02 abril 2012

Fico melhor de perfil

Sempre achei discriminatória a aversão mais ou menos consensual ao nu integral na sua face masculina. Por algum motivo que me escapa as fotos de coisos agarrados connosco à mostra parecem chocar as (os?) mais sensíveis e eu, santa paciência, só vos digo que as pilas só chocam se ficarem destravadas. Ou se marrarem contra elas, o que me parece ser o caso e já justifica a reacção.
Mas sabemos bem que esta aparente indignação que vai mantendo em aberto uma forma de censura mais do que evidente não passa de (mais) um sacudir do capote a água benta da hipocrisia.
Nem se atrevam a presumir que estou aqui a fazer a apologia da multiplicação das pilas em fotografia, pois não me posso assumir uma pila fotogénica e não aprecio pilas, ponto. Aqui o que está em causa é a tendência irritante para proibir, para banir tudo quanto fuja a determinado padrão e por isso se torna de imediato numa ameaça potencial, num insulto virtual, numa enorme maçada.
Eu sou uma pila recatada, sem ilusões de vir a forrar as paredes de salões de cabeleireiro por esse mundo fora, quando o mundo cair em si e perceber que as pilas fazem parte do conjunto tanto quanto os dedos ou mesmo os seios que aqui e além se vão deixando a descoberto para vender uma mercadoria qualquer. Por isso não reclamo para mim essa liberdade de exposição ao olhar transeunte, até porque nem me acho elegante numa dinâmica badalo.
Contudo, acho que as pilas devem ter uma palavra a dizer quando a sua natureza é serem servidas ao natural, sem o condimento da opacidade a que estamos condenadas fora do circuito clandestino das imagens proibidas ou dos compartimentos fechados onde é permitida a respectiva exibição.
Eu ergo de imediato a voz da minha indignação, mesmo arriscando a que o coiso agarrado a mim não consiga interpretar o meu gesto como uma forma de luta e não como um estado de alerta. Porque é disso mesmo que se trata, de um estado de alerta perante a censura às imagens dos membros meus iguais (ou parecidos, mais pequenos na sua maioria, como é fácil de comprovar...).
Hoje cortam-nos da fotografia, amanhã sabe-se lá onde irão cortar!