Nunca verbalizámos o Amor. A primeira vez que abri a boca para lhe dizer que a Amava ela tocou com o dedo indicador da mão esquerda nos meu lábios, encostando um ao outro como se os quisesse coser com um único ponto.
- Chiu!
Depois beijou-me e fizemos Amor.
A partir daí não precisou mais de usar os dedos. Quando eu falava em nós, tentando dar existência a essa primeira pessoa do plural, ela mudava de expressão. Passou a bastar-lhe o olhar para me silenciar.
Uma vez, por fim, explodi. Não com ela, mas com a situação. Foi como se as palavras que eu engolia há meses me tivessem provocado uma congestão. Vomitei-as, dizendo-lhe que a Amava. Só que o Amor nunca pode ser um vómito.
Depois beijei-a e não fizemos Amor.
Naquele tempo o corpo dela era o meu Éden, uma extensão de vales e montanhas perfumadas onde tudo, menos falar de Amor, me era permitido. E foi assim que fui expulso.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»