Soraia nascera para o prazer desde que se lembrava de ser gente. Já em criança adorava ir para debaixo da mesa por causa das traves da mesa que formavam uma cruz e nas quais sentia especial gozo em roçar-se. Saboreava cada quadradinho de chocolate e comia afincadamente cada gelado até à última lambidela. O seu corpo tinha sido talhado para o hedonismo e ela sabia-o bem.
Soraia era uma deusa sexual. Longo cabelo negro, seios generosos, corpo provocador. No dia a dia, vestia clássico, mas para a noite, tinha reservado uns minivestidos pretos bem decotados para arrasar com a concorrência. Tinha todos os homens a seus pés e as algumas mulheres também. Conseguia sempre o que queria. Ninguém lhe resistia. E assim ia vivendo os dias, parecendo uma mulher respeitada com o seu namorado de há muitos anos, dando uma escapadinha sempre que lhe apetecia.
Um dia, ele encheu-se e deixou-a: o drama! Procurou todos os amigos do namorado para saber o que se passava. Ela, ser deixada? Absurdo! Foi assim que conheceu a Ana. Quer dizer, já a tinha visto antes mas nunca tinha reparado nela. Não era nada de especial aparentemente, mas era a doçura em pessoa. Havia nela uma sensualidade castrada que a seduzia. Sempre que estava com ela, ficava com ganas de a beijar, de a acariciar toda, de despertar aquele clítoris fechado ao mundo, possuí-la, fazê-la gemer de prazer. Passava os dias a imaginar cenários para a seduzir e sempre que podia enfiava-se lá em casa para estar com ela. Porém, ela nem a via. Considerava-a apenas como uma amiga.
Para grandes males, grandes remédios. Qualquer meio serve para atingir fins hedonistas. Já que Ana nem dava conta que ela existia, porque amava o marido, Paulo, teria de passar por ele. Seduzi-lo a ele, foi fácil: canja de galinha. Paulo ficou completamente louco por ela. Quando ela aparecia lá em casa, começou a arranjar forma de manter a intimidade. Pedia à mulher para verem filmes, os 3, deitados no sofá-cama. A mulher, que o amava e confiava cegamente nele, tudo acatava. Paulo, para disfarçar, fazia com que a mulher ficasse no meio deles, como se eles fossem as fatias do panrico e ela o fiambre. Isso convinha a Soraia, que assim podia se encostar na Ana e respirar o cheiro natural do seu corpo que tanto a excitava. A resistência de Ana aguçava-lhe ainda mais o desejo de a possuir, mas não conseguiu. Ana vivia no mundo das ideias e estava completamente alheia ao próprio corpo e à cobiça que despertava. Soraia, por despeito, pensou: se não te posso ter, também não serás de ninguém.
Paulo andava enlouquecido. Passou a viver obcecado por Soraia. Desleixou a mulher, a família e o trabalho. Arranjava todas as desculpas para se encontrar com ela, saber o que ela fazia, com quem estava. Passava o tempo enciumado e desconfiado de tudo e de todos, sempre mal-humorado, porque Soraia tanto se dava como já se escapava.
Ana foi compreendendo que o seu mundo se estava a desmoronar. Não podia crer que duas das pessoas que mais gostava a estavam a trair, pior ainda, a mentirem-lhe descaradamente. Tentou segurar nas pontas, recolar os bocados partidos. Prova hérculea para as suas emoções. Não foi capaz. Um dia, decidiu pôr fim a essa tortura. Paulo era incapaz de escolher entre as duas. Ana escolheu por ele: fez-lhe as malas e mandou-o embora. E ele foi.
Soraia, pela primeira vez na vida, não conseguiu o que queria e isso enraiveceu-a. Ganhou ódio a Ana e jurou acabar com ela. Como podia ela ter-se negado a ela? Pior ainda, recusava-se a vê-la de todo. Ela havia de pagá-las!
Soube mais tarde pelo Paulo que a Ana se prestava ao sexo por obrigação. Fazer amor para ela era mais um fardo que cumpria com sacrifício. Era como se o seu prazer estivesse enclausurado num corpo fechado. Afinal, a Ana não a tinha desprezado a ela, Soraia. A Ana era apenas a sua antítese: a eterna virgem. E agora tinha-a perdido para sempre...
Anukis
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