beijar-te-ia os olhos,
se de ti se aproximassem as pálpebras e,
no ímpeto da proximidade,
pudesse encostar, a ti, o rosto.
seria a impulsividade do abraço,
o moto da vida e o caminho-espaço
onde o tempo se estreita
e se torna infinito. a infinitude
onde te abraço, é a cor púrpura
do peito e a negação da solidão.
alma.
nesta cor onde navegas,
habita uma ave, livre,
a paixão calma,
nomeada, dita, entretecida
nos momentos onde risos e lágrimas
se enleiam nos gestos
e se tornam eternidade em nós.
beijar-te-ia.
suave melopeia de quatro olhos
que se navegam.
urze viva.
beijar-te-ia o centro navegante das noites
e saberia se as aves
cantam em dueto.
ouviria as doces notas do teu canto.
pudesse eu encostar, em ti, os olhos
que tudo ouvem. esses, residem
no peito, escavado de doces memórias,
onde é nosso o sorriso
da lua.
beijar-te-ia. e saberias que é nosso o riso.
pudesse eu
saber das noites inscritas no tempo
onde não há tempo para ser
só.
não há tempo para ser só.
há tempo, apenas, para sermos
dois. um. eternidade inscrita no espaço
das estrelas. claras,
luzentes, belas. sabemos de nós,
e sabemos do peito. sabemos
do corpo, finito, estreito,
conjugado a dois nas noites de chuva.
beijar-te-ia.
apenas isso sei.
declino em ti a maré.
e tudo o que és,
é aquilo que sei. do mundo,
nada mais importa.
a vida vive em ti.
Susana Duarte
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