Acho que foi ali que tudo começou. A escola era a primeira, as aulas acabavam e os adultos tardavam, esperava até que ficava sozinha naquele espaço cheio de utopias. Tinha tranças e vestidos de várias cores, a pasta encostada à parede, os minutos passavam e as histórias começavam a chegar, as histórias devem nascer sempre da imaginação e a imaginação deve nascer da distracção que surge do olhar perdido entre pedras e nuvens e dos cheiros bonitos que depois guardamos na memória; os cheiros bonitos da escola devem ser como papel daquele que forra as nossas gavetas com alguma doçura, mesmo que se tenha que ali guardar algo difícil, doloroso, aquele papel está sempre lá e suavizará as cores mais feias. Andava em círculos, o corpo imóvel era incapaz de conter a dimensão dos pensamentos, andava em círculos e os sonhos corriam a bom correr, escrevia histórias no ar que ninguém poderia ler. Gostava daquele tempo de espera, esperava sempre que os adultos se esquecessem de mim ali mais uma hora ou duas, queria muito aqueles momentos para construir os meus castelos. Achavam estranho que eu andasse em círculos, diziam que um dia ainda abria uma cova no chão; os adultos são estranhos quando determinam o que é estranheza, as suas vidas são absolutamente circulares e faz muito que já abriram covas no chão das quais nunca saem ou sequer espreitam para fora. Já não ando em círculos, sento-me para escrever mas sempre que escrevo é ali que tento voltar, à porta da escola, ao sonho guardado pelos minutos que passavam enquanto esperava a mão terna que só não me levava a casa porque eu tinha a casa em mim.
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Uma por dia tira a azia