Viu-a sair da porta com a certeza absoluta de que saía da sua vida também, mas nada fez para a impedir. Achou que precisava de decidir e ela não deixava porque sempre que ele pensava ela interrompia e o barulho que fazia era algo que impedia um pensamento de fluir.
Preferiu deixá-la sair, sem alarido, sem luta, pois não tinha nada em disputa que o motivasse para tentar barrar-lhe o caminho, apetecia-lhe ficar sozinho por algum tempo e isso proporcionava-se naquele momento em que ela agiu em conformidade com a dura realidade da sua relação moribunda, a vontade ausente, perdida, o hábito e pouco mais a justificar a presença de qualquer deles naquela ligação interrompida por alguma razão, ou várias, que nem conseguia agora encontrar por entre as vagas memórias do muito que correra mal.
Preferiu aceitar o final e entendê-lo como o mais lógico corolário de um amor cujo inventário há muito denunciava a escassez, sentia que perdia mais de cada vez que insistia e depois ela não saía mas apenas se prolongava de forma artificial um romance que correra mal logo à partida, anunciando a despedida que nem chegaria a acontecer porque ele preferiu deixá-la sair sem uma palavra proferir que pudesse levá-la a resistir ao apelo que esboçara ao longo dos meses em que bocejara o seu enfado indisfarçável e lhe provou ser inviável a manutenção de um amor sem emoção, abaixo das expectativas criadas.
Deixou correr as águas passadas e concentrou-se, apoiado no parapeito da janela, no horizonte de onde o sol se preparava igualmente para partir.
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