Deixa-te espalhar, pelo vento, pelo ar, voa até a um tempo onde possas descobrir a essência que deste por perdida, a inocência que dizes esquecida mas que te retrata no olhar a menina que nunca te quis abandonar e sempre que ris se manifesta, aproveita aquilo que te resta depois do desperdício que às tantas se tornou num vício que a preguiça te impôs.
Deixa-te flutuar, sem pressa, pela superfície do mar, como se fosses uma mensagem enviada por alguém, embarca numa viagem que te faça bem e aproveita para esqueceres ao longo desse rumo os deveres a que te obrigam os outros, soprados como fumo pelo vento, pelo ar, até um tempo em que conseguias acreditar no amor verdadeiro e te permitias suspirar um dia inteiro a lembrança de um rosto capaz de te fazer sentir feliz, aceita o que te diz quem te recomenda que te deixes ir, espalhada em partículas tão pequenas que ninguém consiga perceber que és tu quem o vento transporta, talvez até à porta de um castelo no passado ou de um refúgio que sintas sagrado no futuro que deves abraçar como o único sentido para onde apontar a tabuleta que sabes trazer inscrita no teu coração adormecido, para onde o vento te levar, a bem contigo e com os outros para poderes distinguir os poucos que te sirvam na difícil tarefa que na verdade terás que aceitar, a felicidade por encontrar e tu parada à espera de uma coincidência afortunada, devagar, quase parada nessa promessa adiada de que tudo se resolverá por si.
Deixa que se apodere de ti uma energia imensa, liberta essa vontade intensa que te quer arrastar, pelo vento, pelo mar, até um momento em que te percebas renascida enquanto mulher com amor pela vida e possas por fim reagrupar tudo aquilo que deixes agora espalhar como semente e que te fará regressar nesse preciso instante à forma original de uma flor exactamente igual àquela que um homem apaixonado terá com a sua mão abraçado com a gentileza devida.
Pouco antes, ou mesmo no momento de te ser oferecida.
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Uma por dia tira a azia