15 março 2011

Contos de BaR...

... descobrir-lhe os clítoris que existem numa mulher sob todos os poros da pele...

Há quanto tempo não me trespassava aquela sensação adolescente.
Vocês sabem, é já tão clássica...
Vê-se um homem sentado diante de uma senhora que está, ou que chega, com o seu acompanhante. Costuma ser um tipo que conhecemos mais ou menos bem, ou se calhar nem por isso. Às vezes é a tal pessoa do bom dia no café da manhã ou o caixa do Banco onde vamos (ou temos de ir) amiude e que chegou há pouco ou outro ser qualquer que emerge das coisas indiferentes das grandes cidades e que naquela ocasião, sem saber-se bem porquê, nos vê naquele Bar e resolve sentar-se connosco à volta de uns "Scotch-on-the-Rocks".
- Olá, por aqui?! Então que tal?.... Está à espera de alguém, ou podemos...?-
- Não, façam favor… é um prazer… sou Carlos e você… é? Ah, muito prazer…mas sentem-se. O que querem tomar?.-
Uns sorrisos e umas coisas de circunstância, -Sabe, moro aqui próximo, e você? Se não me engano é para estes lados, não é? -
Depois vem a segunda rodada, a língua solta-se e a conversa trepa. Uma hora mais tarde, já o terceiro está na agonia da calote polar a descongelar dentro dos copos altos e a pedir uma urgente acção Escocesa contra o aquecimento global. Copos renovados, gelo até ao cimo e um pires de frutos secos e pipocas com sal.
- É pá, você sabe lá o que me aconteceu há dias lá no Banco? – continuaria o tipo se fosse bancário, mas calhou ser da repartição de Finanças onde tivera que deslocar-me nesse mesmo dia: - ... Já era a quarta vez que aquela senhora me tinha telefonado no espaço de uma hora, a perguntar por mim e eu a mandar sempre a dizer que não estava. Você conhece o género, não se lhe pode dar trela e o chefe da repartição é novo, quer mostrar serviço e põe o pessoal a bulir que nem uns mouros. Mas o sacana do Filipe ou não sabia ou fez que não sabia - sabe como é essa coisa agora do desempenho - descaiu-se e lá tive que ir e…-
Falava ininterruptamente, quase sem dar espaço para réplica enquanto passeava o olhos por entre as outras mesas, retornando o olhar para os interlocutores para regressar novamente para o balcão e os outros frequentadores, enquanto entre dentes uns cajus mastigados rodavam entre dentes e sons.
Foi aí que de repente senti o toque suave a subir pela ponta das calças, o dedo grande a levantar o tecido enquanto a parte interior do pé subia levemente dois ou três centímetros pela nudez da minha perna.
- … Já viu o que é, ter que estar com o telefone encostado ao ouvido e mexer no teclado? Bem, foi uma barracada… Acabei por nem fazer uma coisa nem outra…-
Olhei de soslaio para ela, que se fingia de distraída pelos trabalhos em tinta da china, elaborados no registo sensual, com que o dono do “Copus” tinha decidido decorar as paredes do estabelecimento. Descalcei o meu sapato e os dedos, subitamente acordados para o espaço, procuraram os seus. O tagarela tinha-se calado e mastigava uns cajus enquanto despia uma tipa que tinha acabado de entrar e que ficara junto ao balcão. Olhou para mim e piscou o olho: - Boa, no linguajar de qualquer gajo.
Agora o pé dela estava exactamente no meio das minhas pernas. Não resisti e, súbita mas discretamente, desci ambas as mãos sob a mesa, segurei-lhe por instantes o pé, acariciando-o, enquanto a mirava sentindo-lhe a feminilidade toda imersa em mim.
- Sabe, amigo - voltou-se ele, subitamente de regresso ao argumento… Desculpe, não fixei o seu nome...
- Carlos, respondi quase a engasgar-me…
- Ah sim, Carlos, já me tinha dito, mas eu… Epá, naquele dia saí de lá era quase meia noite, tá a ver? E depois não é só isso,…-
O pé ora carregava um pouco sobre a dureza da erecção para regressar depois às leves passagens de veludo onde o toque, de tão leve, era terrível e excitantemente quase apenas sugerido. Um deslize entre margens de músculos e sonhos, nascentes de aves loucas de tantos fogos incendiadas…
Fechei os olhos durante uns breves segundos em que a conversa sobre IRS, taxas e multas soaram a cento e cinquenta mil anos-luz e voltei a abri-los para encarar dois olhos fascinados, felinos e terríveis no seu sorrir a sobressair do copo. Imaginava-a nua, os meus dentes a percorrer-lhe o pescoço e ombros, a língua a passear-se pelo poema dos seus peitos, os dedos a desbravar e a descobrir-lhe os clítoris que existem numa mulher sob todos os poros da pele e fundi-la finalmente, num abraço, num único instante interminável e profundo de sexo intenso...

Um estremecer surdo e interior percorreu-me todo o corpo. Apertei a bebida, mordi o lábio e olhei para o tecto em tijolo que caiu sobre mim em milhões de estrelas quando as pálbebras em cortinas fechadas se abriram para o mais profundo infinito interior. Deixei-os ficar assim durante mais uns segundos, os mesmos que duraram o Big Bang: dizem que foi menos de um quarto de um milionésimo de segundo, mas eles sabem lá o que é um segundo quando apenas existe a Eternidade e não há ainda mundo a girar à volta dum sol, aprisionado no tempo que depois de dividido por essa ínfima expressão da matéria - o Homem - em milhares de milhões de bocados, dá para fazer os Segundos de toda a História do Universo.
- Você parece estar com sono - interrompeu o tagarela.
Abri os olhos para o copo que se aguentara na mão e bebi um golo lento, respirando profundamente depois.
- Não é nada - respondi - de vez em quando sabe bem fecharmos os olhos e olharmos para… o infinito, não sei se me entende.
- Oh, se entendo… - respondeu, dando pelo levantar do indicador e a expressão do rosto a indicação nítida de que iria dissertar sobre o tema.
- Querido… adiantou-se ela evitando ter que interrompê-lo, enquanto ao rodar o corpo na direcção do companheiro acabava de fechar as pernas, acabando assim de rejeitar o pé que eu lhe acabara de colocar sobre o púbis.
- Desculpa , mas precisava de ir-me embora.-
Olhou-me uma fracção de segundo, regressando depois para ele.
- Sabes como amanhã tenho que estar lá cedo…

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