18 outubro 2005

O mesmo céu



Martelou ruas e paralelepípedos sob um céu azul sujo, nuvens esfarrapadas.
Uma das nuvens, cama de algodão, lembrou-lhe lençóis amarrotados. Corpos enrolados.
Pensou se ele veria o mesmo céu. A mesma nuvem.
A mesma cama. Os mesmos corpos.

O corpo dela sobre o dele. As palavras molhadas ao ouvido. A fome nos olhos:
- Quero devorar-te, dizia com olhos e palavras.
O queixo encostado ao rosto dele. Subindo e descendo no rosto dele.
Depois a boca na boca. A boca nos olhos.
A boca na testa, e ele a esquecer pensamentos guardados por detrás da testa, sob os cabelos, sob a boca.

E ela a dizer:
- Quero devorar-te.
E ela a abrir as pernas. A prender o corpo dele entre as pernas. As mãos a apertarem-lhe os ombros. Os dentes nos mamilos.
E ele a contorcer-se sob o corpo, carne, nuvem.
E ele preso.
E ela abrindo-lhe as pernas. Agarrando-lhe as nádegas. Levantando-lhe as ancas.

- Quero devorar-te.
E a boca nas coxas. E ele voando num céu limpo, paraíso sem nuvens. Pássaro solto.
E ele na boca dela. E o grito impossível na boca dele.
...
Pensou se ele veria o mesmo céu. A mesma nuvem.


Foto: ëssëncë

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