15 novembro 2012

«Fittipaldi da canzana» - Patife

Era elegante e graciosa, com uma essência feminina assinalável, e cantava jazz como uma sereia contemporânea. Mas também tinha umas mamas generosas. Dirão as más-línguas que foi esse o único motivo que me fez engatá-la e levá-la para casa. E estarão cobertas de razão. Tão cobertas como ficaram as mamas dela pela nhanha aqui do Pacheco. Mas confesso que a voz também ajudou. Foi, por isso, com alguma dose de estranheza que reparo que na cama a magana não emitia um único barulho. Depois de décadas a pinar como gente grande foi a primeira vez que uma sardanisca não me desatou a gemer de forma histriónica como se estivesse com um coqueiro entre as pernas, o que, convenhamos, não andará muito longe da realidade. Esta deve ter vindo com silenciador, pensei. É nesse momento que me armo em Fittipaldi da canzana e lhe meto a quinta a fundo, aumentando o ritmo de bombada para a red zone das rotações pélvicas. Ela mordia os lábios, o rosto ia aumentando de tonalidade de vermelho, o corpo trepidava como se estivesse a ter um ataque epilético, mas, foda-se, que nem um gemido saía daquela boquinha. E já nem queria saber de atingir um orgasmo. Naquele momento o meu objectivo de vida passou a ser apenas um: Conseguir que a magana soltasse um mísero sonzinho que fosse. Sou um pouco como as crianças. Quando não consigo uma coisa não resisto a esgotar todas as possibilidades para descobrir o que se passa e dar a volta à questão. Invade-me sempre um pensamento Proustiano e assemelho-me a esses miúdos que desmontam um despertador para saber o que é o tempo. Por isso tive de inspecionar de perto. Tirei-lhe a jiboia de dentro das guelras e lancei-me nas artes do abocanhamento. Invisto com técnicas aprimoradas e devidamente comprovadas por centenas de pachachas lambuzadas e esta sirigaita continuava sem um único espasmo vocálico. Fulo da vida e prestes a desistir, é aqui que me revolto. Afasto o meu corpo do corpo dela e penso alto, soltando inadvertidamente um desapontado mas nada ofensivo: PUTA!. Haviam de ver: o corpo dela explode, soltando o acumular do prazer pelas refinadas técnicas nela investidas nas últimas horas e começa numa sucessão de uivos articulados com impropérios profundamente ordinários e por isso impróprios de serem reproduzidos neste espaço. Eu fiquei impávido a observar o descontrolo orgástico da moça, todo altivo e de peito cheio a olhar de longe com superioridade, satisfeito por ter conseguido desvendar o enigma. Ao vê-la a ter um orgasmo assim, recordei então uma pérola literária do Miguel Esteves Cardoso que legendaria este momento na perfeição: “E conseguir vir-se no vácuo, a grande puta”.

Patife
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