10 dezembro 2014

«O que sempre soube das mulheres mas tive à mesma de perguntar» - Rui Zink

Tratam-nos mal, mas querem que as tra­temos bem. Apai­xonam-se por se­rial-kil­lers e de­pois queixam-se de que nem um pos­ta­linho. Es­crevem que se de­su­nham. Fingem acre­ditar nas nossas men­tiras desde que te­nhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e to­leram-nos porque se acham su­pe­ri­ores. São su­pe­ri­ores. Não têm o gene da violência, em­bora seja me­lhor não as pro­vo­carmos. Per­doam fa­cil­mente, mas nunca es­quecem. Bebem ci­cuta ao pe­queno-almoço e des­tilam mel ao jantar. Têm uma ca­pa­ci­dade de en­trega que até dói. São óptimas mães até que os fi­lhos fazem 10 anos, de­pois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já de­pende. Têm dias. Têm noites. Con­se­guem ser tão cal­cu­listas e mal­dosas como qual­quer homem, só que com muito mais nível. In­ven­taram o telemóvel ao vo­lante. São co­ra­josas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o se­guro morreu de velho e estão muito es­cal­dadas. Fazem-se de ino­centes e (mi­lagre!) por esse acto de von­tade tornam-se mesmo ino­centes. Nunca perdem a ca­pa­ci­dade de se des­lum­brarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão fe­lizes. Não com­pre­endem nada. Com­pre­endem tudo. Sabem que o corpo é pas­sa­geiro. Sabem que na vi­agem há que tratar bem o pas­sa­geiro e que o amor é um bom fio con­dutor. Não são de con­fiança, mas até a mais in­fiel das mu­lheres é mais leal que o mais fiel dos ho­mens. São tra­madas. Comem-nos as papas na cabeça,mas de­pois levam-nos a co­lher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jan­ta­rada de amigos – elas quando jogam é para ga­nhar. E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acre­ditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, con­tentam-se com pouco.

Rui Zink