Acordou cedo. Hesitou entre adormecer de novo na sua enorme cama forrada a seda ou acordar para a vida. O sol que batia na janela fê-la decidir-se.
Optou por uma manhã no ginásio, aturdindo o corpo e adormecendo a alma, nada como o cansaço forçado para espantar os fantasmas dos sonhos de todas as noites, em que se via sempre a afogar num abismo azul de negro.
Achava sempre ridículo aquelas passadeiras que marcavam quilómetros inventando estradas falsas e as bicicletas alinhadas, que nunca a levavam a lado nenhum. Ridículo, correr tanto e nunca sair do mesmo lugar… mas cumpria os rituais da moda.
Naquela manhã reparou na entrada de uma novidade. O rapaz da bomba de gasolina era a nova aquisição do espaço de culto dos corpos. Já reparara nele, quando pagava indiferente a gasolina e pedia um maço de tabaco.
Um corpo jovem e musculado, uma cor de chocolate morno, bebido em dias saborosos de chuva, era a memória que tinha deste rapaz que, por mero acaso, já lhe povoara algumas fantasias, que a acompanhavam na estrada, depois de atestar o depósito de gasolina.
No ginásio nada mais há a fazer do que caminhar e correr sem destino, olhar para os corpos que caminham alegres e esperançosos ao nosso lado e deixar fluir a imaginação.
Ela optou por olhar para o corpo cor de chocolate morno que se lhe oferecia às suas fantasias dos sábados.
Ele olhou para ela e reconheceu-a. Na bomba de gasolina era, “bom dia Sr. Doutora”, ali era um corpo sem mestrados. Ele sorriu-lhe, sem saber como a cumprimentar, apenas com um sorriso. Ela retribuiu o sorriso e agradeceu aos deuses pela democraticidade destes espaços de músculos e suor e sorrisos, e por não haver diálogos no seu filme.
Treinaram juntos durante algum tempo. Ela, sabendo que nunca chegaria ao fim da estrada, ele pensando como chegar a um aparelho que ficasse mais próximo da passadeira onde ela corria pelos corredores do tédio.
Trocaram olhares pelo espelho. Sorrisos e olhares. Ela pensou – “Se falas sou capaz de te matar, ou então nunca mais vou à tua bomba de gasolina”. Ela sentiu que ele olhava o seu corpo pequeno e torneado, sentiu o prazer dele em vê-la no justo fato de ginástica, despida do fato de doutora que lhe comparava o maço de tabaco diário e que deixava na loja um cheiro doce de perfume.
Ela observou o esforço dele mostrar a sua performance naquelas máquinas infernais. Viu a sua t-shirt empapar-se em suor e sentiu o aroma daquela pele embrulhada em chocolate morno…
O ginásio agora esvaziava-se. A hora de almoço aproximava-se.
Ela parou o treino. “Chega”, pensou, “Hoje gostava de chegar ao fim desta estrada feita de plástico”.
Passou por ele e sorriu. Tocou-lhe só de leve no braço suado e disse baixinho
- Espero-te na sauna.
Sabia que a sauna não era mista, ele teria de passar pelo balneário feminino, mas achou que valia o risco. Pensou – “Se não vieres, não passas de uma miragem no meio do deserto, mas também não deves saber o que é uma metáfora e não serei eu a ensinar-te”.
Despiu-se no balneário, deixou a água do duche abraçá-la em jactos mornos e depois entrou na sauna.
A porta abriu-se e ele entrou. Nu, tão nu como o horizonte ao fim do dia. Chegou até ela e abraçou-a. Ela deixou-se abraçar. Tentou beijá-la, mas ela tapou-lhe a boca com a mão. Não queria palavras, nem beijos. Como as putas. Com a outra mão tapou-lhe os olhos. Não queria ser vista. Como as sereias.
Ele pegou-lhe ao colo e ela entrelaçou as pernas no seu tronco. Sentiu o sexo dele, duro, erecto de encontro ao seu ventre. Sabia que não precisava de o conduzir. Ele encontraria o caminho. Ele penetrou-a com doçura e ela deixou-se afogar. Ele conduzia, acelerava o ritmo, percorria o prazer dela, aumentava a potência e ela mergulhava numa onda de vapor e de silêncio. O orgasmo dele foi intenso, abafado pela mão dela que ainda se mantinha na sua boca. Pô-la devagarinho no chão e tentou abraçá-la mais uma vez.
Ela disse num sussurro – “Agora sai.”
Ele saiu sem dizer uma palavra, atordoado pela surpresa. Ela deitou-se calmamente num dos bancos da sauna e masturbou-se com delicadeza.
Este orgasmo seria só seu, não lho oferecera.
Afinal, a estrada era dela. O abismo, também.
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