05 maio 2006

Policial

A princípio não percebi o que fazia aquele pénis na minha boca e aquele par de testículos na minha mão. Depois, vislumbrei que pertenciam àquele ser que vagamente recordava de copo na mão no meio do brilho e penumbra das luzes da discoteca e que agora insistia em me pressionar a cabeça para trás e para a frente de encontro ao seu emaranhado de pêlos púbicos. Percebi também que outro energúmeno de mãos firmemente alapadas às minhas nádegas usava a minha vagina como cabo de deslocação do seu teleférico, embora também me parecesse adepto do TGV.

Não é, Sãozinha, que eu tenha nada contra as actividades recreativas dos outros mas reconheço que me desagrada não decidir em quais participo. Que até me parece mesmo indelicado usar obnubiladores da consciência para desbloquear os nossos sistemas de segurança e assaltarem-nos o corpo como uma casa de proprietário ausente.

Neste entrementes, também me imaginei a apresentar queixa de violação na esquadra, assomando-me ao balcão, com o gajo de serviço a medir-me a maioridade e a vacinação e a questionar-me sobre a certeza da queixa e sobre as provas que deviam ser colhidas e validadas por um médico, perante a notória observação de alto a baixo de outros queixosos presentes e acompanhada pelo burburinho dos comentários de outros funcionários que vais ver que a gaja se chateou e agora quer fazê-lo pagar e que porra que agora não temos nenhuma gaja de turno para atender a mulher.

E como o que tem de ser, tem muita força, dei uma cordial dentada no nabo da frente, um coice nas bolotas do de trás e como um turbilhão alcancei as minhas roupas, abri a porta da rua e corri-me a vestir no elevador em deslocações sucessivas entre o solo e o último andar, até fugir daquele edifício para o Instituto de Medicina Legal.

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