que era em grande, porque os matrimónios eram para a vida toda (as/os amantes também, mas isso não ouviram eles dizer) e as pessoas eram felizes como tudo e não havia primos homossexuais (pois não, os que o eram tinham mulher/marido e filhos e amantes como os hetero-) e (já agora) o Natal era uma maravilha porque havia espírito familiar e consumismo zero e patati-patatá e trecolareco.
Quando leio estas atrocidades, apetecia-me fechá-los comigo numa sala e perguntar-lhes quem lhes mentiu tanto. E dizer-lhes que, se calhar, os avós e pais e tios que lhes contam estas patacoadas sonharam toda a vida em viver num país onde o divórcio fosse permitido ou numa cidade grande, onde não fosse uma vergonha trocar o marido ou a mulher por um/uma namorado/a. E que não tem mal algum pensar em amores em vez de no Amor, porque este tem várias caras e vários tempos e não dura para sempre. E (já agora), lembrar-lhe que hoje cada um vive o Natal como quer e que o espírito familiar não é inversamente proporcional ao consumismo, e que se na casa deles só sentem este último e nem réstea daquele, se calhar é melhor aproveitarem a consoada e terem uma conversa comprida, daquelas que as famílias à séria devem ter sempre que há uma chatice, com ou sem consumismo.
E, já que estava com a mão na massa, juntaria aos meus alunos um certo amigo, que acha que ficar com alguém de quem deixou de se gostar é altruismo: não se sente bem com a situação, mas tudo é melhor do que dar ao outro o desgosto de ficar sem a sua insuperável presença (porque isso seria, lá está, egoísmo, o que provavelmente constitui pecado mortal).
Fecharia a porta e deixá-los-ia a falar sem uma professora ou uma amiga a avaliá-los. Podia ser que, entre adolescentes e trintões, chegassem a uma qualquer conclusão, sem me porem com taquicardias nem vontade de lhes dar um valente puxão de orelhas.
Pure chess
Pelo Meio Sorri
Enquanto contigo e de mim o faço.
Pela procura e pela troca, pelo nevoeiro que me surpreende.
Pela protecção que alguém precisa. Pelo conforto que alguém me pede.
Pela segurança que alguém me exige. Pelo amor que alguém me espera.
Pelo meio sorri.
Pelo menos uma vez. Pelo menos em cada gesto.
Por ti que ainda não entendes. Por mim pela satisfação.
Por quem te espera e não sabe. Por quem te espera e não sabes.
Por momentos e por tempos. Pela face e pelo corpo.
Pela mente e pelo coração. Sorri com emoção.
Pelo meio sorri.
Porque me ensinas. Porque te mostro.
Porque explicas. Porque te vejo.
Porque é bom. Porque te faz bem.
Porque queres. Porque quero.
Pelo meio sorri.
Sempre e para sempre. Hoje, amanhã e nas memórias.
Aqui, ali e em qualquer lugar.
Comigo, contigo ou com os outros.
Por temas, por lemas ou por nada.
E por último... Sorri.
Derrotas
sim, magoa, acredita. Eram todas
ao mesmo tempo; os meus rios
nunca tiveram margens. Lisboa
sorria-me; tu, parado, só acenavas
e eu corria para ti. Mas os teus lábios
eram margens estreitas de uma lagoa
triste de lágrimas, gotas encurraladas
e agitadas por muitos dedos frios.
E agora, diz-me, quem nos perdoa,
quem nos devolve as mãos penduradas,
casacos velhos em armários?
Nunca te disse uma só que me doa
assim, esta dói mais que todas as outras,
eu vejo-te rir e os teus olhos estão sérios.
18 janeiro 2011
Edito Estrelas
a Cova FUNDA!
Amor que faço
Base de copos da cerveja «L'Alsacienne Sans Culotte»
17 janeiro 2011
Eu gosto de animais
A carta da não-monogamia
Agora elaborou esta análise gráfica das relações humanas. Confusa, como a própria realidade:
Mapa da não-monogamia
(crica na imagem para aumentares a coisa)
"A minha conta no Facebook foi desactivada. Podem informar porquê?"
R.I.P., Facebook |
Agradecemos que tenhas contactado o Facebook.
Beatriz
User Operations
Facebook"
Acabou assim o Clube de Membros e Membranas do blog a funda São no Facebook, que já contava com 940 inscrições.
Há quem se reinscreva no Facebook. Eu não o farei. Por vários motivos:
1) O Facebook é claro quando põe como condição de uso que não tolera "nudez e outros conteúdos sexualmente explícitos". É a regra. Como não tolero esta intolerância, tenho um excelente remédio: deixo de usar o Facebook;
2) Até agradeço que me tenham desactivado a conta. O tempo que aquilo me tomava era demasiado. Só por respeito à malta que por lá aparecia e comentava é que eu mantinha ainda a conta.
3) Também havia a desvantagem de ter os comentários em diferentes sítios. Assim, passam a estar só no blog, que é onde devem estar.
4) Quanto a mim, o mais grave do Facebook é a forma desavergonhada como os donos daquilo e os seus funcionários acedem ao que as pessoas publicam. E não só. Às mensagens que por lá se enviam e as pessoas julgam que são privadas. Tenham muito cuidado.
Pela parte que me toca, "rest in peace, Facebook" (sim, sim, "o resto da piça", em português).