15 dezembro 2014

«respostas a perguntas inexistentes (290)» - bagaço amarelo

Hoje de manhã passei por uma professora minha do tempo do liceu. Cumprimentei-a e ela demorou alguns segundos a aperceber-se de quem eu era. Provavelmente, por uma questão lógica, deduziu imediatamente que tinha sido minha professora, mas depois precisou de tempo para procurar e encontrar-me na longa lista de alunos dela.

- Eras aquele que estava sempre no canto lá atrás a tentar passar despercebido... - disse.

Concordei abanando afirmativamente a cabeça e, depois de me despedir dela, fiquei a vê-la a andar devagar até desaparecer na primeira curva da rua. De tudo o que eu fui no liceu, aquilo que lhe ficou na memória foi o facto de eu me refugiar quase sempre num dos cantos da sala. Depois apercebi-me que eu próprio não me lembro do nome dela, mas sei que ela costumava estar constantemente com uma esferográfica na mão a fechar e a abrir a tampa.
De tudo o que somos ou fomos para os outros, às vezes só resta aquilo que não somos nem nunca fomos para nós. Não faz mal, pensei. Acho que é isso que vai tornando o Amor possível, podermos escolher aquilo de que nos lembramos nos outros.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»