"Ama-me devagarinho. Fode-me devagarinho. Como momentos em que nos procuramos no fundo do olhar. Diria que te incomodava isso, mas só a começo. Depois aprendeste a gostar, e por fim já era mais fácil olhar-te, lá dentro, sem pestanejar. Ama-me devagarinho, fode-me devagarinho, só para sentir tudo isto muito bem, para ter a certeza de que todos os pedacinhos da alma estão a ligar-se, para não ficar com a ideia de que algum segundo do nosso tempo nos fugiu. Aperta-me devagarinho, com os teus braços a puxar-me com força para ti, e não vás, não te vás. Deixa cair as tuas muralhas, porque as minhas estão desfeitas há tanto tempo, e não há nada para partir mais, não precisas de ariete para derrubar as minhas portas, não precisas de catapultas nem de escadas para me distrair e invadir. Só precisas amar-me devagarinho, e foder-me devagarinho, pelo menos a princípio, antes de me ordenar que acelere, ou que aceleres. Que fiquemos a galope. É fácil, eu sei. O sangue corre tão depressa às vezes. As pernas ficam tão fracas. E a invasão não é de muralhas, não há cidades a ganhar, países, oceanos a cruzar. É a pele na pele, a pele com pele, os olhos nos olhos. Fixos. Sem embaraço. Sem medo. Ama-me devagarinho, para saborear, para morder os lábios, para ser diferente, para ser verdade."
João
Geografia das Curvas